5 razões para ver o novo filme russo sobre a 2ª Guerra ‘O Piloto: Uma Batalha pela Sobrevivência’

Cultura
BORIS EGOROV
Longa recém-lançado combina a epopeia de ‘Dunkirk’, de Christopher Nolan, com a atmosfera pesada de ‘O Regresso’. As filmagens incluíram uma aeronave de ataque ao solo Il-2 reformada, bem como lobos treinados.

1. Baseado em fatos reais de puro heroísmo

Dezembro de 1941. A Batalha de Moscou está a todo vapor. Uma aeronave de ataque ao solo soviética Il-2, capitaneada por Nikolai Komlev, atira contra uma coluna de veículos blindados alemães e acaba sob fogo pesado de sistemas antiaéreos e aviões de combate inimigos. O piloto soviético é atingido, consegue aterrissar em território inimigo e então é obrigado a empreender uma jornada difícil e perigosa de volta para casa através de densas florestas de inverno, em meio a diversas patrulhas alemãs e matilhas de lobos famintos.

O filme é baseado na história verídica de Aleksêi Maresiev, cujo avião de combate foi abatido em abril de 1942 na região de Novgorod. Ao longo de 18 dias, o piloto ferido teve que se arrastar de volta à URSS sozinho. Na época, os médicos conseguiram salvar sua vida, mas tiveram que amputar ambas as pernas. Mas nem isso acabou com a força de vontade de Maresiev: submetido a um treinamento extenuante com próteses, ele obteve o direito de mais uma vez sentar-se na cabine de um caça.

O personagem de Komlev no filme é uma composição de várias biografias heróicas, incluindo o próprio Maresiev e outros pilotos soviéticos que conseguiram retornar ao serviço ativo depois de perder as pernas e continuaram a enfrentar o inimigo nos céus. Suas histórias são brevemente apresentadas no final do longa.

2. Avião da Segunda Guerra foi usado nas filmagens

O Il-2 soviético tem um dos papéis principais em ‘O Piloto: Uma Batalha pela Sobrevivência’ – sem recorrer a efeitos visuais, os produtores do filme recorreram a um avião realmente usado durante a Segunda Guerra Mundial. Neste aspecto, lembra o ‘Dunkirk’, de Christopher Nolan, que também utilizou máquinas de guerra reais em seu filme.

No decorrer da missão de novembro de 1943, o Il-2 de Valentin Skopintsev – parte do 46º regimento aéreo de assalto da Força Aérea da Frota do Norte – foi atacado por caças inimigos e, depois de sofrer grandes danos, acabou sendo obrigado a pousar no gelo em um lago na região de Murmansk, onde mais tarde afundou. Passou quase 70 anos submerso, até que, em 2012, foi removido e reformado. Em 2017, o Il-2 subiu mais uma vez aos céus.

“Quando aquela coisa voou para filmarmos, nós caímos no choro – foi tão incrível”, diz Piotr Fedorov, que interpreta o protagonista do filme. “O contrato não me permitia pilotá-lo, então meu dublê, Vladímir Barsuk, foi no meu lugar – ele era o único que podia operar aquela máquina. Chegou esse cara, que tinha um aparelho com câmera capaz de filmar 360 graus. Nós a fixamos em um helicóptero e ela ficou voando e filmando o Il-2”, acrescenta.

Em dezembro de 1941 (o período histórico em que o filme se passa), a Força Aérea do Exército Vermelho possui aeronaves de ataque ao solo Il-2 de assento único; a variante com dois assentos (para um atirador) só entrou em produção em 1943. Quando questionado por que ‘O Piloto’ apresentou a versão do avião com dois assentos, o diretor Renat Davletiarov respondeu: “Havia cerca de 40.000 desses aviões feitos durante a guerra. Mas agora, só restam dois. Um deles está no Canadá – faz parte de uma coleção particular; e o outro está na Rússia. Eu não poderia recusar usar um Il-2 que funciona e dispara – ainda mais considerando que o Il-2, assim como o Katiucha e o T-34, são símbolos da 2ª Guerra. Então, apresentamos como um modelo experimental que em breve seria produzido em massa.”

3. ‘O Piloto’ é como ‘O regresso’ da Segunda Guerra Mundial

Davletiarov confessou que ‘O Regresso’, dirigido por Alejandro González Iñárritu e estrelado por Leonardo DiCaprio, foi uma das principais fontes de inspiração para ‘O Piloto’. Isso porque a história de Komlev não é simplesmente sobre os embates de caças no ar, mas uma batalha feroz pela sobrevivência em solo – contra os alemães e a selva.

“Como são os bosques russos no inverno? Se você está confinado em um bom resort com sua namorada, fazendo uma caminhada de esqui, é lindo. Se você está ferido, encharcado, com fome, é a morte. O rio, que você deve atravessar a pé, é a morte. Nada para mastigar, é a morte. Lobos famintos, morte. Um deserto gelado, onde, por trás de cada arbusto, a morte está à espreita”, disse o diretor.

4. Filmagens feitas em condições extremas

Os criadores tentaram tornar ‘O Piloto’ o mais realista possível: as filmagens foram feitas durante o inverno no deserto remoto da região de Novgorod – o exato lugar onde o avião de Maresiev pousou. O ator Piotr Fedorov teve que entrar repetidamente na água gelada, ficar por horas no vento de gelar os ossos e até comer peixe cru, congelado em blocos de gelo.

5. Lobos de verdade em cena

Os maiores adversários de Komlev em solo firme não foram soldados alemães, mas uma matilha de lobos selvagens que o perseguia implacavelmente. 

Para aumentar o realismo do filme, não foram usados cachorros – como se costuma fazer durante as filmagens –, mas lobos de verdade. 

Os lobos Shakira, Yukki, Drago e um cão-lobo da Tchecoslováquia (um cruzamento de lobo dos Cárpatos com pastor da Tchecoslováquia) chamado Sarkus foram trazidos do santuário animal Kachir, nos arredores de Moscou, para filmar na floresta da região de Novgorod. Os animais participaram de cenas importantes, com longas corridas e até simulando ataques a humanos. 

“Houve dificuldades todos os dias”, conta a adestradora de cães Anna Ponomareva. “Fosse o vento perto do lago, que tornava nossas vozes inaudíveis, e os lobos não ouviam nossos comandos. Ou Drago surtando e se recusando a atacar o humano. Uma loba acabou assumindo seu lugar no fim das contas. E toda cena de dentição também foi dela. Já os saltos foram executados por Sarkus. Não conseguíamos chegar a um acordo com os lobos.”

Em um dos trechos era preciso capturar um uivo de lobo furioso, mas os adestradores não conseguiram fazer com que os animais demonstrassem a emoção necessária. O problema foi resolvido apenas quando um pastor da Ásia Central idoso entrou em cena.

Ainda não há previsão de lançamento do longa no Brasil.

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