12 obras-primas do modernista russo Mikhail Vrúbel

"Demônio sentado"

"Demônio sentado"

Galeria Tretiakov
Precursor da vanguarda russa de fin-de-siècle, Vrúbel foi um verdadeiro gênio, mesclando Romantismo e Art Nouveau em um estilo inconfundível.

Como convinha a uma criança nobre, Mikhail Vrúbel (1856-1910) estudou diversas artes desde cedo. A pintura não era a única delas, e ele tempo e esforços equiparáveis na música.

Ele também amava literatura, e suas obras estão cheias de imagens inspiradas no folclore e na mitologia, em Shakespeare e nos poetas do Romantismo Goethe, Púchkin e Liérmontov. Quando jovem, Vrúbel adorava ópera e, mais tarde, faria muitos esboços para várias montagens.

Vrúbel.

Seu talento artístico foi notado pela primeira vez quando ele criou uma reprodução do afresco “O Juízo Final”, de Michelangelo, após ter visto uma cópia em exposição. O pai de Vrúbel contratou um professor de desenho para ele, mas não a história não foi adiante.

Vrúbel se formou na faculdade de direito da Universidade de São Petersburgo, trabalhou como tutor e levava um estilo de vida boêmio e bastante pândego. Foi apenas aos 24 anos que decidiu ingressar na Academia Imperial de Artes e se dedicar profissionalmente à arte. Seu primeiro pagamento e reconhecimento veio de sua grande restauração dos murais da Igreja de São Cirilo, em Kiev.

Vrúbel era um homem impulsivo, cheio de energia e paixão, assim como sua obra. Ele alternava entre trabalhar obsessivamente e cair em depressão e beber. A sociedade em geral não apreciava seu trabalho, descrevendo-o como decadente e até mesmo feio.

A deficiência física se somou à angústia mental aos 50 anos, quando ficou confinado a uma cadeira de rodas. Após longos períodos no hospital e alguns breves sinais de melhora, ele piorava, enlouquecendo cada vez mais.

Vrúbel morreu em 1910. Em seu funeral, o grande poeta Aleksandr Blok, seu fã, elogiou Vrúbel chamando-o de " mensageiro de outros mundos".

1. Demônio Sentado, 1890

Vrúbel nutriu a ideia e a imagem de seu Demônio por vários anos, e esta é uma das primeiras obras a mostrar seu estilo “cristalino”. Os traços largos, feitos com uma espátula especial, dão a impressão de que a pintura é um painel de mosaico - essa técnica sua foi influenciada pelos mosaicos das catedrais de Kiev, onde ele trabalhou.

A imagem foi inspirada no poema romântico “O Demônio”, de Mikhail Liérmontov, que conta a história de um anjo caído, vagando pela Terra, sem encontrar paz em lugar nenhum.

Vrúbel tinha sua própria ideia da figura central, que não representa o mal, mas sim o sofrimento e, ao mesmo tempo, é majestosa. Além disso, Vrúbel pintou uma série de ilustrações em aquarela para o mesmo poema.

2. O Julgamento de Páris, 1893

Em 1889, Vrúbel mudou-se para Moscou, onde conheceu o grande industrial, filantropo e amante da arte Sávva Mámontov, que mudou sua vida. O modernista e inovador Vrúbel ainda não tinha encontrado seu lugar ao sol, mas Mámontov tinha um faro especial para o talento artístico e contratou o artista para decorar sua mansão em Moscou.

Logo Vrúbel seria buscado por outros amantes da arte. Por exemplo, na casa da família Dunker, em Moscou, ele criou o incrível tríptico “O Julgamento de Páris”, que outros clientes inexplicavelmente recusaram.

3. A PrincesadosDevaneios, 1896

Esta enorme tela também foi encomendada por Sávva Mámontov para o pavilhão da Exposição Pan-Russa Industrial e de Arte, de 1896, em Níjni Nôvgorod. No entanto, a Academia Imperial de Artes não permitiu que a pintura fosse exibida.

Assim, Mámontov encomendou uma cópia da pintura em mosaico para decorar a fachada do Hotel Metropol, bem em frente ao Teatro Bolshoi e ao lado da Praça Vermelha, cuja construção o patrono das artes e industrial financiou no início do século 20.

A pintura em si foi mantida por muitos anos nos depósitos do Teatro Bolshoi, antes de finalmente ser transferida para a Galeria Tretiakóv, em 2007. O prédio teve que ser reconstruído especialmente para abrigá-la, e uma sala inteira dedicada a Vrúbel surgiu como resultado.

4. RetratodeSavvaMamontov, 1897

Vrúbel pintou poucos retratos de pessoas reais, mas um deles foi o de seu benfeitor, Sávva Mámontov. A imagem escura e tortuosa reflete o drama da vida real em que o industrial se encontrava.

Filantropo proeminente, ele foi injustamente acusado de peculato. Logo depois de pintado o retrato, ele foi preso e julgado, mas acabou absolvido. Isso, porém, não evitou sua ruína financeira, que o levou a vender seus bens, entre eles, muitas obras de artistas renomados.

5. Lareira “Volga Sviatoslavitch e Mikula Selianinovitch”, 1899

Sávva Mámontov recebia todo um círculo artístico em sua propriedade Abramtsevo. Vrúbel passava por lá com frequência e chegou até a montar uma oficina de cerâmica ali, onde, com seus assistentes, transformava seus numerosos esboços em ladrilhos de fogão, painéis de majólica, esculturas e outros elementos decorativos, predominantemente com motivos de contos de fadas e mitológicos.

Esta obra inspirada em tema folclórico venceu medalha de ouro na Exposição de Paris de 1900. Uma cópia foi feita para a Casa Bajanov, em Moscou, totalmente decorada em estilo Art Nouveau.

6. Pan, 1899

O “estilo russo” estava muito em voga na virada do século 20, e Vrúbel estava entre os que buscavam reviver o folclore nacional, tanto na cerâmica quanto na pintura.

Embora este quadro tenha sido pintado sob a influência da história Santo Sátiro, do escritor francês Anatole France, Vrúbel transpõe o antigo personagem mítico grego para solo russo. Seu Pan é mais como um silvano, um espírito sobrenatural da floresta, à espreita, contra o fundo de uma paisagem tipicamente russa.

7. Prato Sadko, 1899-1900

Vrúbel projetou o cenário para uma produção da ópera “Sadko”, de Nikolai Rímski-Korsakóv para o teatro privado de Sávva Mámontov. Esse conto de fadas do folclore russo inspirou o artista a criar toda uma série de esculturas em majólica dos personagens da ópera: Sadko, o Tsar do Mar, a Princesa. Este suntuoso prato retrata esses e outros habitantes do mundo subaquático.

8. A Princesa Cisne, 1900

Como o Pan, a Princesa dos Cisnes é outra criatura dos contos de fadas que parece existir entre mundos diversos. Ela é ao mesmo tempo uma linda menina e um pássaro, e o artista busca capturar o momento dessa metamorfose.

O personagem foi interpretado pela esposa de Vrúbel, a cantora Nadêjda Zabela-Vrúbel, em outra ópera de Rimski-Korsakóv, “O Conto do Tsar Saltan”, baseada no poema homônimo de Púchkin. Mas muitos viram nesta imagem uma incrível semelhança com uma mulher casada a quem Vrúbel amava sem ser correspondido antes do casamento.

9. O Demônio Caído, 1902

Depois de seu demônio sentado, Vrúbel pintou “O Demônio Voando”, que sobrevoa imperiosamente o mundo, e então terminou o ciclo com este terceiro demônio, tragicamente morto.

A figura fraturada tem ao fundo as montanhas do Cáucaso. A criação desta imagem levou Vrúbel a outro colapso e hospitalização. Apesar de ter produzido muitos esboços anteriormente, ele fazia alterações infinitas na tela já pronta.

A mulher de Vrúbel se lembrava de como observava, horrorizada, as mudanças no demônio - em alguns dias seu rosto estava com medo, em outros expressava “uma profunda melancolia e uma beleza recém-descoberta”.

10. Serafim de Seis Asas, 1904

Depois do demônio de Liérmontov, que tanto o atormentou, Vrúbel novamente se transformou em uma criatura complexa: desta vez, o herói do poema de Aleksandr Pushkin, “O Profeta” — o anjo inspirador Serafim, o emissário de Deus semelhante ao fogo.

Ele empunha uma espada, segundo Púchkin escreve, e fende o peito do narrador entorpecido, arranca seu coração trêmulo e enfia uma brasa na ferida aberta, transformando-o em um profeta que queimará corações humanos com a palavra.

O artista pintou o quadro já com a saúde muito debilitada, atormentado por alucinações. Assim como com seu demônio, ele estava perpetuamente insatisfeito com as características faciais no quadro e as refazia o tempo todo.

11. Concha de Pérola, 1904

Vrúbel era seduzido pela iridescência da madrepérola, e foi isso que tentou retratar por meio da experimentação de cores. As duas princesas do mar surgiram na pintura quase por acidente, quando Vrúbel supostamente as “avistou” em um de seus esboços. Elas complementam a imagem, transformando a concha de ostra em uma gruta mágica.

12. Apósoconcerto, 1905

Vrúbel pintou muitos retratos de sua mulher, a famosa cantora Nadêjda Zabela-Vrúbel. Esta é uma das últimas pinturas do artista, que infelizmente permaneceu inacabada. Ele a retrata cansada, reclinada em uma poltrona perto da lareira.

A exposição das obras de Mikhail Vrúbel está em cartaz na Galeria Tretiakóv, em Moscou, até 8 de março de 2022.

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