Os países que abrigam tesouros da Rússia tsarista

Hillwood Museum; National Gallery of Art; Queen Elizabeth II collection
Após a Revolução de Outubro de 1917, o governo soviético quis reerguer a economia enquanto apagava os últimos vestígios do antigo regime. Como resultado, toneladas de joias exclusivas, ícones e obras de arte que antes pertenciam à família tsarista deixaram o país — muitas vezes, a preço de banana.

Nos primeiros dias, a Revolução trouxe caos e anarquia. O povo simples começou a pilhar e destruir palácios reais, mansões nobres e igrejas. Mas as novas autoridades coibiram os saques e a propriedade da Igreja, do tsar e da aristocracia foi nacionalizada. Os bolcheviques se viram na posse de riquezas incalculáveis ​​(somente os diamantes tsaristas somavam a 51.479,38 quilates). Algumas delas logo seriam vendidas.

Funcionários da Administração Estatal de Metais Preciosos e Pedras (Gokhran) com joias da coroa russa. Moscou, 1923.

As joias russas pelo mundo: Estados Unidos

Entre 1933 e 1937, a mulher do embaixador norte-americano na URSS, Marjorie Post, comprou um grande número de itens tsaristas em uma loja de Moscou. Em 1968, ela transferiu toda essa extensa coleção de antiguidades para sua propriedade em Hillwood, perto de, Washington DC. Hoje, o local abriga um dos maiores museus de antiguidades russas nos EUA.

A coleção inclui, entre outras coisas, uma preciosa tigela de 1791 e um par de vasos da Fábrica de Porcelana Imperial datado de 1836.

Vasos de porcelana imperial.

Em 1966, em um leilão da Sotheby's, Marjorie Post comprou a coroa imperial de 1884 dos Romanov, feita de prata, diamantes e veludo. Sua jornada até Hillwood foi tortuosa: em 1926, o tesouro foi vendido ao antiquário Norman Weiss e, no ano seguinte, foi comprado, em um leilão da Christie's em Londres, por outro antiquário para a Galeria Wartski.

A coroa imperial da família Romanov.

O cromolitográfico "Retrato de Suas Majestades Imperiais", do livro “Descrição da Sagrada Coroação de Suas Majestades Imperiais, Imperador Alexandre II e Imperatriz Maria Alexandrovna de toda a Rússia (1856)”, que tinha sido mantido na biblioteca de Alexandre II, foi vendido à Biblioteca Pública de Nova York.

Retrato de Suas Majestades Imperiais.

Os preciosos ovos de Páscoa de Fabergé foram adquiridos por vários compradores. Dez foram vendidos para a Hammer Brothers Gallery, em Nova York — entre eles, o ovo em miniatura giratório abaixo. Em 1945, ele foi comprado por Lillian Thomas Pratt, dono de uma das maiores coleções de ovos Fabergé. Ela doou seus tesouros para o Museu de Belas Artes da Virgínia, onde eles ficam agora.

Ovo Fabergé de miniaturas giratórias.

Muitas pinturas da coleção do Hermitage foram compradas pelo estadista e industrial norte-americano Andrew Mellon. Posteriormente, elas formaram a base da National Gallery of Art, em Washington DC, da qual Mellon foi o fundador e principal investidor. A galeria em Washington abriga hoje, por exemplo, A Adoração dos Magos, de Sandro Botticelli (início da década de 1480).

Sandro Botticelli. A Adoração dos Magos.

A Madonna de Alba, de Rafael (de cerca de 1510) também está lá. Os bolcheviques a venderam pelo valor recorde de mais de US $ 1,7 milhão.

Rafael.

Eles nacionalizaram as vastas coleções particulares de comerciantes e patronos russos que tinham comprado arte ocidental, incluindo muitas obras impressionistas e de vanguarda. Da coleção de Morôzov, por exemplo, o colecionador de arte e empresário Stephen Clark comprou “Café Noturno”, de Vincent Van Gogh, por meio da Knoedler & Co Gallery e, mais tarde, doou-o para a Yale University Art Gallery.

Vincent Van Gogh. “Café Noturno.”

Reino Unido

Os ovos de Páscoa Fabergé “Mosaico” e “Cesta de Flores Silvestres” foram vendidos aos Windsors na década de 1930, quando, ao lado de outras joias tsaristas, passou a figurar na coleção da Rainha Elizabeth II.

Ovos Fabergé: “Mosaico” (esq.) e a “Cesta de Flores Silvestres”.

Esta presilha de cabelo ou “aigrette”, em forma de ramo florido, das décadas de 1760 a 1970, foi chamada até mesmo pelas autoridades soviéticas de "uma das melhores obras do século 18". Foi vendida na Christie’s em 16 de março de 1927. Tanto o “aigrette” quanto dois alfinetes incrustados de esmeralda do século 18 fazem parte agora na coleção de S. J. Phillips em Londres.

Presilhas.

A Biblioteca Britânica abriga o Codex Sinaiticus do século 4, doado pelo Mosteiro grego de Santa Catarina ao tsar Alexandre II em 1859.

Página do Codex Sinaiticus.

França

Muitas pinturas da coleção do Hermitage foram parar no Louvre. Elas foram transferidos para o museu de Paris por colecionadores franceses da Sociedade dos Amigos do Louvre, que compraram tesouros russos dos bolcheviques. Foi assim que surgiu ali “Paisagem com castelo”, de Rembrandt, por exemplo, comprada marchand Georges Wildenstein.

Rembrandt. “Paisagem com castelo.”

A Sociedade de Amigos do Louvre comprou para o museu um “apauldron” (armadura de ombro) com uma cena de “Ressurreição de Cristo”. Fabricado na Lorena, França, por volta de 1170-1180, ele era guardado antes da Revolução na sacristia da Catedral da Assunção, em Vladímir.

Peça de ombro de armadura “Ressurreição de Cristo”.

Alemanha

Quando os bolcheviques começaram a atacar a religião, eles confiscaram todos os utensílios da Igreja feitos de metais preciosos, derreteram sinos e venderam ícones. Assim, no final dos anos 1920, o ícone da “Virgem com o Menino” do século 15 chegou a Bruxelas com um casal de sobrenome O'Meara, antes de ser comprado pelo emigrado russo Alexander Popov, que o levou consigo para Paris.

Ícones da “Virgem com o Menino” (esq.) e “Santo Imperador Constantino e Sua Mãe Helena”. O ícone de Santa Ágata também está lá.

Em 1966, a antiguidade foi transferida para o Museu de Ícones na cidade alemã de Recklinghausen. O “São Imperador Constantino e Sua Mãe Helena, ícone de Santa Ágata” também está ali.

Suécia

A coleção do Museu Nacional de Estocolmo contém ícones que representam o Apóstolo Pedro e o desconhecido Grande Mártir do final do século 13 ao início do século 14. Na década de 1930, ele foi comprado pelo diplomata sueco enviado a Moscou, Wilhelm Assarson.

Ícone do Apóstolo Pedro e do desconhecido Grande Mártir.

Muitos ícones foram doados ao Museu Nacional de Estocolmo pelo banqueiro Olof Aschberg. Ele simpatizava com os bolcheviques desde o início, e os ajudou a fundar o Banco Comercial Russo. No final dos anos 1920, com a aprovação e mediação do governo soviético, ele removeu cerca de 250 ícones da Rússia. Entre eles, estavam a “Mãe de Deus e João Batista”, do século 17.

Mãe de Deus e João Batista.

Noruega

O ícone da “Introdução ao Templo da Abençoada Virgem Maria”, do século 16, foi comprado pelo consultor comercial norueguês Richard Zeiner-Henriksen. De sua coleção, em 1957, ele foi transferido para o Museu Nacional de Arte, Arquitetura e Design de Oslo.

Ícone da “Introdução ao Templo da Abençoada Virgem Maria”.

Holanda

Muitas pinturas dos mestres holandeses da coleção Hermitage "voltaram para casa", adquiridas pelo Rijksmuseum de Amsterdã. Entre eles, estavam várias obras de Rembrandt, incluindo “A negação de São Pedro” e “Tito como monge”, da década de 1660.

Rembrandt. “A negação de São Pedro.”

Suíça

Entre 1928 e 1931, a Biblioteca Pública Estatal (hoje, Biblioteca Estatal Russa) descartou uma Bíblia de Gutenberg do início da década de 1450. Hoje, ela fica abrigada na Fundação Martin Bodmer, na Suíça.

Bíblia de Guttenberg da Fundação Martin Bodmer.

Portugal

Uma grande coleção de tesouros tsaristas encontra-se no Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Entre 1929 e 1930, o industrial do petróleo de origem armênia que dá nome ao museu comprou muitas telas do Hermitage, incluindo “Retrato de Helena Fourment”, de Rubens, “Pallas Atenas” e “Retrato de um velho”, de Rembrandt, “A Anunciação” de Dieric Bouts, “Cortando as Árvores em Versailles (Le Carpet Vert)”, de Hubert Robert, e muitas outros.

Hubert Robert. “Cortando as árvores em Versalhes.”

A coleção também abriga a escultura em mármore de dois metros “Diana”, de Jean-Antoine Houdon.

Jean-Antoine Houdon. “Diana.”

Após longas negociações com o governo soviético, Gulbenkian comprou também uma coleção de aparelhos de louças da era Luís 14, feitos por artesãos franceses para a corte imperial russa.

Conjunto de louça.

Austrália

Em 1933, a obra-prima de Giovanni Battista Tiepolo “O Banquete de Cleópatra” (1743-44) cruzou o oceano até Melbourne. A pintura, comprada por Catarina, a Grande, para o Hermitage, foi adquirida pela fundação do patrono australiano Alfred Felton para a Galeria Nacional de Victoria, onde permanece até hoje.

Giovanni Battista Tiepolo. “O Banquete de Cleópatra”

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