Яков Протазанов/Межрабпом-Русь,1924
Iakov Protazanov/Mejrabpom-Rus,1924Aelita - A Rainha de Marte(1924), Iakov Protazanov
Este filme extravagante de ficção científica sobre uma missão no espaço e guerras interplanetárias estava muito à frente de seu tempo. Nesta adaptação livre do romance homônimo de Aleksêi Tolstói, cenas vívidas da vida cotidiana em Moscou nos primeiros anos das reformas econômicas soviéticas são intrincadamente entrelaçadas com cenas de ficção científica sobre um voo para Marte e um encontro com a governante do Planeta Vermelho, Aelita. Como era de se esperar do cinema revolucionário, uma das tramas gira em torno de uma tentativa de rebelião de um segmento “proletário” da população marciana contra seus opressores.
Embora os críticos de cinema soviéticos não tenham apreciado a coragem artística de Protazanov, a comunidade cinematográfica global unanimemente reconheceu “Aelita - A Rainha de Marte” como um clássico. Segundo o escritor de ficção científica americano Frederik Pohl, o cinema soviético só produziu um filme espacial à altura de Aelita meio século depois, com o lançamento de “Solaris”, de Tarkóvski.
O Encouraçado Potemkin (1925), Serguêi Eisenstein
Junho de 1905, Império Russo. Os marinheiros de um navio de guerra da Frota do Mar Negro iniciam uma revolta: depois de receberem uma sopa com carne podre, eles se recusam a comê-la, e seus líderes são condenados à morte. A indignação pela carne rapidamente se transforma em uma revolta contra o imperialismo, e o encouraçado “foge” do esquadrão, recusando-se a servir na Marinha Imperial.
O filme de Eisenstein, baseado em acontecimentos reais, tornou-se um dos filmes mais citados de todos os tempos. A obra-prima que Eisenstein, aos 27 anos, foi contratado para fazer para o 20º aniversário da primeira revolução russa, revelou-se revolucionária não apenas em sua forma, mas também em sua trilha: a partitura foi escrita por Edmund Meisel, um compositor futurista radicado em Berlim. Após sua primeira exibição no Teatro Bolshoi, o filme catapultou a União Soviética para a lista dos principais países da cinematografia e se tornou um exponente da propaganda soviética – tão poderosa era sua linguagem cinematográfica original. Um exemplo é a bandeira vermelha pintada à mão que aparece em mais de uma centena de cenas: na era do cinema em preto e branco, ela teve um efeito impressionante.
A Mãe (1926), Vsevolod Pudovkin
Outro titã do cinema mudo soviético foi Vsevolod Pudovkin. Recém-chegado ao mundo do cinema, Pudovkin desenvolveu a nova forma de arte de modo completamente diferente da maioria de seus veneráveis contemporâneos. Em 1927, Vsevolod dirigiu “A Mãe”, baseado no romance de Maksim Górki, que retrata uma revolta de proletários e a história de uma família. Sua principal técnica para criar caracterizações não foi a atuação, mas a edição, o que motivou a famosa citação sobre Pudovkin: “Ele fez no cinema o que Dickens fez nos romances”.
Em 1978, os críticos de cinema classificaram “A Mãe” como número 3 na lista dos 100 melhores filmes da história do cinema. Na época, o membro fundador da Motion Picture Academy Douglas Fairbanks declarou, que, após “O Encouraçado Potemkin”, teve “medo de assistir a filmes soviéticos porque pensei que Potemkin fosse um caso isolado. Mas agora estou convencido de que a URSS é capaz de produzir filmes excepcionais e que, cinematograficamente, ‘A Mãe’ está entre os melhores”.
Um Homem com uma Câmera (1929), Dziga Vertov
Mesmo no período da vanguarda revolucionária, Dziga Vertov se destacou por seu radicalismo. Quando foi lançado, há 91 anos, “Um Homem com uma Câmera” foi atacado pela crítica e rejeitado pelo público, que o considerou chocante. Cada um dos filmes de Vertov na época – Cinema Olho, A Sexta Parte do Mundo e outros – era uma tentativa de aniquilar o cinema tradicional e criar uma nova ótica. E o documentário “Homem com Câmera” virou o ponto culminante desses experimentos.
A silenciosa compilação de cenas da vida urbana de uma pessoa comum na URSS, das quais algumas duram apenas um segundo, demonstrou toda a gama da busca artística de Vertov por uma nova linguagem cinematográfica – da câmera lenta à dupla exposição. Com o tempo, o filme se tornou uma espécie de manifesto e um guia prático para cineastas de todo o mundo. De fato, é exatamente isso que Vertov pretendia alcançar, tendo escrito nos créditos: “Este trabalho experimental visa a criar uma linguagem do cinema verdadeiramente internacional e absoluta baseada na sua separação total da linguagem do teatro e da literatura”.
Terra (1930), Aleksandr Dovjenko
“Terra” é o primeiro filme soviético sobre coletivização. Embora a trama seja impulsionada por um conflito de classes entre os cúlaques (camponeses ricos) e os pobres, a ideia era representar a mudança colossal na ordem mundial: a transição de uma comunidade agrícola para a industrialização. “As coisas nunca mais serão como antes” – a anotação de Dovjenko no roteiro captura totalmente o ‘leitmotiv’ do filme.
Um vilarejo soviético comum recebe seu primeiro trator, que abrirá uma fronteira simbólica entre as terras privadas e coletivas; a aldeia, que não presenciara nenhuma mudança por décadas, viverá uma série de eventos dramáticos.
Para Dovjenko, como para muitos de seus contemporâneos, a revolução foi um evento edificante, um ponto de partida para mudanças há muito tempo esperadas. É por isso que seu filme está repleto de rejeição aos símbolos do passado, incluindo a religião tradicional. Mas nem mesmo seu zelo ideológico salvou “Terra” das críticas no país. A versão completa do longa só foi lançada 40 anos depois: tudo por causa do naturalismo que a censura soviética considerou inaceitável. Em uma das cenas, por exemplo, os camponeses enchem o tanque do trator com urina, “elevando-o” à condição de gado por meio de um ritual pagão, enquanto em outra, uma noiva nua chora o luto pelo marido assassinado. No Ocidente, porém, o filme acabou sendo reconhecido como um dos mais poéticos da história do cinema. Em 2015, a UNESCO incluiu “Terra” na lista das obras-primas do cinema mundial.
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