5 escritores russos subestimados e por que você deveria rever seus conceitos sobre eles

Sputnik, A. Less/ ТАСС, Georgy Trunov/Wikipedia, Pixabay
Os nomes deles estão sendo lentamente esquecidos, mas queremos ressuscitá-los, e aqui está o motivo!

1. Mikhaíl Lérmontov

Por que é subestimado: não é tanta gente que conhece o Lérmontov prosador.

Quem gostará: quem adora mergulhar no mundo amargo dos oficiais do exército russo exilados.

Para a maioria dos leitores, Mikhaíl Lérmontov é conhecido principalmente como poeta, e poucos sabem que ele é o autor do primeiro romance realista russo, “O Herói do Nosso Tempo”. O enredo é maior e mais cheio de reviravoltas que um filme de Tarantino.

Membro do clã Stolipin, Lérmontov era parte de uma das famílias russas mais influentes de seu tempo e tinha relações de sangue próximas com os Romanov. Aos 23 anos de idade, ele entrou para a Guarda Real, mas, depois de três anos, foi exilado para o Cáucaso devido a seu poema "Morte do Poeta", escrito para honrar a morte de Púchkin e contendo versos que criticavam o governo e o tsar.

Quase imediatamente após seu retorno, ele foi exilado novamente por participar de um duelo. A experiência de Lérmontov no Cáucaso lhe forneceu material para o romance, que é em grande parte autobiográfico.

Amargo, cínico e de uma atitude inexpressiva, Petchorin, o protagonista do romance, é um dos primeiros heróis dândis da literatura russa. Suas maneiras impecáveis ​​e bravura fazem dele um nobre ideal que despreza a morte e se mantém indiferente entre os ignorantes que o cercam.

A principal faceta do romance é sua composição não linear, revolucionária para a época - o romance consiste em cinco histórias entrelaçadas que se alternam no tempo, o que faz de sua leitura emocionante.

2. Mikhaíl Saltikóv-Schedrín

Por que é subestimado: por sua escrita complicada, volumosa e assuntos obscuros.

Quem gostará: quem não tem medo do verdadeiro terror russo.

Mikhaíl Saltikóv, cujo sobrenome Schedrín é seu pseudônimo, era a personificação de todas as ansiedades e patologias da pátria. Talentoso filho de um velho nobre, ele trabalhou para o governo ao mesmo tempo em que escrevia contos.

Mas, depois da revolução francesa de 1848, Saltikóv foi enviado para servir na cidade provincial de Viatka porque suas obras literárias eram consideradas perturbadoras. Em Viatka, ele viu a vida russa em toda a sua monstruosidade e se tornou seu principal bardo.

O ritmo tranquilo e suave de contar histórias de Saltikóv funciona como uma ferramenta precisa para contar histórias horripilantes. Em “A família Golovliov”, vemos uma alegre família de proprietários de terras revelar pouco a pouco sua natureza infernal: uma mulher que oprimiu o marido até a insanidade, além de seus confrontos com o filho mais velho, o que leva os dois filhos alcoólatras ao suicídio por meio da recusa de pagar suas dívidas.

Von Trier certamente tirou alguma inspiração para “Dogville” deste romance. Um homem amargo com a própria vida, Saltikóv conseguiu escrever sobre essas situações sórdidas com uma boa dose de humor negro, o que mantém o leitor a par do absurdo russo.

3. Gaitô Gazdánov

Por que é subestimado: não recebeu grandes prêmios literários e foi ofuscado por outros escritores que emigraram, como Búnin e Nabôkov.

Quem gostará: os amantes de filmes noir, de Albert Camus e da vida noturna de Paris.

Gaito Gazdanov era descendente de uma família bem de vida da Ossétia. Ele não passou muito tempo na Rússia. Aos 17 anos, ele fugiu por causa da Revolução e, em 1923, mudou-se para Paris, onde sofreu todas as dificuldades comuns a um imigrante: trabalhou como carregador, consertou trens e foi metalúrgico em uma fábrica da Citroën.

Ao mesmo tempo, ele pôde estudar letras na Sorbonne. Em 1928, ele começou a trabalhar como motorista de táxi e isso lhe rendeu muito material para a prosa. Ele continuou dirigindo seu táxi até 1952.

Seu romance mais notável, “Notchníe dorógui” (“Caminhos noturnos”), de 1941, resume a vida dos emigrados russos muito melhor do que a prosa de Búnin ou Nabôkov. Ricos e respeitados, os dois viam a vida na emigração como uma espécie de paraíso, um lugar e tempo para reviver os dias da Velha Rússia.

Gazdánov, ao contrário, contava a vida da perspectiva de um homem pobre. Perdidos, desiludidos e tentando sobreviver, seus personagens oferecem um vislumbre de como era a vida da maioria dos russos que fugiram da Revolução.

LEIA TAMBÉM: Tudo o que você sempre quis saber sobre literatura russa (e nunca teve para quem perguntar)

Foi só no final dos anos 1940 que Gazdanov pôde passar a viver de sua criação literária. Ele trabalhou até sua morte também em uma estação de rádio, onde fazia um programa sobre literatura russa.

4. Ivan Búnin

Por que é subestimado: por causa de suas muitas alusões de temática russa difícil de entender para estrangeiros.

Quem gostará: aqueles que anseiam pelo romantismo russo de um passado há muito perdido.

Outro escritor que compartilhava da ideologia dos Brancos e emigrou, Búnin também ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, em 1933, e capturou a perspectiva dos nobres sobre a queda do Império Russo.

Descendente de uma família nobre mediana, ele iniciou seus estudos literários ainda cedo e, mais tarde, trabalhou como jornalista por anos. Graças a esta experiência, sua linguagem é muito precisa.

A Revolução forçou Búnin a fugir da Rússia, já que ele não se encaixaria na organização bolchevique, que achava abominável. Na França, onde se estabeleceu, teve tempo de relembrar e criar um dos romances mais emocionantes sobre a Velha Rússia “Jízn Arsiênieva” (em tradução livre, “A Vida de Arsiêniev”), um raro exemplo de “romance de formação” modernista.

O livro rendeu a Búnin o Prêmio Nobel de Literatura, e depois disto ele escreveu “Aleias escuras”, uma coletânea de contos que poderia facilmente fazer frente a “Dublinenses”, de James Joyce, e que retrata uma visão romântica e nostálgica da realidade russa.

5. Varlám Chalámov

Por que é subestimado: foi ofuscado por Soljenitsin como “escritor da Gulag”.

Quem gostará: quem tiver curiosidade de saber como as pessoas comuns morriam (ou, mais raramente, sobreviviam) nos campos de trabalhos forçados soviéticos.

Soljenítsin não foi o único escritor russo que cumpriu pena no Gulag e escreveu sobre isso. Varlám Chalámov, que terminou seus dias em um asilo (assim como um de seus escritores favoritos, Gustav Flaubert), passou quase 20 anos em campos de trabalhos forçados.

Ele recebeu três sentenças por agitação antissoviética, e o governo tentou destruí-lo, mas falhou. Chalámov cumpriu sua primeira sentença no norte da Rússia, depois trabalhou nas minas de ouro em Kolimá em condições terríveis que levaram muita gente à morte.

Em 1956, porém, Chalámov voltou a Moscou e decidiu escrever sobre a pena nos campos, custasse o que isto fosse custar.

Muita gente o considera apenas um “escritor do Gulag”. Mas, como Chalámov costumava dizer, “escrevo sobre o campo tanto quanto Saint-Exupéry escreve sobre o céu ou Melville sobre o mar. Minhas histórias são conselhos para o homem, sobre como se comportar em multidão…”

Em “Contos de Kolimá”, sua principal coleção, Chalámov não poupa o leitor quando relata o trabalho duro e letal como única alternativa para não congelar até a morte; sobre os guardas do campo, que tiravam fortunas do trabalho escravo dos condenados; sobre os burocratas do campo que se tornaram governantes onipotentes dominando os condenados silenciosos e sem nome.

Chalámov não esconde os nomes reais de seus personagens: como um homem implacável que reprova tudo isto, ele queria que suas histórias sempre assustassem seus leitores, lembrando-os sempre sobre as vidas perdidas que poderiam ter sido esquecidas para sempre, não fosse por ele e sua caneta.

Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.

Leia mais

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies