Na última sexta-feira (7), Vladímir Weisberg teria completado 95 anos de vida. Hoje considerado "o Morandi russo", na juventude, todas as quintas-feiras, como lembram seus contemporâneos, Weisberg caminhava e estalava os assoalhos das galerias de arte de Moscou.
Ele não foi aceito na escola de arte, por isso estudava desenho sozinho em lugares diversos – na verdade, assim como seu ídolo, Cézanne.
Inspirado pelas obras de outros e deparando-se com estilos bem diferentes, ele acabou desenvolvendo seu próprio traço e tornando-se um dos mais proeminentes praticantes da "arte não oficial" soviética.
Do hospício ao cavalete
A juventude de Weisberg foi tumultuada: no auge da Guerra Civil Espanhola, ele tentou fugir da URSS para a Espanha para lutar pelos republicanos esquerdistas contra Franco. Mas ele foi preso no porto de Odessa quando tentava embarcar em um navio e enviado diretamente a um hospital psiquiátrico de Moscou.
Com a viva vontade de guerrear que tinha, ele estava desesperado por ação na linha de frente quando a Segunda Guerra Mundial começou. Mas, segundo seu amigo e também artista Valentín Vorobiôv, “o jovem desequilibrado foi declarado inapto para a guerra e enviado para cavar valas antitanques”.
Ali, Weisberg se viu novamente em uma maré de azar: sofreu uma concussão em um bombardeio e seu estado mental piorou, sendo enviado novamente para o hospital.
Em 1942, o “jovem emagrecido e deprimido”, segundo Vorobiôv, matriculou-se em aulas de desenho, que continuaram durante a guerra.
Esculpindo um caminho
Depois da guerra, Weisberg tentou se matricular no Instituo de Arte Surikov, em Moscou, mas foi rejeitado. Ele passou longos anos vagando pelos estúdios de artistas não oficiais de Moscou. Ali, estudou sozinho técnicas artísticas e voltava às próprias obras um olhar crítico.
Ele ficava sentado horas a fio na frente a uma composição até ficar zonzo. Cada milímetro importava para ele, literalmente.
Durante uma dessas sessões, ele chegou à conclusão de que a cor era uma interferência e “fisiologicamente repugnante”. Assim, ele terminou com ela em algumas obras, dando origem a sua marca registrada, o “branco sobre branco” – sem nada que fosse supérfluo, apenas uma celebração de silhuetas obscuras e espaço.
Infelizmente para ele, alguns trabalhos exigiam cores. “Dentro de mim há um senso de verdade. Não posso usar cor. É uma luta eterna”, disse em entrevista à historiadora de arte Ksênia Murátova.
Em 1963, críticos e especialistas ignoraram o primeiro “branco sobre branco”, classificando-o como cópia do artista italiano Giorgio Morandi. Mas Weisberg provavelmente nunca havia visto uma obra de Morandi. “Moscou toda correu para ver o novo 'branco' de Weisberg”, escreveu Vorobiôv.
Fama mundial
Um mestre da arte “não oficial”, que nunca pintou no estilo do realismo social com seus sorridentes camponeses das fazendas coletivas e trabalhadores urbanos torneados, no final da década de 1960, Weisberg tinha se tornado membro da União dos Artistas da URSS.
A afiliação permitia, pelo menos, que ele ganhasse a vida com pagamentos estatais. Além disso, apesar de nunca ter tido uma educação artística formal, ele passou a ensinar pintura.
Na esteira disto tudo, a primeira exposição individual do artista autodidata ocorreu não em sua cidade natal, Moscou, mas na distante Paris. Infelizmente, Weisberg não pôde estar lá para testemunhar o próprio êxito: a exposição ocorreu em 1984, e ir para o exterior era uma missão cheia de dificuldades e entrevistas da KGB. Vorobiôv conta que Weisberg estava com medo de ser investigado de perto pelas autoridades.
Foi só em 1988 que a URSS realizou a primeira exposição individual de Weisberg. Mas mais uma vez o artista não estava lá para vê-la. Como recorda Vorobiôv, no dia em que Weisberg morreu, em 1º de janeiro de 1985, Moscou, como em luto, estava coberta por uma camada branca e profunda de neve.
Atualmente, Moscou tem uma exposição de Weisberg em cartaz na importante galeria In Artibus, que pode ser visitada até 28 de julho de 2019. Para mais informações, visite o site: inartibus.org.