As 4 principais conclusões filosóficas tiradas pelos russos

Photo V. Lauffert, 1859
Os russos, com sua propensão à autorreflexão e à busca pelo sentido da vida, devem ter chegado a profundas revelações filosóficas, não é mesmo? Veja o que saiu de todo este raciocínio!

1. Não pertencemos nem ao Ocidente, nem ao Oriente. Somos uma nação à parte!

Quem chegou a esta conclusão foi um amigo próximo do poeta mais amado da Rússia, Aleksandr Púchkin, que era também membro em posição de chefia na maçonaria da Rússia, Piotr Tchaadaiev.

É verdade também que, devido a esta ideia, ele foi declarado oficialmente louco por ordem pessoal de Nikolai 1°. Por um ano, o filósofo passou por exames  médicos todos os dias para monitorar sua saúde mental.

Tchaadaiev passou, assim, um ano sob prisão domiciliar e, mesmo depois de liberado, ainda ficou proibido de escrever qualquer coisa.

Mas a ideia da exclusividade russa acabou tendo vida longa. Tchaadaiev, por sua vez, retirou-a, na verdade, de um contexto negativo: ele criticava muito a Rússia e considerava que ela existisse apenas para "ensinar ao mundo uma lição importante".

Mas logo surgiram filósofos e ideólogos que tomaram a ideia da exclusividade russa como uma grande missão: a Rússia teria um caminho próprio e especial e um tipo de civilização à parte.

De qualquer maneira, esta ideia, que se originou em 1836, estendeu-se pelos séculos seguintes e ainda hoje é extremamente popular.

2. Seja bom e não se coloque contra o mal por meio da violência

Lev Tolstói, um dos escritores mais conhecidos do mundo, também alcançou êxitos em questões filosóficas. Por seus pontos de vista, ele seria definido hoje como um pacifista: ele acreditava que somente o amor podia salvar o mundo e que o mal nunca poderia ser derrotado pelo mal recíproco.

Se suas teorias sobre o amor universal fossem inofensivas, ninguém teria prestado muita atenção. Mas o conde foi longe demais: Tolstói começou a rejeitar a ideia de Estado, considerando todo o poder como sendo mau.

Ele era contrário à violência, por isto propôs uma forma não violenta de suprimir o Estado: que todos se recusassem a realizar deveres sociais e estatais. Da mesma maneira, ele não aceitava o cristianismo na forma como ele professado pela Igreja russa.

Assim, Tolstói criou sua própria religião  e distribuía livrinhos em que a descrevia. Devido a isto, ele foi excomungado da Igreja.

Muita gente do povo seguiu suas ideias. Alguns se recusavam a servir no exército e destruíram armas. Outros passaram a viver em comunas rurais. Mas quase todos os seus seguidores obtiveram o mesmo destino: dura repressão.

3. Há duas questões eternas para os russos: ‘Quem é o culpado?’ e ‘O que fazer?’

Algumas conclusões dos filósofos russos acabaram em nada mais que outras perguntas cruciais. Como, por exemplo, estas duas: “Quem é o culpado?” e “O que fazer?”.

A primeira deu nome a um romance do filósofo Aleksandr Herzen e a outra, a um romance do filósofo Nikolai Tchernichévski.

Em seu livro, Tchernichévski tentou dar resposta à questão colocada no título - mas só a pergunta mesmo foi eternizada. Já Herzen sequer tentou chegar a uma resposta.

Paradoxalmente, isto foi suficiente para descrever a essência da mentalidade russa: os russos sempre buscam respostas para questões importantes e “eternas” - mesmo que as perguntas simplesmente não tenham uma resposta exata.

Entre outros que seguiram os passos de Tchernichévski esteve Vladímir Lênin. Ele amava o romance do primeiro, e sua resposta à pergunta sobre o que deve ser feito era: a revolução.

4. O homem não precisa de felicidade, mas de sofrimento

Fiódor Dostoiévski passou por todo sofrimento possível na vida. Ele sofreu de epilepsia, pobreza, solidão e foi condenado à morte – pena que foi trocada por trabalhos forçados. Parece irônico, mas foi justamente ele o principal propagandista do sofrimento como salvação da alma.

Dostoiévski não acreditava em revolução. Ele considerava que o mal estava enraizado não no sistema de governo, mas na natureza humana.

“O ser humano é um mistério. É preciso resolvê-lo”, acreditava. No final das contas, ele chegou à conclusão de que o ser humano não é um ser sensato que deveria aspirar, de forma sensata, à felicidade, mas um ser irracional, com uma necessidade inata de sofrer.

Isto porque é justamente assim que se cria a consciência, é assim que as pessoas chegam a Deus e se purificam, acreditava ele.

Como diz seu personagem Raskôlnikov, de “Crime e Castigo”: “As pessoas verdadeiramente grandiosas, ao que me parece, deveriam sentir uma grande tristeza no mundo”.

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