5 motivos pelos quais Maksim Górki é tão demais

"Maksim Górki em Sorrento", pintura de Pável Kórin (Reprodução / Galeria Estatal Tretyakov)

"Maksim Górki em Sorrento", pintura de Pável Kórin (Reprodução / Galeria Estatal Tretyakov)

Alexey Bushkin/Sputnik
Hoje, Tolstói e Dostoiévski são considerados os maiores escritores da Rússia, mas eles nunca poderiam ter imaginado alcançar uma fama tão grande como a que Maksim Górki conquistou durante sua vida. Nesta quarta-feira (28), celebra-se o 150° aniversário desde o nascimento do escritor Maksim Górki.

Conhecido hoje como um dos autores mais controversos da literatura russa, Maksim Górki saudou a primeira revolução russa em 1905. Mas ele criticou a tomada do poder pelos bolcheviques em 1917, apesar de ser amigo de Vladímir Lênin.

Górki foi um dos fundadores da literatura soviética - a mesma que foi maculada pelo fato de que poetas e prosaístas talentosos que não escreviam sobre os corajosos trabalhadores soviéticos não eram publicados.

No final das contas, Górki também foi próximo de Stalin, uma das razões pelas quais ele não recebeu o Prêmio Nobel de literatura. Por essas e outras, a mais importante distinção da literatura mundial foi, pelo contrário, para Búnin.

O Russia Beyond compilou cinco curiosidades sobre a vida do escritor que, mesmo com poucos estudos e proveniente das camadas mais inferiores da sociedade russa, emergiu ao topo da literatura do país.

1. Seus livros retratam a realidade na Rússia como ele a via

Maksim Górki em 1907.

Quando Aleksêi Pechkov (o nome verdadeiro de Górki) era criança, seu pai morreu de cólera. Aleksêi também foi infectado, por isso sua mãe enfrentou muitas dificuldades e buscava um novo marido.

Assim, Aleksêi ficou com os avós em Níjni Nôvgorod. Quando a mãe de Górki morreu, seu avô o expulsou de casa e, assim, ele passou a trilhar o próprio caminho na vida.

Na escola da vida, ele perambulava pelas ruas das cidades ao longo do rio Volga, por onde viajou.

Depois de ser reprovado nas provas na Universidade de Kazan, ele trabalhou em uma padaria e, depois, uniu-se a um círculo revolucionário que lia literatura marxista.

Ele chegou a tentar o suicídio devido à depressão, mas depois trabalhou em uma fazenda, onde enfrentou um árduo trabalho.

Em seguida, ele partiu para o sul da Rússia: ao longo do rio Don, do Cáucaso e da Crimeia. Ele caminhava principalmente a pé, encontrando muitas pessoas diferentes, a maioria estranhos e pedintes como ele.

Em sua trilogia autobiográfica - composta por "Infância", "Ganhando meu pão" e "Minhas Universidades" -, ele fornece retratos vivos e ousados do povo russo. O conto "Tchelkach" e o romance "Mãe" retratam trabalhadores pobres.

Foram justamente estas as obras que começaram a levar Górki à fama e, mais tarde, fizeram dele um escritor proletário.

2. Lev Tolstói invejava seu sucesso

Górki (esq.) e Tolstói (dir.) na propriedade do último, Iásnaia Poliana, em 1900.

Em 1902, Górki publicou a peça "Albergue noturno", que ganhou enorme popularidade. Konstantin Stanislávski montou-a em seu Teatro de Arte de Moscou imediatamente, e ela também foi encenada na Europa.

A versão alemã foi exibida em Berlim 300 vezes seguidas, só para se ter uma ideia. Tolstói ficou chocado com o sucesso.

Quando ele leu a peça pela primeira vez, perguntou a Górki: “Por que você está escrevendo isso?".

Simplesmente não passava pela cabeça dele que uma peça sobre um albergue para pessoas desabrigadas, entre prostitutas e alcoólatras, poderia interessar ao público.

Górki considerava Tolstói um semi-deus e foi fortemente influenciado por ele. Já o conde literário sentiu a importância da nova prosa de Górki, mas ficou irritado quando leu sobre a inesperadamente bem-sucedida - para não dizer escandalosa - turnê de Górki nos Estados Unidos.

3. Membro honorário da Academia de Ciências aos 34 anos

Górki em Moscou.

Aos trinta e tantos anos, embora tivesse lido filósofos como Nietzsche e Schopenhauer, Górki ainda permanecia quase iletrado e sua mulher, Ekaterina, precisava corrigir seus erros gramaticais.

Ele começou a trabalhar como repórter em jornais diversos, e revistas literárias publicavam frequentemente seus contos.

Somente depois de seis anos trabalhando como escritor foi que Górki se tornou um acadêmico honorário, algo que enfureceu tanto o tsar Nikolai II que este ordenou que o autor fosse destituído da honraria.

Após a derrubada da monarquia, em 1917, Górki tornou-se um acadêmico novamente.

4. Albatroz Tempestuoso da Revolução

Reprodução da pintura de Viktor Rijikh “Maksim Górki visitando os homens do Exército Vermelho”.

Górki glorificava a Revolução e sua “Canção do Albatroz Tempestuoso” foi recebida com avidez pelo movimento revolucionário.

O escritor se inspirou de verdade pela Revolução de 1905 e, quando as tropas do governo atiraram contra uma multidão de manifestantes pacíficos, escreveu uma proclamação revolucionária que o levou à prisão.

Ainda assim, ele levantava questões sobre a tomada do poder pelos bolcheviques em outubro de 1917, considerando-a prematura.

Ele descreveu-a como um experimento perigoso e, mais tarde, captou todos os seus horrores, seu sangue e seu caos em uma série de artigos intitulada "Pensamentos precoces".

Mesmo nos anos que antecederam a ascensão bolchevique ao poder, quando Górki viveu principalmente na Europa, sobretudo na ilha italiana de Capri, ele encontrava Lênin e os dois conversaram por horas.

Apesar de o líder bolchevique ser aberto a numerosas conversas intelectuais, ele não tolerava de maneira alguma qualquer pensamento político e sugestão de Górki.

Em 1921, as relações de Górki com o novo Estado soviético pioraram, e ele pediu para emigrar, mas só recebeu permissão para fazer viagens curtas para tratar da tuberculose.

Após a morte de Lênin, Górki recebeu autorização para deixar a União Soviética, mas já não era bem-vindo na Europa e não podia visitar Capri. Ele foi apenas a Sorrento.

5. O escritor mais influente da URSS

Da esq. para a dir., Klement Vorochilov, Maksim Górki e Iossif Stálin.

Górki é considerado o fundador da literatura soviética por ter clamado por um realismo socialista que usasse estética e métodos de escrita para servir aos objetivos de se construir um Estado socialista.

Este paradigma exigia que os personagens tivessem senso de moralidade e ideologia. O escritor era um propagandista e, para ser publicado, precisava seguir os novos ditames culturais.

Stalin entendeu a influência de Górki sobre o povo e o queria a seu lado. É por isso que o Estado soviético gastou enormes quantias de dinheiro na vida luxuosa de Górki: viagens ao estrangeiro e vilas italianas, uma mansão no centro de Moscou e até o hobby que seu filho praticava com automóveis.

Para tanto, porém, Górki precisava fazer alguns trabalhos sujos, o que quer que fosse que Stálin lhe pedisse.

Entre eles, teve que visitar o campo de trabalhos forçados Solovki Gulag e elogiá-lo, escrevendo que era um ótimo lugar para uma reeducação. Ele chegou até a escreveu um artigo sobre a construção do Canal Mar Branco-Báltico justificando a escravização de prisioneiros.

Mas ainda não está totalmente claro se Górki agia com sinceridade, e chegou a haver rumores de que Stálin ameaçava enviar o filho de Górki para a gulag.

Também há evidências dos próprios prisioneiros de que eles foram obrigados a se vestir de branco e segurar jornais nas mãos, recebendo o escritor como se sua vida no gulag fosse a mesma que em um resort.

Alguns seguravam os jornais de cabeça para baixo, e Górki se aproximou de um deles e o endireitou, como um sinal de que ele entendia o que estava acontecendo na realidade.

Mas Górki foi duramente criticado por escritores não conformistas, que o acusavam de ter se vendido ao regime de Stálin. Apesar disso tudo, Górki tentava ajudar todos que tinham algum parente na prisão, e era sempre prestigioso ter este escritor proletário como amigo.

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