O nome de Marius Petipa está nos pôsteres dos espetáculos de balé mais famosos do mundo. É só procurar nos créditos de "Lago dos Cisnes", "A Bela Adormecida", "La Bayadère", "Giselle", "Dom Quixote" ou "O Quebra-nozes".
Seu retrato também é facilmente reconhecível em muitas paredes de escolas e camarins: um senhor com sorriso suave, ostentando uma barba curta e bem penteada.
Em 2018 se comemora o Ano de Petipa, por conta do aniversário de 200 anos de seu nascimento.
E, conforme a data exata (11 de março) se aproximava, a única certeza era a de que nunca se soube muito sobre o homem por trás do mito que criou o fenômeno artístico do balé russo.
A construção de uma lenda
Sputnik
Foi o próprio Petipa que se transformou em lenda. Nascido em Marselha, França, em uma família ligada ao teatro, tinha um talento inato para farejar o sucesso e um gosto especial pela aventura.
Sem isso, ele dificilmente teria seguido a carreira artística. Para conseguir contratos, Petipa não hesitava em mentir sobre sua data de nascimento, fingindo ser o próprio irmão.
Seu temperamento incontrolável o colocou em aventuras amorosas que o levaram para a Espanha. Também lutou como um leão para arrancar cada centavo possível da corte russa.
Petipa não tinha nenhum problema em pegar emprestadas ideias - e até mesmo cenas - de espetáculos alheios.
Aos 85 anos, o diretor do balé do Teatro Imperial de São Petersburgo transformou sua vida tempestuosa e apaixonada em uma autobiografia fantástica.
Por 100 anos, as memórias de Petipa foram reimpressas inúmeras vezes e serviram como base para diversos biógrafos.
Plagiador ou gênio da originalidade?
Boris Riabinin / Sputnik
Quando o assunto são suas criações, o tema fica bem complicado. Petipa trabalhou na Rússia por quase 60 anos, 40 deles como diretor de balé do Teatro Imperial de São Petersburgo.
Durante o período, ele criou mais de 100 coreografias em dezenas de óperas. Hoje o nome de Petipa é sinônimo do maior legado do balé clássico mundial.
Ele é citado como autor, ou ao menos responsável pelas adaptações, de todas as montagens populares do século 19 que chegaram aos dias atuais. A exceção é "La Sylphide", do coreógrafo dinamarquês August Bournoville.
O trabalho de Petipa vai além da popularidade das peças e é muito mais significativo.
De fato, não foi ele que criou os clássicos, ou que adaptou a dança nacional para os palcos, ou ainda que desenvolveu a técnica da ponta.
Ele também não construiu os princípios da hierarquia da dança e não inventou o balé de ação ou de pantomina (uma linguagem plástica que os protagonistas usam entre os números).
Talvez ele nem seja, como se acredita, o mais inventivo dos coreógrafos. Petipa foi reprimido por usar ideias de Jules Perrot e de Arthur Saint-Léon e nunca escondeu que ia às aulas de Christian Johansson, na Escola de Balé Imperial, para copiar trechos de coreografias originais.
Mas foi Petipa que, em um tempo no qual o balé na Europa tinha se degenerado para simples apresentações, exilou-se em uma Rússia distante e produziu um trabalho imensurável.
Ele deu forma à melhor companhia de balé do mundo e, nas produções que criou para ela, resumiu e sintetizou tudo o que se conhecia sobre os dois séculos de profissionalização da dança.
Inspiração aos coreógrafos de hoje
Alexei Danichev / Sputnik
Durante um século, os seguidores de Petipa juraram lealdade ao seu legado, cortando pedaços de tecido dourado das peças do coreógrafo e modelando-as como no seu tempo.
A biblioteca da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, guarda o acervo do assistente de Petipa, Nikolai Sergueiev, que contém anotações coreográficas raras de produções feitas no início do século 20.
Até o início do século 21, elas eram desconhecidas de bailarinos e teóricos da dança, mas hoje servem como prova definitiva de que algumas montagens de São Petersburgo foram modificadas até ficarem irreconhecíveis.
Mas é justamente o trabalho de Petipa que inspira seus seguidores a interagir com o balé clássico e revisá-lo, transformá-lo e estudá-lo incansavelmente.
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