Todas as cores e críticas de Kustodiev

Cultura
ALEKSANDRA GÚZEVA
Mulheres corajosas e questões da época, festividades populares e um turbilhão de cores são marcas das obras Boris Kustodiev. Com a proximidade do 140º aniversário de seu nascimento, o Russia Beyond reúne algumas de suas pinturas de maior destaque, incluindo críticas sutis às revoluções que marcaram o início do século 20.

O artista russo Boris Kustodiev começou a carreira como retratista. Estudou na Academia de Arte de São Petersburgo junto com o famoso pintor russo Iliá Repin, e até mesmo ajudou o colega em sua monumental obra “Cerimonial do Conselho de Estado em 7 de Maio de 1901, marcando o centenário da sua fundação”.

O jovem Kustodiev, porém, voltou-se repentinamente à pintura de gênero. Mudou-se para a cidade de Kostroma, à beira do rio Volga, em busca de personagens e imagens autenticamente russos. Lá encontrou algo que, mais tarde, tornou-se tema principal de sua arte: cenas da vida mercantil e do cotidiano, e mulheres de vestidos coloridos.

Durante algum tempo, Kustodiev trabalhou em várias revistas de caricatura política. Seu desenho de 1906 “Jupel (Espírito maligno) da Revolução” mostra um esqueleto vermelho gigante atravessando a cidade e pisando sobre casas e cadáveres. A imagem reflete a opinião do artista sobre a primeira revolução da Rússia.

Kustodiev era aclamado pela crítica, e seus serviços eram bastante solicitados. Certa vez foi escolhido, no lugar de Valentin Serov, para ocupar o cargo de professor de retrato na Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura de Moscou. Ele recusou a oferta, no entanto, porque não queria que nada interferisse em sua pintura.

Junto com Roerich, Bakst, Benoir, Levitan e vários outros, Kustodiev participou do movimento Mir Iskusstva (Mundo da Arte), famoso pela produção dos Ballets Russes de Serguêi Diaghilev. Esses artistas buscavam inspiração na cultura russa antiga.

Antes do Mir Iskusstva, todos os teatros seguiam um padrão de decoração e figurino para cada apresentação, e mudá-los dependia do tema. Juntamente com outros no movimento, Kustodiev revolucionou essa questão. Ele criou decorações de palco e figurinos para performances modernistas, como óperas de Rimsky-Korsakov (“A Noiva do Tsar” e “A Donzela de Neve”) e várias peças de Aleksandr Ostrovski.

As cores vibrantes da arte de Kustodiev mostram a vida provincial da Rússia como um conto de fadas. Curiosamente, suas primeiras tentativas nesse gênero foram retratos, como os do cantor Feodor Chaliapin e do tsar Nicolau 2º, e autorretratos.

As ilustrações de Kustodiev para literatura clássica também são significativas. Trabalhou em imagens e litografia para ilustrar histórias de Nikolai Gógol, Mikhail Lermontov, Lev Tolstói e Nikolai Leskov, entre outros.

Em 1909, o artista foi acometido com um tumor na medula espinhal e, apesar de várias cirurgias, acabou confinado a uma cadeira de rodas pelo resto da vida. Durante os 15 anos seguintes que viveu, Kustodiev continuou a pintar, e seus trabalhos mais coloridos e inspiradores foram produzidos exatamente nesse período.

Paralítico e sem deixar sua casa, Kustodiev jamais testemunhou os acontecimentos revolucionários de 1917. Três anos depois, porém, fez a sua famosa pintura “Bolchevique”, como uma reação e interpretação da Revolução. A imagem de um proletário enorme liderando as pessoas com uma bandeira vermelha é ambígua: enquanto o governo revolucionário soviético via isso como uma afirmação de sua ideologia, a imagem guardava uma forte semelhança com o esqueleto de Jupel.

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