Pinturas de infância mostram vida na URSS antes da queda

Pirojki. 2015.

Pirojki. 2015.

Zoya Cherkassky-Nnadi
Festas familiares, as primeiras novelas mexicanas e viagens de trem de terceira classe para o sul: pintora israelense Zoya Cherkassky-Nnadi retrata a vida soviética no final dos anos 1980, quando vovós espiãs e tapetes estavam por toda parte.

Zoya Cherkassky-Nnadi mudou-se de Kiev, atual capital da Ucrânia, para Israel em 1991, ano da queda da URSS, quando tinha apenas 15 anos. Em sua nova pátria, ela se tornou uma artista, e seus desenhos, à primeira vista ingênuos em sua expressão, têm profundidade histórica e remetem os espectadores a suas próprias realidades familiares. Uma coleção de suas desenhos de sua infância soviética foi recentemente publicada na internet e mostra os elementos do cotidiano antes da queda do regime.

1. O Dia do Trabalho, celebrado em 1º de maio (também hoje na Rússia), marcava as conquistas econômicas e sociais dos trabalhadores e a luta por seus direitos. Era um dia muito importante na União Soviética, quando milhões de pessoas se aglomeravam em tradicionais manifestações, levando consigo cartazes com slogans soviéticos.

Dia do Trabalho

2. Na União Soviética, todas os alunos de escola tinham que usar uniforme idêntico. Os meninos vestiam trajes azuis com botões de alumínio; as meninas usavam vestidos marrons um pouco acima dos joelhos e aventais pretos. Os pioneiros (espécie de escoteiros na URSS) também usavam lenços vermelhos. As crianças que estavam ‘de plantão’ no dia usavam faixas vermelhas e ficavam depois da aula para limpar a sala.

De plantão (Ilustração: Zoya Cherkassky-Nnadi)De plantão (Ilustração: Zoya Cherkassky-Nnadi)

3. Na década de 1980, as cidades russas começaram a ser erguidas com prédios padrão de 9 a 16 andares. Os pátios também seguiam padrões: pequeno playground e bancos na entrada, que sempre estavam ocupados por mulheres idosas. Elas sempre sabiam quem tinha hóspedes, ou comprado novos móveis, ou mesmo de quem era o gato que havia roubado comida dos vizinhos. Não é a toa que os russos brincam que as babuchkas (vovós, em russo) foram as maiores espiões de todos os tempos.

“Ela esqueceu de colocar a saia!” (Ilustração: Zoya Cherkassky-Nnadi)“Ela esqueceu de colocar a saia!” (Ilustração: Zoya Cherkassky-Nnadi)

4. Os russos não andam pelas paredes, mas têm tapetes por todas elas. Esses itens invadiram os apartamentos russos na década de 1960, quando milhões de pessoas se mudaram para khruschiovkas (predinhos baixos cujo nome faz referência ao líder soviético Nikita Khruschov). Suas paredes não eram apenas frias, mas finas. Os tapetes serviam, assim, para aquecer, isolar barulho e como fundo para fotografias.

O Carpete (Ilustração: Zoya Cherkassky-Nnadi)O Carpete (Ilustração: Zoya Cherkassky-Nnadi)

5. No final dos anos 1960, os trabalhadores soviéticos receberam lotes de terra, de geralmente 6 ‘sotkas’ (1 ‘sotka’ era equivalente a uma área de 10 por 10 metros, ou um centésimo de hectare), que muitos chamavam de “fazendas”. Assim, o Estado resolveu não só o problema da escassez de alimentos, mas também encontrou uma atividade para ocupar o tempo livre das pessoas. Nos países pós-soviéticos, os fins de semana de verão ainda são frequentemente associados às datchas (casas de campo).

Fazenda (Ilustração: Zoya Cherkassky-Nnadi)Fazenda (Ilustração: Zoya Cherkassky-Nnadi)

6. Viajar a bordo de trens soviéticos, especialmente em vagões-leitos na terceira classe, conhecidos como “platzkart”, é uma experiência muito interessante. Além das conversar, é possível observar como os russos se abastecem com alimentos antes de iniciar a viagem. O almoço costuma ser frango cozido e ovos, e todo mundo começa a comer logo que o trem parte. Não tem nada a ver com fome – apenas tradição.

Para o sul (Ilustração: Zoya Cherkassky-Nnadi)Para o sul (Ilustração: Zoya Cherkassky-Nnadi)

7. Fazer refeições em um refeitório era parte essencial da vida soviética desde a infância até a aposentadoria. Um dos pratos mais populares era “kotleta” (bolinhos de carne moída fritos) com purê de batatas. Muitas vez, as mulheres nem tiravam o chapéu nos ambientes internos – para não desarrumar o cabelo e exibir o acessório.

Buffet (Ilustração: Zoya Cherkassky-Nnadi)Buffet (Ilustração: Zoya Cherkassky-Nnadi)

8. Durante a perestroika, a cultura ocidental foi penetrando por todos os cantos da URSS: moda, rap e o breakdance se propagaram entre os jovens. Eles usavam jeans, cabelos estranhos e joias enormes, como os adolescentes ocidentais.

Breakdance (Ilustração: Zoya Cherkassky-Nnadi)Breakdance (Ilustração: Zoya Cherkassky-Nnadi)

9. O quebra-cabeça soviético é composto por muitas peças, e a mesa de festas é uma delas. Devido à grande escassez no final dos anos 1980, as pessoas tinham que cozinhar pratos incomuns e fantasiosos para surpreender os hóspedes usando os itens que pudessem encontrar nas lojas. Arenque, comida em conserva e ovos decorados figuravam em qualquer tipo de mesa festiva na época – fosse uma celebração de casamento, funeral, ou aniversário. Em casos raros, também surgiam sobre a mesa copos de cristal – típico presente de casamento que jamais era realmente usado.

Mesa de festa (Ilustração: Zoya Cherkassky-Nnadi)Mesa de festa (Ilustração: Zoya Cherkassky-Nnadi)

10. Os dissidentes não concordavam com a ideologia soviética, mas não planejavam tomar o poder. Eles só queriam garantir que o maior número de pessoas possível conhecesse as violações dos direitos humanos básicos que ocorriam no país. Para isso, recorriam a samizdat (cópia e distribuição clandestina de material informativo e livros censurados) e vários métodos de contrabando de informação para o Ocidente. Eles tentavam captar sinais de rádios ocidentais que haviam sido banidas na URSS. No entanto, a época de dissidentes e da própria União Soviética terminou em 1991.

Rádio Liberty (Ilustração: Zoya Cherkassky-Nnadi)Rádio Liberty (Ilustração: Zoya Cherkassky-Nnadi)

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