4 razões para assistir a “Dovlatov”, novo filme sobre o escritor dissidente soviético

Cultura
IÚLIA CHAMPOROVA
Estreia mundial de biografia dirigida por Aleksêi Guêrman Jr. foi exibida na 68ª edição do Festival de Cinema de Berlim (Berlinale), que acontece até domingo (25).

Dovlatov, o escritor

A personalidade de um dos mais brilhantes escritores russos do século 20, Serguêi Dovlatov (1941-1990), era multifacetada: jornalista e escritor soviético de origem judaica e armênia com pouquíssima chance de ser publicado, amigo do poeta ganhador do Nobel, Joseph Brodsky, imigrante norte-americano, editor-chefe do “New American”, colunista do “New Yorker” e autor de nada menos que 12 livros.

Dovlatov era mestre da tradição literária tragicômica e tinha como inspiração Anton Tchekhov, Arkádi Avertchenko e Mikhail Zotchenko. Tornou-se famoso por suas contos e romances, incluindo “A mala” e “Compromisso”, entre tantos outros.

O filme, chamado “Dovlatov”, retrata vários dias de sua vida como escritor e jornalista em Leningrado (atual São Petersburgo) em 1971. O relacionamento tenso com a ex-esposa e a filha, e outras questões relevantes também são abordadas por Guêrman Jr, que revela o mundo interior do escritor em meio a um regime totalitário. 

Parceria com Brodsky

Embora a biografia seja dedicada a Dovlatov, outro personagem desempenha um papel importante no filme: Joseph Brodsky.

Segundo Guêrman Jr., a ideia foi mostrar como ambos viviam antes de deixarem a URSS. “O filme mostra o relacionamento próximo dessa dupla – eles foram proibidos de escrever e forçados a fugir do país”, conta.

Tanto Dovlatov quanto Brodsky sofreram por não poderem publicar suas obras durante o regime: a censura estrangulava a criatividade. Os dois não queriam deixar sua terra natal, mas foram obrigados a fazê-lo para que pudessem ser publicados e evitar perseguição. Apesar de terem morrido cedo, Dovlatov aos 48 anos e Brodsky aos 55, os dois conseguiram cravar seus nomes na história da literatura russa.

URSS nos anos 1970

Em suas entrevistas, Guêrman Jr. destaca que quis chamar a atenção dos espectadores para a vida na União Soviética durante a década de 1970 – época que, segundo ele, distinguiu-se pelo maximalismo excepcional. O período mostrado no filme cobre o “degelo” de Khruschov, nos anos 1960, quando o espírito de liberdade estava no ar e as pessoas criativas eram livres para se expressar. “No entanto, foi seguido por um período de estagnação e medo ao longo da próxima década”, afirma o cineasta.

Guêrman Jr. combina a vida real de Dovlatov com os sonhos do escritor, nos quais conversa com Leonid Brejnev e Fidel Castro – em geral, queixando-se do fato de seus livros não serem publicados. Os sonhos de Dovlatov misturados com a realidade da Leningrado soviética criam uma fantasia surreal cheia de sátira e alusões filosóficas. 

Sucesso de crítica

Dovlatov já é considerado um dos melhores filmes de Guêrman Jr. e ganhou vários prêmios, incluindo o Leão de Prata no Festival de Veneza. No longa, o diretor mostra grande inspiração nas obras de seu pai, o famoso diretor soviético Aleksêi Iurievitch Guêrman. O ator sérvio Milan Maric, que interpreta Dovlatov, tem uma estranha semelhança com o escritor – o que torna o filme ainda mais convincente. Além disso, o ator foi capaz de criar a imagem de um homem forte e bonito, porém com um mundo interior muito frágil, buscando seu lugar na vida e na literatura. 

“Dovlatov” ainda não possui previsão de estreia em salas de cinema do Brasil.

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