Lançamentos russos são opção de presente no Natal (parte dois)

Novembro foi marcado por mais de uma dezena de lançamentos de obras vertidas diretamente do russo ao português.

Novembro foi marcado por mais de uma dezena de lançamentos de obras vertidas diretamente do russo ao português.

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Volumes com estreia marcada ainda para novembro trazem também novos nomes na tradução direta do russo: Paula Vaz de Almeida e Odomiro Fonseca assinam traduções de Maiakóvski e Nadiêjda Khvoshchínskaia. Há ainda estreia da escritora Liudmila Petruchévskaia no Brasil, reedição de Tolstói pela Companhia das Letras e outros.

Três vezes Maiakóvski

Nome nada novo mas sempre genial, Maiakóvski aparece em três volumes neste mês de novembro no Brasil.

Com lançamento marcado para esta segunda-feira (27), o livro-poema infantil “O que eu vou ser quando crescer” vem com tradução de Paula Vaz de Almeida e publicado pela editora Boitatá.

Indicado para crianças a partir dos 8 anos de idade, o livro foi escrito por Maiakóvski em 1928 e publicado pela primeira vez em 1932, dois anos após sua morte. Em versos rimados e dispostos na forma característica do movimento concretista, o poema atiça a curiosidade do pequeno leitor ao brincar com as principais facetas de diferentes profissões.

A obra traz ilustrações do celebrado artista russo Nísson Chifrin, e sua tradução se deu por meio da comparação com áudios do poema em russo. Assim, a tradutora procurou adaptar o texto final preservando a cadência e a sonoridade originais.

‘Retrato de Maiakóvski Quando Jovem’

Com pré-venda no site da editora Hedra, “Retrato de Maiakóvski Quando Jovem” traz cinco poemas escritos entre 1912 e 1915, às vésperas da Revolução Russa, dando a conhecer um Maiakóvski ainda muito influenciado estilisticamente pela geração anterior dos simbolistas - sem, todavia, deixar de exprimir o seu comprometimento com a causa proletária e o desejo de erigir um novo mundo e uma nova arte.

A tradução é de Augusto de Campos.

‘Poemas’

“Poemas” é um dos clássicos da refinadíssima e cinquentona editora Perspectiva. Em edição revista e ampliada, o volume traz vinte novos poemas, projeto gráfico especial e capa dura.

Os versos em português são fruto do trabalho da troica mais invejável da tradução poética de todos os tempos no país: Boris Schnaiderman, Augusto e Haroldo de Campos

Estreia de Petruchévskaia

Em pré-venda no site da Companhia das Letras, “Era uma vez uma mulher que tentou matar o bebê da vizinha”, de Liudmila Petruchévskaia, foi vertido diretamente  do russo por Cecília Rosas.

Considerada por alguns a maior autora russa viva e uma versão russa de Poe, Petruchévskaia combina o contexto soviético em que produziu grande parte de sua obra com uma realidade povoada por assombrações, pesadelos, acontecimentos macabros e personagens sinistras. 

O resultado são histórias sobrenaturais que retomam a tradição dos contos folclóricos dotadas de humor contemporâneo e enorme carga política.

Esta seleta traz uma porção vital da obra de Pertuchévskaia: seus contos místicos e de ficção. As histórias ali reunidas foram escritas entre as últimas três ou quatro décadas.

As personagens, quase todas, partem de uma realidade física sob circunstâncias excepcionais: durante um ataque cardíaco, um parto, um grande choque psicológico, uma tentativa de suicídio, um acidente de carro.

Sob condições extremas, elas ficam propensos a um universo paralelo, onde passam por experiências que só podem ser descritas alegoricamente, na forma de parábolas ou contos de fadas.

As origens do feminismo russo (e mundial)

Estreia do tradutor e pesquisador Odomiro Fonseca no mundo editorial, "A moça do internato", pela Editora Zouk, é uma novela de 1861 em que Nadiêjda Khvoschínskaia traça uma imagem histórico-sócio-cultural da Rússia de então.

Na segunda metade do século 19, o país passava por mudanças significativas, e a obra recria em sua narrativa a tensão entre o espaço delimitado pela sociedade patriarcal e suas convenções para a mulher - na educação (formal ou doméstica), no casamento etc.

Khvoschínskaia antecipa a crítica social em relação ao jugo das mulheres e constrói, antes de outros autores russos consagrados, uma personagem que traz o potencial de transformação dentro de si.

Assim, sua protagonista Liôlienka, rompe inclusive com seu vacilante mentor-instrumento, Veretítsin, durante o processo de conscientização - uma metáfora da luta das mulheres pela verdadeira emancipação, na prática, ao longos dos séculos.

Doutor Jivago

Publicado originalmente em 1957 fora da União Soviética, após ser banido pela censura do Partido Comunista, “Doutor Jivago”, que só seria lido por seus conterrâneos em 1987 — ou seja, 27 anos após a morte de seu autor. O romance continua a ser o maior e mais importante da Rússia pós-revolucionária.

Nele, Boris Pasternak traz o drama e a imensidão da Revolução Russa pela história do médico e poeta Iúri Andrêievitch Jivago em seu constante esforço de se colocar em consonância com a revolução.

Por seus olhos hesitantes, o leitor testemunha a eclosão e as consequências de um dos eventos mais decisivos do século.

A obra sai desta vez diretamente do russo pela Companhia das Letras com tradução de Sonia Branco e de uma das pioneiras dos estudos de literatura russa no Brasil, Aurora Bernardini.

‘Guerra e paz’ de casa nova

O box da obra que saiu em 2011 pela Cosac Naify passou a ser publicado, com o fim da última, pela Companhia das Letras.

Vertido ao português por um dos ícones da tradução contemporânea, Rubens Figueiredo, o romance épico acompanha o percurso de cinco famílias aristocráticas russas no período de 1805 a 1820, com a marcha das tropas napoleônicas e seu impacto brutal sobre a vida de centenas de personagens.

Em meio a cenas de batalha, bailes da alta sociedade e intrigas veladas, destacam-se as figuras memoráveis dos irmãos Nikolai e Natacha Rostóv, do príncipe Andrêi Bolkônski e de Pierre Bezúkhov, filho ilegítimo de um conde e uma das mais complexas personalidades da literatura do século 19 cuja busca espiritual serve como fio condutor da obra.

Duas vezes Rubens

Outro volume recém-saído do forno, ainda em novembro, foi “O jogador”, de Fiódor Dostoiévski.

Aqui, Rubens Figueiredo, tradutor e autor duplamente premiado com o Jabuti, entra nos domínios do romancista dos porões mais úmidos de São Petersburgo, que nos últimos anos teve quase toda sua obra vertida ao português por Paulo Bezerra.

O volume narra o impressionante retrato psicológico do vício destrutivo do jogo, compulsão que o próprio Dostoiévski conhecia intimamente.

Em uma estação de águas na sugestiva cidade alemã de Roletemburgo, Aleksêi Ivânovitch, jovem professor de origens humildes, vivencia a emoção do jogo e o infortúnio amoroso, enquanto tenta entender as confabulações que definirão seu destino e o dos que o cercam.

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