Arranha-céus, pobreza artística e dólar: os relatos de escritores russos nos EUA

Nova York em 1900

Nova York em 1900

Getty Images
Os Estados Unidos causaram atração vem várias mentes criativas russas, que queriam ter acesso ao misterioso Novo Mundo, e voltar para casa contando aos compatriotas sobre a vida numa terra distante e contraditória.

Maksim Górki

Maria Andreeva and Maxim Gorky on the deck of a steamboat en route to America. A screenshot from the documentary

O escritor Maksim Górki visitou os EUA em 1906 a pedido pessoal do líder revolucionário Vladímir Lênin. Górki esperava contar aos americanos sobre a recente revolução na Rússia e juntar dinheiro para suas necessidades.

Górki e sua colega de viagem, Maria Andreeva, ficaram hospedados no Hotel Belleclair, na esquina da Broadway e 77ª Avenida, que ainda existe até hoje. Tudo corria bem até que os jornais descobriram que Andreeva não era esposa legítima de Górki e que ele não havia se divorciado da mulher anterior.

A notícia gerou um escândalo enorme, e Górki foi massacrado moralmente.

Com base na legislação vigente, o Belleclair e todos os outros hotéis de Manhattan se recusaram a hospedar Górki e Andreeva.

Embora Górki insistisse que Andreeva era sua esposa legal, o jornal local “The Evening World” publicou uma reportagem sobre esse escândalo em sua primeira página, citando o escritor: “Eu acho que esse ato desagradável contra mim não poderia ter vindo do povo americano. O respeito que tenho por eles não me permite suspeitar que não tenham muita cortesia no tratamento às mulheres. Acredito que essa sujeira tenha sido conspirada por amigos do governo russo”.

Górki relatou suas impressões da vida cotidiana nos EUA em uma coleção de ensaios chamada “Na América”. Neles, descreveu navios gigantes como bestas antigas, assobios raivosos, “correntes das âncoras chocalhando” e “ondas oceânicas rugindo”.

“Esta é a cidade, esta é Nova York. Edifícios de vinte andares, arranha-céus mudos e escuros pela costa. Quadrados, sem a pretensão de serem belos, edifícios pesados ​​se erguem céu adentro mal-humorados e entediados . (...) De longe a cidade parece uma enorme mandíbula com dentes irregulares e pretos. Ela respira profundamente no céu com nuvens de fumaça”, relatou Górki em um de seus ensaios.

Serguêi Iessiênin

Sergei Yesenin and Isadora Dunkan in the U.S.

O poeta Serguêi Iessiênin recebeu permissão para acompanhar sua esposa, a dançarina americana Isadora Duncan, em sua turnê nos Estados Unidos em 1922. Os Estados Unidos impressionaram Iessiênin muito mais que a Europa. As coisas que aterrorizaram Górki causaram surpresa no poeta – progresso tecnológico, arranha-céus, guindastes, aviões e navios com “grandes alavancas como braços gigantes”.

Uma das coisas que mais o fascinou foi a Broadway, cujas luzes eram estranhas “para um russo acostumado à vida sob a luz do luar e da vela na frente de ícones”.

Após um tempo um tempo, porém, Iessiênin escreveu uma carta ao amigo Aleksandr Sakharov dizendo: “O que posso falar sobre esse horrível reino da burguesia que beira à idiotice? Não há nada aqui, exceto foxtrote. Comendo, bebendo e voltando a dançar de novo. Ainda não conheci um humano de verdade por aqui e não sei onde buscá-lo. E eles não se importam com arte”. Iessiênin também escreveu o ensaio “Mirgorod de Ferro” em alusão à coleção de histórias místicas de Nikolai Gógol, “Mirgorod”.

Mas, em “Mirgorod”, Iessiênin não foi tão duro em suas críticas e destacou que o resto dos Estados Unidos não se parecia com Nova York: “Em direção à Califórnia, essa impressão de grandeza desaparece: pode-se ver planícies com florestas escassas (são tristes e terrivelmente parecidas com a Rússia!) e pequenos assentamentos”.

Vladímir Maiakóvski

Vladimir Mayakovsky in New York. 1925. Reproduction of the photograph

O poeta soviético Vladimir Maiakóvski teve duas vezes seu visto negado para os Estados Unidos antes de receber permissão para entrar no México em 1925. Após três semanas imerso na cultura e tradições mexicanas, Maiakóvski partiu para o território norte-americano sem saber uma palavra sequer em inglês.

Em seu livro “Minha Descoberta da América”, o escritor retrata o país com sua diversidade de clima, ruas e pessoas. “Mais do que a natureza incrível do México, que nos surpreende com suas plantas e povo, Nova York, surgindo do oceano, nos choca com sua grande quantidade de obras e máquinas”, descreveu Maiakóvski ao chegar.

Ele visitou Chicago, Filadélfia, Detroit e Pittsburgh, entre outras cidades, e, como cidadão de um país socialista, ficou chocado com a proporção do capitalismo.

“Há uma certa poesia na forma como um norte-americano trata o dólar. Ele sabe que o dólar é o único poder nesse país de milhões de burgueses (assim como em outros), e estou certo de que, além dos recursos financeiros, o americano gosta esteticamente da cor verde do dólar, identificando-o com a primavera, e um touro em elipse, que lhe parece como um retrato de um homem robusto, um símbolo de sua afluência”, disse.

Depois de deixar os EUA, Maiakóvski tentou resumir suas emoções sobre o país, e uma de suas observações principais se referia ao excesso de carros. “É hora de pensar em como produzi-los para que não empesteiem as ruas”, escreveu o poeta. Também destacou o fato de os Estados Unidos “estarem enriquecendo”. “Pessoas com apenas dois milhões de dólares não são consideradas jovens ricos no início da carreira”.

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