Em 11 de fevereiro de 1985, o Centro de Controle de Missão RKA (TsUP) enviou um sinal à estação Salyut 7 para checar se todos os sistemas estavam operacionais. A estação estava desabitada há meio ano devido a uma longa pausa nas expedições e funcionava em modo autônomo; desta vez, porém, não houve retorno. Algo tinha acontecido — mas ninguém na Terra conseguia identificar o motivo da súbita desconexão da estação.
Estação orbital Salyut-7 com a espaçonave Soyuz T-14 durante o voo. A foto foi tirada da espaçonave Soyuz T-13, em 12/11/1986
SputnikSem a correção eletrônica da trajetória de voo, a Salyut 7 tornou-se um “cometa” incontrolável pesando 19 toneladas que se aproximava lentamente da Terra. Mesmo com os cálculos mais otimistas, era quase impossível evitar vítimas – os destroços que não queimassem na atmosfera poderiam atingir cidades. Uma catástrofe de tamanha escala teria causado danos irreparáveis à reputação da cosmonáutica soviética.
A preparação de uma operação de resgate começou logo após a desconexão da Salyut 7. Em meados de março, os cosmonautas já haviam sido aprovados – e eram os mais experientes. O comandante era Vladimir Djanibekov, que seria acompanhado pelo engenheiro de voo Viktor Savinikh.
O treinamento durou quatro meses: durante esse período, Djanibekov se preparou para “fisgar” a estação em pleno voo. Foram elaborados diferentes cenários em um simulador. Um erro poderia custar a vida dos próprios cosmonautas, bem como de inúmeras pessoas na Terra.
Tripulação da espaçonave Soyuz T-13 Vladimir Djanibekov (à esquerda) e Viktor Savinikh (à direita) antes do lançamento, em 06/06/1985
Aleksandr Mokletsov/SputnikSavinikh estudou toda a documentação disponível sobre a Salyut 7, uma vez que a causa da desconexão da estação ainda era um mistério. Além disso, teve que aprender a rastejar pelo módulo da estação em escuridão absoluta – isso porque não havia mais eletricidade na Salyut 7.
A nave espacial de resgate Soyuz T-13 também foi adaptada para a missão. Uma parte dela foi reservada para o abastecimento de alimentos por um período mais longo — afinal, não se sabia quanto tempo os cosmonautas gastariam na estação “morta” e os alimentos em seus porões de carga poderiam se tornar impróprios para o consumo, devido ao frio no espaço.
Na madrugada de 6 de junho de 1985, Djanibekov e Savinikh iniciaram a operação de resgate a partir do Cosmódromo de Baikonur. Eles tinham apenas uma chance de sucesso a uma altitude de 300 quilômetros acima da superfície da Terra.
Savinikh (à esquerda) e Djanibekov no Centro de Treinamento de Cosmonautas, na Cidade das Estrelas
Aleksandr Mokletsov/SputnikNo segundo dia de voo, Djanibekov e Savinikh aproximaram-se da Salyut 7 – segundo os seus cálculos, apenas 10 quilômetros os separavam do seu alvo. Uma pequena “estrela” já brilhava além da vigia, que gradualmente foi ficando cada vez mais brilhante. A equipe de resgate começou a se preparar para realizar a manobra mais difícil da história da cosmonáutica. No modo de aproximação automática, Djanibekov reduziu a distância para 2,5 km. Na sequência, mudou para o controle manual e iniciou o processo para atracação gradual. No entanto, ao se aproximarem o suficiente, os cosmonautas perceberam que haviam cometido um erro.
Djanibekov (à direita) e Savinikh antes do voo
Aleksandr Mokletsov/SputnikA Salyut 7 estava com sua porta de acoplamento desativada. Nesta posição, eles tinham apenas duas alternativas: retornar à Terra ou tentar circundar a estação. A última manobra, no entanto, poderia custar a vida de ambos os cosmonautas. Djanibekov pediu permissão ao TsUP. O longo silêncio mexeu com seus nervos, mas, depois de longos minutos, os cosmonautas receberam uma resposta: era necessário tentar.
A volta ao redor da estação ocorreu com sucesso, graças ao treinamento e à experiência de Dzhanibekov. Tudo o que restava era terminar a atracação: no modo manual, era preciso manter uma precisão de centímetros. Se Djanibekov sacudisse o volante mesmo que fosse um milímetro, a Soyuz 7 poderia facilmente danificar a porta de acoplagem, o que resultaria no fracasso da missão.
Djanibekov durante caminhada espacial em 25 de julho de 1984
SputnikA nave congelou por um momento. Os cosmonautas sentiram um leve empurrão, então, o barulho de travas automatizadas soou – eles haviam acoplado com segurança na “morta” Salyut 7.
Mas a operação de resgate estava longe de terminar – era preciso trazer a estação “de volta à vida”. Djanibekov e Savinikh prepararam-se para entrar nos compartimentos silenciosos da estação à deriva. Todo o trabalho teve que ser feito manualmente – os sistemas automatizados estavam com defeito. Eles abriram uma pequena válvula na porta para o ar invadir os compartimentos da Salyut 7; quando a pressão foi equalizada, eles entraram na estação.
Cosmonautas soviéticos (da esquerda para a direita): Vladimir Vasiutin, Gueórgui Gretchko, Viktor Savinikh, Aleksandr Volkov e Vladimir Djanibekov
TASSEles confirmaram que não havia eletricidade na estação. Todos os sistemas estavam desligados e os dispositivos, expostos a baixas temperaturas; não estava claro se seria possível ligá-los novamente. As baterias também não estavam funcionando. Além disso, era perigoso fornecer energia a partir da Soyuz – se a rede elétrica entrasse em curto-circuito, poderia desativar todos os componentes eletrônicos da nave, o que significaria morte certa.
Foto tirada pelos tripulantes da Soyuz T-13
TASSSó havia uma maneira – iniciar a energia da Salyut 7 diretamente a partir de painéis solares. Com os motores da Soyuz, eles posicionaram a estação de forma que a luz solar incidisse sobre os painéis. Os aparelhos da estação começaram a dar sinais de vida. Um dia depois, Savinikh decidiu conectar baterias ao sistema de energia da estação e a Salyut 7 voltou à vida.
No total, os cosmonautas passaram mais de 100 dias na Salyut 7. Durante esse tempo, eles não apenas consertaram a estação, mas também atualizaram a maioria de seus componentes eletrônicos. No processo de reparação, encontraram a causa dos problemas anteriores: um dos sensores das baterias estava falhando e enviou um sinal falso de que todas as baterias estavam totalmente carregadas. O computador de bordo desligou os painéis solares e, certo dia, a energia da estação acabou de vez.
Tripulantes da espaçonave Soyuz T-13 Vladimir Djanibekov (esquerda) e Viktor Savinikh (direita)
Aleksandr Mokletsov/SputnikO TsUP conseguiu restaurar o controle remoto da estação depois de apenas sete dias e os cosmonautas passaram às atividades rotineiras.
Em 21 de novembro de 1985, a Soyuz regressou à Terra, enquanto a Salyut 7 foi deixada em órbita e continuou a operar em modo autônomo.
Em 1990, a estação esgotou sua margem de segurança; começou então a descida de 6 a 8 quilômetros por dia. Na noite de 6 para 7 de fevereiro de 1991, a Salyut 7 entrou na atmosfera superior a uma velocidade de 30.000 km/h, onde praticamente queimou por completo.
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