Pável Yablochkov: como um inventor russo iluminou a Europa inteira

Russia Beyond (Sputnik)
As ruas das principais cidades da Europa foram iluminadas com eletricidade pela primeira vez não graças à invenção de Thomas Edison, mas sim ao cientista russo Pável Yablochkov. Na década de 70 do século 19, sua “luz russa” podia ser vista em quase todas as grandes cidades do mundo: de Paris aos palácios do Camboja.

No final do século 19, qualquer pessoa interessada em tecnologia conhecia bem o termo "lâmpada Yablochkov". A invenção do cientista russo foi um grande avanço, que inspirou muitos colegas na Europa e nos Estados Unidos. Em apenas dois anos, as novas lâmpadas elétricas iluminaram todas as grandes cidades do mundo. A Rua da Ópera em Paris, o Louvre, o Teatro Grand Châtelet, a ponte sobre o rio Tâmisa, o porto de Le Havre e o Teatro de Londres, o Teatro Bolshoi em São Petersburgo, os palácios do Xá da Pérsia, o palácios do rei do Camboja: todas essas atrações turísticas receberam milhares de lâmpadas Yablochkov.

Quem foi Pável Yablochkov?

Pável Yablochkov (também grafado como Paul Jablochkoff) nasceu no Império Russo em 1847, na província de Saratov, a cerca de 700 km de Moscou. Poucas informações sobre sua infância foram preservadas, mas sabe-se que desde cedo ele se destacou pela curiosidade e sempre quis se tornar um projetista.

Depois de receber educação em casa, Pável foi para um colégio de Saratov e, depois, para a Escola Militar de Engenharia em São Petersburgo, onde começou a estudar eletricidade.

Pável Yablochkov.

Poucas pessoas compartilhavam desse interesse de Yablochkov naquela época. O ambiente militar conservador na Escola não facilitava a realização de experimentos, então Yablochkov, com 25 anos nesta época, pediu dispensa para se tornar engenheiro elétrico. Junto com seu amigo Nikolai Glukhov, ele abriu uma oficina de engenheiros elétricos em Moscou. Eles planejavam receber encomendas comerciais para a fabricação de eletrodomésticos. Em paralelo, Yablochkov continuou seus experimentos.

Um dia, ele viu dois eletrodos de carbono se tocarem acidentalmente em um banho eletrolítico, gerando um arco elétrico brilhante. Isso o levou a projetar uma lâmpada de arco sem regulador, hoje conhecida como "lâmpada Yablochkov".

Lâmpada elétrica de arco de carbono, inventada em 1876 por Pável Yablochkov.

A oficina de engenheiros elétricos, porém, acabou sendo pouco lucrativa. Yablochkov estava mais interessado em experimentos do que em vendas. Em pouco tempo, a empresa faliu. Para melhorar sua situação financeira, Yablochkov decidiu viajar para a Exposição da Filadélfia nos Estados Unidos para promover suas invenções. No entanto, só havia dinheiro suficiente para viajar para Paris.

Luz russa na França

Na França, Yablochkov visitou a oficina de relógios da empresa de Abraham Louis Breguet, famoso relojoeiro suíço. O russo mostrou-lhe sua invenção e o empresário lhe ofereceu emprego.

Em 1876, como representante da empresa Breguet, Yablochkov participou da Exposição de Instrumentos Físicos de Londres, onde mostrou sua lâmpada pela primeira vez, chamada na época de "vela elétrica" e recebeu uma patente para a invenção. As notícias sobre a invenção da “luz russa” começaram a se espalhar instantaneamente. O termo "luz russa" ficou gravado em todas as lâmpadas, a pedido do inventor.

Louis Breguet, surpreendentemente, não participou da promoção da lâmpada, mas apresentou Yablochkov a Auguste Deneirouz, um inventor francês que viu um grande potencial na invenção do russo. Deneirouz se encarregou das questões comerciais, das relações públicas e das vendas, enquanto Yablochkov continuou a aperfeiçoar a tecnologia.

Lâmpadas de arco de Yablochkov iluminando o salão de música na Place du Chateau d'eau, em Paris, por volta de 1880.

A primeira versão da lâmpada podia brilhar apenas durante uma hora. Yablochkov conseguiu aumentar o período do funcionamento até duas horas; assim, o invento já podia ser comparado em termos de conveniência a uma vela tradicional. As lâmpadas, porém, eram muito mais brilhantes e confiáveis. Os elementos queimados nas lâmpadas foram inicialmente substituídos por acendedores de lâmpadas mas, mais tarde, Yablochkov criou um mecanismo que substituía as lâmpadas queimadas automaticamente.

Fama curta

Em 1878, o inventor decidiu transferir a produção das lâmpadas para a Rússia, acreditando que o negócio seria muito lucrativo. Junto com seus colegas e amigos, ele comprou o direito para fabricar as lâmpadas da empresa Deneirouz por um milhão de francos, vendendo todas as suas ações da empresa. Foi assim que surgiu uma organização com um nome muito longo: “A Parceria para Iluminação Elétrica e Fabricação de Máquinas e Aparelhos Elétricos - P. N. Yablochkov, o Inventor, e Co.” Suas lâmpadas iluminaram o centro de São Petersburgo e apareceram em navios e fábricas militares.

O Hipódromo de Paris foi iluminado com 128 velas Yablochkov, com aproximadamente um gerador Gramme necessário para cada 20 luzes.

No entanto, por diversos motivos, seu empreendimento não foi bem-sucedido. Na Rússia, a eletrificação em massa das cidades com lâmpadas não foi apoiada pelos governos municipais, que tinham contratos para lâmpadas a gás. Além disso, muitas peças precisavam ser importadas, pois não havia fábricas o bastante na Rússia.

Mas a razão principal para a curta era da "luz russa" foram as lâmpadas incandescentes: as lâmpadas de Yablochkov não resistiram à competição com a ideia de Thomas Edison e a lâmpada incandescente de outro cientista russo, Aleksandr Lodíguin. As lâmpadas incandescentes logo se tornaram iguais em brilho às de Yablochkov, eram mais baratas e podiam brilhar por mais de 1.000 horas.

Pável Yablochkov.

Pável Yablochkov se dedicou a outras pesquisas elétricas. Ele visitou a França várias vezes, mas não conseguiu encontrar emprego, porque já havia perdido a fama de famoso inventor. Na empresa Deneirouz ele não tinha nem ações, nem influência.

As intensas viagens e o trabalho constante prejudicaram sua saúde, e ele sofreu de dois acidentes vasculares cerebrais.

No final da carreira, em 1892, ele finalmente retornou à sua terra natal, onde se hospedou no Central Rooms Hotel, considerado um dos mais baratos de Saratov.

Em seu quarto, Yablochkov criou um pequeno laboratório e, até o fim da vida, continuou trabalhando em suas invenções, em particular no projeto de iluminação de Saratov. No entanto, ele não teve tempo de concluir seu trabalho: Yablochkov morreu em 1894, sendo enterrado na cripta da família, localizada na região de Saratov.

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