No final de janeiro passado, neurocirurgiões e médicos do Instituto de Pesquisa em Primatologia Médica da Rússia instalaram com sucesso um implante neural no cérebro de um babuíno. O dispositivo, chamado ELVIS, promete devolver a visão a pessoas cegas na faixa etária de 24 a 65 anos. Além disso, o aparelho cumpre sua promessa tanto para pessoas que perderam a visão quanto para aqueles que nasceram sem a capacidade de enxergar (desde que seja um adulto com cérebro totalmente desenvolvido).
O ELVIS devolve parcialmente a visão com o auxílio de um implante neural que transfere os contornos dos objetos diretamente para o cérebro, capturando-os com uma câmera acoplada à cabeça da pessoa (ou do babuíno, no caso do estudo). A câmera é fixada em uma faixa de cabeça que pode ser usada durante o dia e retirada à noite antes de dormir. No dispositivo há um sensor que lê as imagens e funciona como um Wi-Fi enviando ondas para o cérebro.
A invenção está atualmente passando por testes pré-clínicos em animais. Os cientistas implantaram o eletrônico no núcleo cerebral de um primata e prosseguirão com a pesquisa após a cura. “Temos cerca de dez testes planejados. Tudo começa com a identificação de formas geométricas. No decorrer dos testes, o primata terá que usar sua nova visão para encaixar os objetos [triângulo, esfera, cubo] nos espaços adequados. Este é o desafio mais básico que nos permitirá determinar como o implante neural se adapta ao cérebro do macaco”, explica Dênis Kulechov, diretor do laboratório Sensor Tech.
Foram selecionados primatas para os testes porque, segundo os desenvolvedores, seu cérebro se assemelha estruturalmente ao humano e é mais adequado a esse tipo de testes.
“Mas nós não cegamos ou traumatizamos o animal de forma alguma. Demos a ele uma segunda visão – computacional – que pode ser ligada remotamente e permitir que ele veja os contornos das formas na escuridão total”, explica Kulechov.
Como é a visão computacional
A visão computacional é radicalmente diferente daquela a que os seres vivos estão acostumados no dia-a-dia. O ser humano é capaz de distinguir entre diferentes cores e detalhes de objetos. No entanto, o implante (no atual estágio de desenvolvimento tecnológico) permitirá apenas a transferência de contornos de forma ao núcleo cerebral.
“O mundo ao redor parece preenchido, como se alguém tivesse usado um marcador preto nele. O indivíduo vê os contornos dos objetos sem detalhes. Simplificando, vê uma pessoa à sua frente, mas não será capaz de identificá-la apenas com os olhos”, diz Kulechov.
Segundo ele, a visão dos contornos permitirá que cegos circulem livremente pelas ruas e usem o transporte público sem o auxílio de cães-guia ou amigos e parentes. No futuro, espera-se que os “detalhes” também possam ser visualizados usando inteligência artificial.
“Adicionamos um assistente de voz, que ajudará o usuário a identificar se é Elena ou Mikhail na sua frente. O chip conterá um banco de dados de seus amigos e parentes, permitindo que o computador identifique a pessoa à sua frente”, acrescentou o desenvolvedor.
Quando será lançado e quanto vai custar?
Os ensaios com voluntários começarão em 2024. Somente após a realização desses testes e a certificação do ELVIS é que o aparelho entrará nos mercados interno e externo.
O ciclo completo (instalação do dispositivo, cirurgia, reabilitação e atendimento clínico) deve custar cerca de cinco milhões de rublos (quase US$ 70.000). No mundo já existem aparelhos análogos, mas os procedimentos custam substancialmente mais do que o projeto russo.
“Aqueles na Rússia que precisarem realizar o procedimento poderão receber um orçamento da cirurgia e realizá-la às custas do governo. O mesmo privilégio não existe no exterior”, diz.
Qualquer pessoa que estiver na Rússia ou no exterior poderá participar do programa. A tecnologia do Sensor Tech estará disponível no final da década de 2020 na Rússia e no início da década de 2030 nos demais lugares do planeta.
Para obter mais informações sobre o novo dispositivo e como ele difere de seus análogos estrangeiros, clique aqui.
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