O que é a OTSC e por que enviou forças de paz para o Cazaquistão?

Militares das forças de paz da OTSC antes de embarcar em um avião no aeródromo de Tchkalovski, na região de Moscou

Militares das forças de paz da OTSC antes de embarcar em um avião no aeródromo de Tchkalovski, na região de Moscou

Ministério da Defesa da Rússia/Sputnik
Mais de 2.500 paraquedistas da Rússia, Bielorrússia, Armênia, Tadjiquistão e Quirguistão foram enviados para Almaty na tentativa de aliviar tensões internas. E conseguiram.

A operação de manutenção da paz da OTSC (Organização do Tratado de Segurança Coletiva, uma aliança militar liderada pela Rússia) no Cazaquistão conseguiu estabilizar a situação no país, afirmou o presidente russo Vladimir Putin nesta segunda-feira (10).

A iniciativa encabeçada pela Rússia foi tomada após eventos descritos pelo presidente cazaque Tokaev como “tentativa de golpe de Estado”. No total, 17 policiais e 26 manifestantes foram mortos e mais de mil pessoas ficaram feridas durante os distúrbios.

Segundo Putin, “em questão de horas”, a OTSC conseguiu evitar o enfraquecimento do poder estatal e a “deterioração total da situação interna”, bem como frustrar qualquer possível atividade de “terroristas, saqueadores e outros elementos criminosos”.

Enquanto o Cazaquistão lentamente volta ao normal, “uma série de locais vitais, incluindo o Aeroporto de Almaty, ficaram livres de terroristas e criminosos”, afirmou o líder russo.

O que é a OTSC?

A Organização do Tratado de Segurança Coletiva é uma aliança político-militar entre seis países pós-soviéticos: Rússia, Cazaquistão, Bielorrússia, Armênia, Tajiquistão e Quirguistão.

Foi criada em 1992 por esses países e pelo Uzbequistão e, alguns anos depois, o Azerbaijão e a Geórgia também aderiram à aliança. No entanto, em 1999, Azerbaijão, Geórgia e Uzbequistão decidiram não estender o tratado e se retiraram formalmente da organização.

Assim como a Otan, a OTSC surgiu da necessidade de proteger seus membros de agressões militares. Um ataque a um país do grupo seria considerado equivalente a um ataque a todos os Estados. Os membros estão proibidos de aderir a outras alianças militares.

A unidade também tem filiais que trabalham juntas contra ameaças terroristas, tráfico de drogas, extremismo e lidam em conjunto com as consequências de desastres naturais. A OTSC tem forças coletivas rápidas (17 mil a 22 mil pessoas), forças coletivas de intervenção rápida (5.000 pessoas) e forças coletivas de manutenção da paz.

Antes da atual situação com o Cazaquistão, houve dois momentos na história da organização em que seus membros solicitaram ajuda.

A primeira ocorreu em 2009, quando o Quirguistão estava à beira de um guerra civil, devido aos graves confrontos entre as diásporas quirguizes e uzbeques no sul do país. A organização participou da resolução do conflito, mas não enviou tropas para a região.

O segundo pedido, no verão de 2021, foi enviado pela Armênia diante da situação na fronteira com o Azerbaijão (após a tomada de Alto Carabaque pelo Azerbaijão no outono de 2020) e a OTSC também rejeitou a intervenção.

Operação da OTSC no Cazaquistão

Por 30 anos, a OTSC permaneceu como uma aliança pacífica realizando exercícios militares coletivos anualmente, porém sem enviar suas tropas a lugar algum. A situação no Cazaquistão tornou-se o primeiro precedente para o envio de forças militares do grupo.

O fundamento jurídico para tomar a recente decisão consta em um parágrafo da carta da OTSC, que pressupõe a “criação e desenvolvimento de um sistema de reação a crises, bem como a eventos que ameacem a segurança, estabilidade, integridade territorial e soberania dos Estados-membros. ”

“Esta é a primeira operação das forças coletivas da OTSC desde o início da organização. As principais tarefas da missão de paz no Cazaquistão serão proteger importantes instalações estatais e militares, bem como ajudar as forças policiais a estabilizar a situação e devolvê-la ao campo jurídico”, disse Igor Korotchenko, editor-chefe da revista ‘Defesa Nacional’.

A força de manutenção da paz inclui unidades da Rússia, Bielorrússia, Armênia, Tadjiquistão e Quirguistão. O contingente conta com mais de 2.500 paraquedistas, acompanhados de blindados leves, veículos de combate anfíbios BMD-4, blindados Tiger e BTR-82A, estações de comunicação via satélite, além de complexos de guerra eletrônica Leer-3.

“Este último sistema provou sua capacidade durante a campanha militar síria. É utilizado para estabelecer uma zona de exclusão aérea para drones de qualquer tipo em uma área de várias dezenas de quilômetros em um curto período de tempo. Também permite rastrear celulares e ouvir comunicações terroristas”, acrescentou Korotchenko.

No entanto, segundo o especialista, trata-se de uma operação de paz para estabilizar a situação nas ruas. “Nenhum tiro foi disparado ainda e as armas serão usadas apenas como recurso final se nossos soldados estiverem em perigo.”

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