Como o hominídeo de Denisova está relacionado ao Homo sapiens?

Ciência e Tecnologia
GUEÓRGUI MANÁEV
Existiu uma criatura humana arcaica como nenhuma outra, que compartilhava um ancestral comum com o Homo sapiens. Ele vivia no melhor lugar do mundo, Altai, na Rússia.

Por que o hominídeo de Denisova é importante?

O hominídeo de Denisova (Homo denisova) é uma espécie extinta de humanos arcaicos. Eles pertencem ao gênero Homo, mas apesar de não serem humanos (Homo sapiens), temos alguns ancestrais em comum. Ao estudar o hominídeo de Denisova, os cientistas podem pesquisar as profundezas do DNA antigo.

De onde vem seu nome?

A caverna Denisova, nas montanhas Altai da Sibéria, na Rússia, foi habitada desde os tempos pré-históricos: primeiro, pelos neandertais e, depois, pelos humanos. A caverna, facilmente acessível para humanos sem nenhuma habilidade em escalada e localizada perto da água, oferece um abrigo muito confortável. Sua área interna é de 270 metros quadrados. Ao longo do tempo, 20 estratos arqueológicos se formaram na caverna.

A caverna foi descoberta como um sítio arqueológico na década de 1970. Os primeiros restos mortais dos hominídeos de Denisova foram encontrados em 1984, 2000 e 2010, mas foram considerados restos neandertais. Só em 2008, com a descoberta do dedo de uma menina, o hominídeo de Denisova finalmente foi identificado.

Quais restos de hominídeos de Denisova foram encontrados?

Até agora, um osso do dedo, três dentes, alguns fragmentos de osso e um crânio foram encontrados na caverna de Denisova. Além disso, um pedaço de maxilar encontrado no Tibete em 1980 também foi identificado como pertencente ao povo denisovano.

O que há de tão peculiar no hominídeo de Denisova?

O osso do dedo encontrado em 2008 (identificado no final de 2017 como pertencente a uma garota de 7 a 12 anos, de pele escura e olhos castanhos) foi estudado por uma equipe do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária, em Leipzig, liderada pelo geneticista sueco Svante Pääbo.

Eles concluíram que o DNA do hominídeo de Denisova difere do DNA humano em 385 nucleotídeos (blocos básicos de construção do DNA), enquanto o DNA humano e o neandertal têm apenas 202 nucleotídeos diferentes. Basicamente, os hominídeos de Denisova eram uma espécie proto-humana antiga e complexa.

Em fevereiro de 2019, foi feita a última descoberta (até agora) na caverna Denisova: outro osso do crânio de um hominídeo de Denisova, o maior exemplar encontrado até então.

Como eram os hominídeos de Denisova? O que eles faziam?

Temos muito, muito pouca informação sobre a aparência deles. A julgar pelo tamanho dos dentes e do maxilar, os hominídeos de Denisova eram maiores que os humanos. Eles tinham pele escura. Suas mandíbulas eram mais compridas e volumosas, seus rostos eram mais largos que os dos humanos. No entanto, ainda não existe nenhuma reconstrução confiável da aparência do hominídeo de Denisova.

A população de Denisova, como mostra o estudo genético de 2019, vivia nas altas montanhas do Tibete. Como mostram as descobertas da caverna Denisova, seu povo era muito proficiente na fabricação de ferramentas, superando em muito os humanos contemporâneos – isso para não falar nos neandertais.

Eles usavam ossos de pássaros como agulhas e criaram joias primitivas, como colares e pulseiras. Os denisovanos usavam técnicas complicadas de processamento de pedras, como o mandrilamento, o lixamento e o polimento. Os seres humanos atingiram esse nível de proficiência apenas na Idade do Bronze (a partir de 3.500 aC). Parece que os hominídeos de Denisova também trocavam materiais preciosos com populações distantes.

Hominídeos de Denisova, neandertais e humanos: qual a relação entre eles?

Denisovanos e neandertais tinham um ancestral comum e se separaram aproximadamente 390.000 anos atrás. O ancestral desse ancestral comum, o antecessor Homo, provavelmente viveu um milhão de anos atrás.

O povo denisovano provavelmente se originou da África há cerca de 750.000 anos. Ele deixou o continente mais cedo do que o Homo sapiens. Viatcheslav Ivánov (1929-2017), um dos principais antropólogos e especialistas indo-europeus da Rússia, achava que os denisovanos deixaram a África mais cedo que os humanos e migraram para Altai. Milhares de anos depois, quando as espécies de Homo sapiens chegaram a Altai, encontraram o povo denisovano e cruzaram com ele, acreditava Ivanov.

Os denisovanos ainda viviam na caverna Denisova entre 170.000 e 110.000 anos atrás. Havia pelo menos dois grupos de denisovanos com 65.000 anos entre eles. Por um longo período, os denisovanos e neandertais coexistiram nesta caverna e até produziram híbridos.

Em 2018, estudos mostravam que um fragmento ósseo de 2012 de uma garota Denisova possuía 36,6% do DNA neandertal e 42,3% do DNA denisovano, o que significa que a menina era um híbrido de primeira geração de uma mãe neandertal e um pai denisovano.

Em 2014, ficou claro que o povo tibetano podia se adaptar a ambientes hipóxicos, ou seja, com baixo oxigênio, típicos de planaltos de altitude, já que ele herdou um gene da via de hipóxia, EPAS1, de ancestrais denisovanos.

Assim, dados de DNA sugerem que os denisovanos provavelmente viveram no Tibete e aprenderam a se adaptar ao seu ambiente. As linhas de DNA denisovano foram descobertas também no DNA dos povos indígenas da Nova Guiné. Dados arqueológicos e dados de DNA sugerem que as três espécies (humano moderno, neandertal e denisovano) viveram na caverna Denisova em momentos diferentes, e que as três espécies produziram híbridos entre si.

 

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