Atualmente, a Rússia tem 658 casos confirmados de coronavírus e 1 morte. Os números não são tão assustadores quanto os da China ou da Itália, mas, a cada dia, o número de casos confirmados aumenta em várias dezenas.
Nos supermercados, há correria para estocar trigo-sarraceno, papel higiênico e desinfetantes; os viajantes que retornam de viagens ao exterior se autoisolam por duas semanas, enquanto os hospitais estão se preparando para mobilização em caso de emergência. O Russia Beyond reuniu abaixo algumas declarações de médicos russos sobre a pandemia e previsões de como irá evoluir pelo mundo.
“O Covid-19 dura mais do que uma infecção viral respiratória aguda comum, de duas a três semanas, e às vezes leva a uma pneumonia avassaladora – é só então que a intervenção médica, a hospitalização, a ventilação artificial e as outras coisas que vocês têm medo, se tornam necessárias. A regra é simples: se você começar a sentir falta de ar, procure um médico com urgência. Não existem estratégias ou medicamentos eficazes que possam reduzir o risco de falta de ar com Covid-19.
Há boatos de que as crianças não são infectadas pelo coronavírus e de que não apresentam perigo para os idosos. É uma mentira, [as crianças] ficam doentes, embora de forma mais branda e com menos frequência. Do ponto de vista epidemiológico, com qualquer doença, são os portadores assintomáticos ou com sintomas muito leves que apresentam maior perigo (já que os outros não se protegem deles). De acordo com pesquisas recentes, até 10% de todos os casos de Covid-19 são provenientes de portadores assintomáticos. Acrescente a isso o hábito de abraçar e beijar crianças, a higiene das crianças – e você chegará à conclusão de que elas podem ser mais perigosas para idosos do que os adultos. Eu recomendaria limitar ao máximo possível o contato das crianças com seus avós, para protegê-los. Em outras palavras, o temer pelos filhos deve ser a última coisa agora.”
“O coronavírus é bastante ativo no corpo humano. No início da epidemia, esperávamos que a possibilidade de transmissão de pessoa para pessoa fosse muito pequena. Mas o vírus provou que sofre grande mutação e ocupou seu nicho.”
“Ele continuará a se espalhando pelo planeta por muitos anos: se tornará sazonal e se juntará a uma coorte de vírus sazonais clássicos. Seus irmãos representam cerca de 10% do número total de infecções do trato respiratório superior em determinada população em uma estação. Mas não colocamos ninguém em quarentena [por causa deles]. O covid-19 é um vírus comum do trato respiratório superior. Não há nada de interessante ou assustador nele. Sim, causa mortalidade em idosos e gravemente enfermos. Mas o surto que vimos na China, não havia nada de extraordinário: menos de 100.000 pessoas infectadas em uma cidade com uma população de 20 milhões. Cerca de 81% de todos os casos de infecções se passam quase sem sintomas ou com manifestações leves de uma infecção viral respiratória aguda.
Atualmente (e isso é algo para se orgulhar), a velocidade da pesquisa e compreensão da patogênese da infecção por coronavírus é o campo científico que mais cresce e o que responde mais rápido no mundo. Considere a quantidade de informações que recebemos em menos de três meses... Para muitas infecções, são necessários anos para coletar uma quantidade semelhante de dados. Pessoalmente, duvido das perspectivas de criação de uma vacina contra o coronavírus. Há pesquisas em andamento. A China e os EUA estão trabalhando ativamente nisso, mas, infelizmente, não temos um único resultado confirmado de uma vacina criada contra vírus semelhantes do mesmo subtipo. Por enquanto, isso é tecnicamente impossível.”
“É muito cedo para dizer que o novo coronavírus pode se tornar sazonal, mas é bem provável. A pandemia não vai terminar se não houver mais pessoas suscetíveis ou se estiver contida. O último [cenário] é improvável, devido à sua contagiosidade (e a única a esperança é uma vacina), mas o primeiro está longe de ser real, porque, pelo que sabemos, o coronavírus não cria imunidade para a vida toda. Após uma queda sazonal causada pelo clima quente e raios ultravioletas, aos quais o coronavírus é avesso, a epidemia pode ocorrer novamente.
Pode ser que a epidemia só possa ser realmente combatida em regimes totalitários, onde você vai levar um tiro se não por estar infectado (como notícias falsas da Coreia do Norte), por violar o toque de recolher. A China, estritamente organizada, lidou com a epidemia com um golpe violento: 3.000 mortes em uma população de 1,3 bilhão – é um tremendo sucesso. Não tenho certeza de que isso possa ser replicado nos sistemas liberais, onde há mais respeito pelos direitos humanos.
Quanto à mortalidade, o novo coronavírus é muito mais perigoso do que a gripe sazonal em todas as faixas etárias acima de 10 anos. No entanto, entre os pacientes com menos de 50 anos, a mortalidade ainda está abaixo de 1%. Muito provavelmente, a porcentagem será ainda mais baixa, quando o pico acabar e forem encontrados novos meios de combater a infecção. A mortalidade por Covid-19 chegará provavelmente ainda mais perto da da gripe sazonal. A gripe espanhola (causada pelo mesmo vírus H1N1 da influenza A, da gripe suína de 2009, e, como a maioria da gripe sazonal todos os anos) era muito mais perigosa do que o novo coronavírus.”
“Temos pacientes com mais de 65 anos, mas o caso deles não é grave. Moscou não tem um único paciente em ventilação artificial. Nove pessoas estão em terapia intensiva, mas não estão em estado crítico.
Não sabemos quando a epidemia atingirá o pico. Estamos apenas fazendo nosso trabalho. Agora está na moda criticar o sistema de saúde, mas temos uma equipe que funciona bem. Admiro meus médicos, eles trabalham além do horário, voluntários estão reforçando a equipe. A imprensa deve acabar com essa histeria: o pânico atrapalha, e as pessoas recorrem às clínicas sem razão, desperdiçando recursos.
Não é necessário que pessoas saudáveis usem máscaras – elas não ajudam. Nossos médicos usam respiradores FFP2 com uma roupa de proteção que cobre todo o corpo. Usar uma máscara como essa na rua criaria apenas mais histeria nas pessoas. A máscara por si só não impedirá a propagação do vírus, apenas o autoisolamento. Como médico, sou a favor de fechar a cidade. A questão é quanto isso custaria. A questão é onde isso seria excessivo.”
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