Desde a criação primeira bomba nuclear soviética até o surgimento da internet russa, o Instituto de Energia Atômica Kurtchátov (grafado também, por vezes, como “Kurchatov) sempre foi o berço da inovação na Rússia. Em 2018, a instituição celebrou o 75º aniversário de fundação.
"Os reatores nucleares projetados no Instituto e usados na nossa indústria, construção naval, medicina, espaço e defesa tornaram-se símbolos do poder do nosso país", declarou o presidente russo Vladimir Putin na cerimônia de aniversário do instituto.
Laboratório Secreto No. 2
Fundado em 1943, o Instituto Kurtchátov foi originalmente batizado como "Laboratório N° 2". Em todos os documentos oficiais, o laboratório era citado como “oficina de montagem”. Neles, também se referia ao “urânio” como “silício”. Os especialistas do instituto passavam por uma série de verificações de segurança obrigatórias, seguindo as leis sobre segredos de Estado soviéticos.
Foi só em 1960 que o instituto recebeu seu nome atual, em homenagem a seu primeiro chefe, o renomado físico nuclear Ígor Kurtchátov. Sob seu comando durante os primeiros 15 anos de funcionamento, o laboratório foi responsável por criar a primeira bomba nuclear soviética em 1949, além de desenvolver o primeiro ciclotron em Moscou, em 1944; o primeiro reator nuclear em Europa, em 1946; a primeira bomba termonuclear do mundo, em 1953; a primeira usina nuclear industrial do mundo, em 1954; o primeiro reator nuclear soviético para submarinos, em 1958; quebra-gelos nucleares, em 1959; e a maior instalação para reações termonucleares controladas, em 1958.
Os colegas e amigos de Kurtchátov lembravam dele como um líder enérgico e alegre que tinha tempo para tudo: ele visitava pessoalmente todas as instalações do instituto e conversava com todos os colegas.
"Entre as milhares de pessoas que trabalhavam no setor nuclear naquela época, não havia ninguém mais popular e mais respeitado do que esse gigante de passos vagarosos e desajeitados que tinha os olhos sempre radiantes...", escreveu Anatóli Aleksandrov, físico e segundo diretor do Instituto Kurtchátov.
Principais descobertas
Em 1968, o instituto obteve resultados do confinamento do plasma usando um “tokamak”, o reator experimental de fusão nuclear com bobinas magnéticas. Criado no Instituto Kurtchátov, o tokamak tornou-se a principal ferramenta de pesquisa para a fusão termonuclear controlada no mundo inteiro.
Nos anos 1970, a instituição desenvolveu tecnologias microeletrônicas, entre elas, a implantação de íons, litografia, química do plasma, filmes finos. Isto se tornou a base para o desenvolvimento da nanotecnologia, a criação de sistemas híbridos e os supercomputadores.
Em 1975, o instituto criou um novo e enorme tokamak, o T-10, que é usado até hoje para verificar equipamentos para o ITER, o primeiro reator termonuclear experimental do mundo.
O Instituto Kurtchátov também está diretamente ligado ao surgimento da internet na União Soviética. Em 1 de agosto de 1990, a primeira rede de computadores Relcom foi criada no Instituto Kurtchátov. A rede conectou os computadores de instituições científicas em Moscou, Leningrado, Novossibírsk e Kiev.
Hoje, as principais atividades do centro continuam sendo o desenvolvimento seguro de energia nuclear, a fusão termonuclear controlada e os processos de plasma, física nuclear de baixa e média energia, física do estado sólido e supercondutividade, química de méson.
Além disso, realizam-se ali pesquisas em nano e biotecnologia, na criação de novos materiais e medicamentos. Entre os projetos mais interessantes do instituto está o desenvolvimento de soluções para proteger os seres humanos da radiação no espaço e que deverão auxiliar nas viagens espaciais de longo prazo, além de estudos de meios para se livrar de memórias negativas para fins de reabilitação.