8 gênios russos da computação que ganharam viagens para a conferência da Apple WWDC

Arquivo pessoal
Para ir atrás de seus projetos, alguns largaram a escola - enquanto outros fizeram o exato oposto, voltando a estudar aos 40 anos de idade. Mas uma coisa é certa: eles não estão nem cogitando fazer parte de uma fuga de cérebros.

Em uma noite de abril, o petersburguense Kiríll Averianov, de 17 anos, esperava por um e-mail muito importante. Mas ele nunca chegou e o moço foi dormir. Só que, naquela mesma noite, Kiríll acordou de repente com o e-mail que esperava: “Você ganhou”. O sonho deste jovem desenvolvedor se tornava realidade: ele iria à WWDC (Worldwide Developers Conference da Apple), realizada entre 3 e 7 de junho de 2019, em San Jose, na Califórnia, Estados Unidos.

Participar desta conferência é uma experiência incrível para qualquer desenvolvedor, já que esta é uma oportunidade única de se relacionar com engenheiros da Apple, receber recomendações sobre como melhorar a programação e ver os principais chefes de uma das empresas mais caras do mundo (e que, claro, são estrelas inalcançáveis para o público em geral).

A conferência da WWDC é exclusiva e não pode receber todos os que querem participar dela, vindos dos quatro cantos do mundo. É por isso que há um sorteio. Mas os felizardos ainda têm que pagar US $ 1.600 para participar, além de cobrir todos os custos de voo para os EUA e as taxas de acomodação no nada simplório Vale do Silício.

Estudantes do ensino médio e universitários talentosos, porém, podem participar da WWDC gratuitamente por meio de seleção para bolsa de estudos. Foi assim que oito russos foram parar na conferência deste ano (na verdade, mais russos foram selecionados, mas nem todos conseguiram o visto para os EUA a tempo).

Trabalhar, estudar e fazer negócios

A maioria dos russos participando da WWDC neste ano esteve lá pela primeira vez. Mas o moscovita Filip Zakhartchenko, de 18 anos, é exceção: ele foi a San Jose pela quarta vez consecutiva!

Filip foi o primeiro e único estudante a fazê-lo. Agora que terminou o colégio, ele já foi aceito em sete universidades mundo afora e poderá escolher a que quiser. O boletim dele mais parece um currículo de diretor técnico ou de empreendedor de startups em série. O rapaz foi cofundador de uma plataforma on-line para a criação de pesquisas de opinião pública chamado “CrowdBack”, fundou um estúdio para desenvolvedores de software com especialistas do mundo todo e criou uma porção de aplicativos.

Filip Zakhartchenko.

E os êxitos dos outros selecionados são tão impressionantes quanto os de Filip. Eles dão duro nos estudos, trabalham em grandes empresas e já lançaram ou estão prestes a lançar seus próprios projetos.

Aleksêi Teplonogov, de 24 anos, estuda na Universidade Técnica Estatal Bauman, em Moscou, uma das principais universidades de tecnologia da Rússia, e trabalha no Tinkoff, um dos maiores bancos privados do país.

“Quando comecei a trabalhar, vi muitos desenvolvedores para iOS vestindo produtos de merchandise da WWDC e pensava  que isto era impossível, que o evento fosse restrito apenas a uma elite. Mas é tudo verdade!”, conta Aleksêi.

Aleksêi Teplonogov.

  Aleksêi Teplonogov.

Já o petersburguense Kiríll Averianov poderia ter ido à WWDC ainda em 2018 comprando ingresso pelo gigante russo da tecnologia Mail.Ru Group, onde trabalha. Mas ele se recusou a fazê-lo porque queria ser selecionado.

Kiríll trabalha em aplicativos empresarias para o VKontakte, a maior rede social russa, que é de propriedade do Mail.Ru. Além disso, ele desenvolveu no ano passado, de forma independente, o aplicativo para iOS “Klever”, que traz testes em tempo real e caiu nas graças de milhões de pessoas. Kiríll também organiza as reuniões de desenvolvedores “CocoaHeads” na Rússia e está trabalhando em um aplicativo de meditação chamado “Green”.

Kiríll Averianov.

Com sua mente brilhante, o moço resolveu, porém, deixar a escola. “Quando recebi uma oferta do VKontakte, no final da 10° série, em 2017, avaliei todos os riscos e percebi que era melhor ir trabalhar e me desenvolver profissionalmente do que ficar sentado mofando. Fui para uma escola particular e achava que conseguiria estudar nos finais de semana, mas não deu certo e deixei a ideia de lado”, explica.

O fato de não ter terminado a escola não impediu de entrar na lista dos “30 com menos de 30 anos” (30 under 30 years) da Forbes Russia.

Como deixar a Apple feliz

A Apple valoriza ideias originais mais que outros detalhes, segundo o moscovita Artiôm Belkov, de 21 anos. Aluno do quarto ano da Bauman, ele passou duas noites criando um laboratório virtual para experimentos.

“Usando  meu projeto, os estudantes poderão estudar tanto programação quanto física. Para modelar um fenômeno físico, eles precisarão escrevê-lo como um código”, diz Artiôm. Ele também trabalha em meio período no Mail.Ru Group, já há dois anos, enquanto organiza uma lista de ideias para futuros projetos.

Artiôm Belkov.

Diferentemente de Belkov, Anatóli Iagov, de 23 anos, trabalhou em seu aplicativo da WWDC todas as noites por um mês e meio. Como resultado, criou um modelo de aeroporto personalizável, que funciona com a “teoria das filas” em realidade aumentada. Iagov trabalha na indústria de softwares Expert-System, onde faz aplicativos de automação para corretores e especialistas do setor financeiro.

Anatóli Iagov.

Antôn Mulko, assim como Anatóli, estuda na prestigiosa Universidade de Tecnologia e Telecomunicações Bontch-Bruieviych, em São Petersburgo, e é também é um colega de Aleksêi Teplonogov, com quem desenvolve aplicativos para iOS no Tinkoff Bank. Antôn tem 22 anos e começou a aprender Swift - a linguagem de programação da Apple - há apenas quatro meses.

Antôn planeja aperfeiçoarseu projeto para a bolsa da WWDC e lançá-lo na AppStore como um jogo. É um jogo de plataforma, do tipo Mario, com controle de voz. O aplicativo analisa o som em tempo real e o verte para comandos: “Quanto mais alto você grita, mais rápido o personagem se move. É muito engraçado, porque a pessoa fica gritando com o smartphone”, explica.

Antôn Mulko.

Academia de desenvolvedores

Vassíli Martin, ao contrário dos rapazolas anteriormente citados, tornou-se estudante novamente aos 40 anos de idade e logo ganhou uma bolsa para a WWDC da Apple. Ele trabalhou anteriormente para uma grande empresa de tecnologia, mas resolveu virar analista de negócios.

Ele deixou o emprego para se inscrever na Apple Developer Academy, em Nápoles, na Itália, onde cerca de 350 pessoas estudam por nove meses. Vassíli planeja começar um empreendimento quando se formar.

Vassíli Martin.

A Apple cobre os custos de 5% dos alunos da academia (o creme de la creme do curso, claro), e Vassíli faz parte desta nata.

Segundo ele, a Apple Developer Academy não é, de forma alguma, uma faculdade, mas uma espécie de comunidade de pessoas empolgadas e que trocam ideias, criam coisas novas, participam de hackathons.

Seu projeto atual na academia é um aplicativo chamado “Colors Keeper”. “Com ele, as crianças desenvolvem um certo tipo de pensamento: o Pensamento Computacional. Ele não é programação, mas sim a capacidade de encontrar e resolver problemas de uma maneira que o computador possa auxiliar”, explica Martin.

O aplicativo usa realidade mista: desenhos feitos à mão devem ser fotografados e transformados em objetos de jogo para que o personagem possa se mover no nível. O conceito exige trabalho em equipe de várias crianças, já que não é fácil mudar o tempo todo do iPad para a folha de papel. "Um dos objetivos é fazer com que isso se assemelhe com um jogo e não com uma tarefa", diz Vassíli.

Ir ou ficar?

Iákov Manchin, de 21 anos, estuda na Escola Superior de Economia, uma das principais do setor na Rússia, em Moscou, e desenvolve aplicativos corporativos para a “Chanel” no país. No tempo livre, ele desenvolveu o aplicativo Space Photos, onde se pode ver novas fotos da NASA de estrelas, planetas e outros corpos celestes e ler sobre eles.

Iákov Manchin.

Há alguns anos, ele baixou um livro gratuito da Apple e começou a aprender a linguagem Swift.

“Meu caso mostra que é preciso apenas um ano na Rússia para conseguir um emprego decente e começar a fazer coisas grandiosas. Há uma grave escassez de especialistas no mercado e, consequentemente, o salário está superaquecido”, diz Iákov.

Os desenvolvedores de dispositivos móveis ganham muito mais no exterior, mas o custo de vida também é maior, argumenta seu colega Anatóli Iágov. “Nossos desenvolvedores acabam ganhando menos no exterior do que na Rússia, se calcularmos seu lucro líquido”, diz.

"Conheço cada vez mais desenvolvedores que dizem que é bacana e confortável morar na Rússia. Posso alugar um apartamento no centro de São Petersburgo pelo preço de um quarto nos arredores de São Francisco", explica Kiríll Averianov.

O único problema é que não há tantas empresas interessantes na Rússia, diz Iákov Manchin. “Aqui você pode ganhar um salário relativamente alto e trabalhar em projetos chatos. Em outros países, você receberá um salário mais baixo, mas estará em coisas interessantes”, diz.

De qualquer maneira, a percepção mundial geral é a de que os desenvolvedores russos são profissionais e talentosos, ressalta Kiríll Averianov. "É por isso que eles estão sendo tão buscados por empresas globais como Badoo e Facebook!", diz.

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