Mudanças climáticas estão provocando ‘holocausto’ de aves no Ártico, dizem pesquisadores

Charadrius morinellus

Charadrius morinellus

Wisniewski. W./Global Look Press
Alterações no clima podem se tornar sentença de morte para espécies costeiras na região, como os maçaricos. Número de ovos roubados dos ninhos por predadores aumentou três vezes nos últimos 70 anos.

Uma equipe de cientistas da Rússia, China, Reino Unido e outros países analisou as “taxas de predação” em ninhos e descobriu que os índices são hoje mais altos no Ártico do que nos trópicos. As descobertas alarmaram os cientistas já que, durante anos, o Ártico foi um refúgio seguro para as aves depositarem seus ovos.

No estudo publicado na revista Science, os pesquisadores analisaram mais de 38.000 ninhos de 237 populações de aves limícolas (pássaro de pernas longas que vive na água) em 149 zonas costeiras espalhadas pelo mundo.

Outras espécies no mesmo caminho

“Nossa pesquisa mostrou pela primeira vez que a mudança climática leva a alterações na relação entre os predadores e suas presas em escala global”, explica Pável Tomkovitch, um dos estudos autores e chefe do departamento de Ornitologia do Museu Zoológico na Universidade Estatal de Moscou.  

Maçarico-de-bico-fino

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Tomkovitch estuda a evolução das aves pernaltas no Ártico desde 1973. Ele participou do monitoramento da população de maçaricos de areia em uma região de Tchukotka, no Extremo Oriente da Rússia, e ajuda a encontrar ninhos para o programa de reprodução em cativeiro. Tomkovitch acredita que, assim que certos tipos de pássaros desaparecem, outras espécies podem seguir o mesmo destino.

“Se não houver diversidade, os animais não vão conseguir mudar de um alimento, que diminuiu drasticamente em quantidade, para outro”, explica. “Isso leva a uma reação em cadeia e possível extinção de espécies inter-relacionadas.”

Uma armadilha ecológica

Por anos, as aves preferiam depositar seus ovos em lugares mais frios. Os maçaricos-semipalmados, os maçaricos-acanelados, as batuíras-do-campo, os batuiruçus-de-axila-preta e muitas outras aves migratórias se dirigem ao Ártico todos os anos.

Esta sempre foi uma área relativamente segura em relação a predadores, e onde podiam desfrutar de uma abundancia de insetos. Os ninhos nos trópicos eram muito mais propensos a sofrer ataques de, por exemplo, roedores.

Charadrius morinellus

No entanto, esse padrão foi recentemente revertido no Hemisfério Norte, incluindo todo o continente da América do Norte e Europa, a maior parte da Ásia, aproximadamente dois terços da África e cerca de 10% da América do Sul.

O Ártico é a região mais afetada e representa agora uma extensa armadilha ecológica para aves migratórias. Mas não é a única área em que as aves estão desaparecendo.

Os cientistas dispõem atualmente de dados sobre 192 espécies de maçaricos no mundo. Segundo Tomkovitch, os números estão caindo em 57% dessas espécies. “Nas últimas décadas, o maçarico-de-bico-fino desapareceu na Rússia”, diz. 

Por que pararam de se reproduzir?

Tomkovitch também descobriu uma redução no número e na área de distribuição do borrelho-ruivo, da Eurásia, um pequeno pernalta na família de caradriiformes (aves de pequeno a médio porte com corpos compactos, pescoços curtos e finos e asas normalmente pontudas). “Encontrei ninhadas de filhotes um quarto de século atrás em Tchukotka, mas desde então a espécie parou de se reproduzir naquela vasta região. Em 2000, meus colegas e eu identificamos uma queda acentuada no número de ninhos de maçaricos em Tchukotka.”

Recentemente, Tomkovitch e seus colegas também descobriram uma redução significativa no número de outros tipos de maçaricos, especialmente aqueles que sobrevoam a costa do Pacífico na Ásia.

Calidris pygmeus

De acordo com a pesquisa, as aves limícolas que utilizam a rota migratória da Ásia Oriental –que se estende pelo leste da Ásia, terminando no nordeste da Rússia – foram as mais afetadas. Cerca de 20% das aves nessa rota já tem populações ameaçadas por causa do excesso de pessoas e da infraestrutura crescente.

“Nos últimos 50 anos, 65% das áreas úmidas, o principal habitat das aves pernaltas, foram transformadas na China”, explica Tomkovitch. “A mudança climática, causada por seres humanos, se soma a isso. A humanidade deve perceber que nossos recursos naturais não são infinitos. É necessário preservar as condições de vida e ninhos.”

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