Nova bomba nuclear dos Estados Unidos, nova corrida armamentista?

Ciência e Tecnologia
NIKOLÁI LITOVKIN
Com a B61-12, que poderá ser a primeira arma nuclear do mundo a ser utilizada em conflitos locais, Pentágono poderia incentivar Rússia a desenvolver um armamento próprio equivalente.

A força aérea dos EUA realizou com sucesso experimentos de sua última bomba voadora, a B61-12. Esta é, mais especificamente, a décima segunda modificação de uma bomba nuclear que os Estados Unidos criaram em meados da década de 1960.

O novo modelo conta com duas inovações principais: a capacidade de ajustar o rendimento da ogiva nuclear, de 5 a 100 quilotoneladas, além de incorporar um sistema guiado de alta precisão.

Esta bomba aérea de queda livre que não era guiada se transformou em uma arma de alta precisão que, segundo o exército dos EUA, permite que os pilotos de bombardeiros a lancem sem que os sistemas de defesa aérea inimigos possam alcançá-la.

“A principal novidade da B1-12 é sua capacidade de ser manobrável. A parte da cauda conta com um equipamento de navegação, piloto automático e as aletas dirigíveis”, disse ao Russia Beyond o professor da Academia de Ciências Militares da Rússia Vadím Koziúlin.

Assim, a bomba já não precisa ser lançada com um sistema de paraquedas: o bombardeiro precisa simplesmente subir à maior altitude possível e deixá-la cair.

Então, a bomba voa de maneira autônoma até o alvo, mudando de trajetória com o passar do tempo.

Espera-se que as primeiras bombas nucleares deste tipo entrem em serviço na força aérea dos EUA a partir de 2020. A munição será transportada nos bombardeiros estratégicos B-2 Spirit e B-21 Raider.

A bomba B61-12 também será instalada no caça de quinta geração F-35. Em 2015 já foram realizados voos de teste com munições deste tipo, que foram transportadas no compartimento interno de armas da aeronave.

Os primeiros lugares a serem rearmados com estes novos equipamentos serão as bases europeias da força aérea dos EUA. As novas bombas substituirão os arsenais dos aeródromos de Büchel (Renania-Palatinado, Alemanha), Incirlik (Turquia) e Aviano (Itália).

Ponto crítico

Além disso, uma característica essencial do armamento é a possibilidade de ele ser suspenso sob as asas do bombardeiro F-35, avião que representará também um importante fator de mudança nos conflitos locais futuros.

O uso desta arma nuclear tática em conflitos locais e guerras contra militantes faz com que se abra a possibilidade de que outras potências nucleares usem ogivas nucleares de baixo rendimento na Ásia, Europa e qualquer outro lugar.

“Por sua própria natureza, as armas nucleares estão sujeitas a muitas variáveis. Durante a operação Tormenta do Deserto, de 1991, os EUA queriam destruir todo o sistema de defesa aérea do Iraque com a detonação de uma carga nuclear de baixo rendimento no ar e da criação de um pulso eletromagnético. Mas o Pentágono fez os cálculos e supôs que depois disso a Rússia também empregaria uma bomba eletromagnética em qualquer conflito militar, e o comando militar desistiu da ideia”, explica o analista militar da agência de notícias Tass, Víktor Litovkin.

Isto está despertando a preocupação dos especialistas militares russos. Eles afirmam que a nova doutrina de dissuasão nuclear dos EUA permite que a Rússia utilize armas nucleares táticas em conflitos locais quando achar conveniente. “Isto é muito perigoso”, diz Litovkin.

Além disto, ele afirma que os EUA poderiam, de qualquer maneira, reduzir mais o rendimento do Mod-12.

“Seria possível reduzir a um nível mínimo equivalente a 300 toneladas de dinamite. Para se compara, seria somente 2% do rendimento da bomba lançada sobre Hiroshima”, diz.

Resposta russa?

A notícia de que os  EUA têm uma nova bomba provocou uma resposta forte dentro da comunidade militar russa. O mundo todo já sabe, há muito tempo, que se realizam seus testes.

Os dois países chegaram a um ponto em que precisam mudar seus antiquados sistemas nucleares e preservar a paridade nuclear. “O fator de dissuasão da ‘destruição mútua’ ajuda os políticos a agirem racionalmente ao invés de se guiarem pela emoção, como pode acontecer com frequência, diz Koziúlin.

Por outro lado, a Rússia há tempos se dedica a melhorar seus arsenais nucleares, desenvolvendo o míssil nuclear “náutico” intercontinental Bulavá, o Sarmat baseado em terra e sistemas que antes só se podiam entrever em filmes de ficção científica. Um deles é o Burevéstnik, míssil de cruzeiro com propulsão por motores nucleares que pode voar até o alvo a velocidades supersônicas, dando voltas ao redor da Terra quantas vezes for necessário.

“Não faz sentido esperar que se deem novos passos políticos ou militares. Os sistemas táticos operativos Iskander-M já estão em uso no exclave europeu de Kaliningrado e na península da Crimeia. Eles podem neutralizar completamente a ameaça que representam as bases aéreas dos EUA na Europa. Além disso, na próxima década entrarão em circulação os sistemas S-500 Prometêi, que podem destruir mísseis hipersônicos atualmente sendo desenvolvidos por exércitos estrangeiros”, diz Litovkin.

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