Ilustração: Tatiana Pereliguina
O acordo nuclear entre o Irã e o chamado grupo P5+1 (EUA, Rússia, China, França e Reino Unido, mais a Alemanha) é um dos acontecimentos positivos mais significativos da política mundial dos últimos tempos.
Em função dele, o regime de não proliferação de armas nucleares está sendo reforçado, surgem oportunidades adicionais para a unificação de esforços das principais potências mundiais no Oriente Médio e em outras regiões em crise, e pode-se esperar uma reação positiva por parte dos mercados mundiais.
Agora estabelecido, o precedente iraniano merece uma análise extremamente cuidadosa com a finalidade de aproveitar a experiência adquirida para a solução de outros problemas internacionais.
Foco e respeito
Em primeiro lugar, vale a pena destacar que o acordo foi alcançado em meio a um cenário difícil nas relações entre a Rússia e o Ocidente. Os negociadores conseguiram excluir esse cenário do foco do processo de negociação, evitar a desagregação do Grupo 5+1, preservar as posições comuns e chegar a um resultado bem sucedido.
Cabe lembrar que o objetivo proposto era claro e preciso e, portanto, não permitia abordagens arbitrárias e interpretações unilaterais.
Além disso, o P5+1 e o Irã conseguiram, de um modo geral, isolar o processo de negociação da influência da política interna.
Ao longo dos anos que se passaram desde o início das negociações ocorreram repetidas trocas de presidentes e primeiros-ministros na maioria dos países participantes; também a composição das equipes de negociadores sofreu alterações. No entanto, a vontade política e o foco na solução do problema, presentes em ambos os lados, acabaram vencendo.
As negociações transcorreram de forma áspera, porém, com uma relação de respeito baseada no esforço de compreender a posição das partes, sem impingir uma retórica hostil nem desencadear guerras de propaganda.
Parceria EUA-Rússia
O acordo referente ao programa nuclear do Irã demonstrou mais uma vez a importância do diálogo russo-americano no cenário atual. Foram justamente as ações bem afinadas da Rússia e dos Estados Unidos que asseguraram, em grande parte, a obtenção desse acordo.
O exemplo iraniano, assim como o recente exemplo da eliminação de armas químicas na Síria, evidenciou que Moscou e Washington continuam sendo os principais atores para o fortalecimento do regime de não proliferação de armas nucleares e de outros tipos de armas de destruição em massa.
Ainda é cedo para falar em uma solução definitiva para a questão nuclear iraniana. Mas a principal conclusão a que se chega é simples: vontade política, clareza na definição de objetivos, elevado grau de profissionalismo dos participantes, determinação de firmar um compromisso, coerência e continuidade das etapas do processo de negociação são fatores que, juntos, permitem alcançar o sucesso, até mesmo nas mais complexas situações internacionais.
Quarteto em crise
O precedente iraniano merece uma atenção especial no contexto da continuidade da crise no interior e em torno da Ucrânia. Infelizmente, somos obrigados a constatar que o “Quarteto da Normandia” (composto pelos líderes da Rússia, Alemanha, Ucrânia e França), que foi adotado para a discussão da crise ucraniana é claramente inferior.
Nem todos os participantes do processo de Minsk demonstram a vontade política necessária para se chegar a um acordo. Aliás, os objetivos das negociações são geralmente pouco definidos, com exceção de questões táticas mais imediatas.
Além disso, nem sempre os participantes do quarteto manifestam a disposição de firmar um compromisso e de levar em consideração os interesses mútuos. A guerra de propaganda entre a Rússia e o Ocidente não prevê um cessar-fogo, mesmo que temporário, durante o período de preparação e de implementação dos acordos.
A única saída para resolver o impasse ucraniano é melhorando o nível de cooperação dos principais atores internacionais interessados na rápida superação da crise. Isso se aplica tanto à intensidade de trabalho do próprio mecanismo de negociação, quanto ao conjunto de questões discutidas e à composição de participantes das reuniões de Minsk.
Também é preciso chegar a um amplo consenso internacional referente às etapas do processo de superação da crise pela Ucrânia e ao futuro desse país dentro do novo sistema de segurança europeu.
Igor Ivanov é presidente do Conselho Russo de Assuntos Internacionais (RSMD, na sigla em russo) e foi ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia entre 1998 e 2004.
Publicado originalmente pelo jornal Rossiyskaya Gazeta
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