Acordo nuclear com Irã tem prós e contras para Rússia

Autoridades do Irã e do grupo P5+1 chegaram a acordo durante reunião em Viena, na terça-feira passada (14) Foto: Photoshot / Vostockphoto

Autoridades do Irã e do grupo P5+1 chegaram a acordo durante reunião em Viena, na terça-feira passada (14) Foto: Photoshot / Vostockphoto

Saudado por Pútin, acordo vai fortalecer regime de não proliferação nuclear e deve contar com o Kremlin para a sua execução. No entanto, suspensão de sanções ocidentais contra o Irã garantirá ao país acesso ao mercado internacional de petróleo, que é o principal produto de exportação da Rússia. Afinal, qual o significado para os russos do histórico acordo com Teerã?

O recente acordo entre o Irã e o chamado grupo P5+1 (EUA, Rússia, China, França e Reino Unido, mais a Alemanha) sobre o programa nuclear de Teerã foi saudado pelo presidente russo Vladímir Pútin. “Hoje o mundo dá um grande suspiro de alívio”, disse ele.

Paralelamente, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo declarou que “a abordagem político-diplomática defendida pela Rússia para resolver o problema prevaleceu”, ressaltando a esperança de que o acordo irá fortalecer o regime de não proliferação nuclear.

O chanceler russo, Serguêi Lavrov, anunciou que a Rússia irá participar ativamente da implementação do acordo. “O urânio enriquecido do Irã será enviados para a Rússia em troca de fornecimentos de urânio natural”, disse o ministro.

Além disso, especialistas russos irão participar da conversão da empresa iraniana Fordow, que até então é responsável pelo enriquecimento de urânio no país asiático.

Na terça-feira passada (14), em Viena, os sete membros do grupo de discussão chegaram a um acordo sobre o cancelamento gradual de sanções internacionais impostas ao iranianos. Em troca,  Teerã se comprometeu a promover grandes restrições em seu o programa nuclear, que, segundo o Ocidente, tem por objetivo a criação de armas nucleares.

Futuro do acordo

Apesar do avanço obtido com o acordo, os especialistas destacam que seu futuro pode ser menos promissor do que parece e que a participação da Rússia em sua implementação deve ser colocada em xeque ao longo do processo.

Para Dmítri Ievstafiev, do Centro de Estudos Políticos da Rússia, as chances de implementação do acordo estão em 50%. “O compromisso alcançado em Viena pode enfrentar resistência interna no Irã”, justifica.

Já Piotr Topitchkanov, colaborador sobre questões de não proliferação nuclear no Centro Carnegie de Moscou, acredita que o “há grandes opositores ao acordo, tanto no Ocidente, como no Irã”, e, por isso, a situação dependerá de como as partes se comportarão daqui para frente.

Por que o Irã é importante para a Rússia

Segundo Lavrov,  a implementação do acordo reforçará os laços económicos entre Moscou e Teerã. “Temos grandes planos com o Irã para desenvolver energia nuclear”, disse.

Além da questão energética, o cancelamento das sanções proporciona às empresas russas uma série de oportunidades no Irã nos setores de indústria química, tecnologia da informação e construção de ferrovias, entre outros.

A cooperação na área técnico-militar também apresenta potencial significativo para os dois países e pode resultar em acordos cumulativos de até US$ 70 bilhões. Exemplo disso é o contrato assinado entre Moscou e Teerã para venda de sistemas S-300 antiaéreos russos.

“A Rússia precisa de Irã como um parceiro sério”, afirma Ievstafiev, do Centro de Estudos Políticos. “Em primeiro lugar, o Irã é visto na Rússia como um parceiro econômico. A base ideológica do Irã ainda nos parece muito exótica para a construção de uma parceria política.”

Além dos contratos comerciais, o Irã também tem um papel fundamental em termos de logística. Moscou tem interesse no corredor de transporte Norte-Sul, da Europa para a Ásia, no qual o Irã terá 80% de participação. Cargas provenientes da Índia e de outros países do sul da Ásia poderão ser enviados por essa rota através do Irã e da Rússia para os países da Europa.

“O Irã é fundamentalmente importante para a Rússia na formação de políticas multidirecionais e assuntos econômicos no exterior”, destacou Ievstafiev.

Ameaça do petróleo

Em meio a possíveis consequências econômicas do levantamento das sanções contra o Irã, discute-se sobretudo a possibilidade de queda no preço do petróleo – principal produto de exportação da Rússia – depois que o mercado for inundado por petróleo iraniano.

“Se olharmos para a questão sob um ponto de vista puramente pragmático, é claro que o aparecimento de petróleo iraniano é desvantajoso para a Rússia, já que o Irã será um concorrente de peso no mercado do petróleo”, diz Radjab Safarov, diretor do Centro Russo de Estudos Modernos sobre o Irã.

Segundo Safarov, dentro de seis meses, o Irã será capaz de comercializar de 1 a 1,5 milhão de barris de petróleo por dia. No entanto, o especialista acredita que as consequências negativas para a Rússia terão curta duração.

“A produção de petróleo é controlada principalmente pela Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo], e Teerã vai reassumir sua cota dentro do volume geral da organização da produção”, explica. A cota iraniana havia sido repassada à Arábia Saudita, após a introdução das sanções ocidentais contra o Irã. “Com isso, os saudistas terão reduzir sua produção.”

 

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