O verão no norte da Sibéria é muito curto – apenas algumas semanas –, porém quente. Recentemente, a região foi tomada por uma onda de calor, e as temperaturas em Norilsk atingiram os 30°C durante uma semana toda (e olha que a cidade fica 300 km a norte do Círculo Polar Ártico!). Mas o mais surpreendente foi observar o contraste entre o clima e a paisagem do Ártico.
Do verão ao inverno é um passo
O centro de Norilsk é tão animado quanto a famosa Nevsky Prospekt, em São Petersburgo. Na praça principal, o termômetro marcava 29°C.
Os visitantes até se perguntavam se estariam mesmo em uma das cidades mais frias do mundo, onde a temperatura média anual é de -10°C.
Mas os moradores de Norilsk garantem que dias quentes assim duram uma semana ou duas por ano e, em geral, os verões são frios e chuvosos. Os locais, no entanto, não se sentem entediados. A cidade setentrional possui museu e teatro, além de exposições da moda. Quando está calor e há feriado, buscam refúgio no campo. E a equipe do Russia Beyond decidiu ir junto também.
No vale do rio Iergalakh, participamos de um festival de turismo de verão organizado pela Prefeitura. O passeio de fim de semana incluiu acampamento em uma barraca e viagem a bordo de um veículo todo-o-terreno – que levou cerca de uma hora para fazer o trajeto em uma estrada sinuosa.
Nosso percurso nos levou por uma zona industrial. A paisagem urbana foi substituída pela imagem de fábricas, e as fábricas, pela vista das montanhas. E então, o vale do rio siberiano Iergalakh se abriu diante de nossos olhos.
Suas margens montanhosas estavam cobertas por uma gramado verde vivo, no meio do qual havia grandes manchas de neve do ano passado — ou mesmo do ano retrasado.
Era neve de verdade — e abundante. Algumas pessoas tentaram usá-lo como cenário para fotografias, enquanto outras começaram a fazer bolas de neve. Mas, o que chamou nossa atenção foram alguns turistas que imediatamente encontraram uma utilidade prática para a neve. Pegaram uma pequena pá, tiraram meio balde de neve e fizeram uma geladeira improvisada. Ficou óbvio que aqueles visitantes eram experientes na região.
Dias depois, estávamos no vale de outro rio, o Khaierlakh, e depois à beira do rio Aiakli. Levamos algumas horas para chegar até eles em ônibus todo-o-terreno, atravessando pequenos rios ao longo do caminho. E os pontos de gelo acumulado que vimos ali provaram ser de uma magnitude ainda maior.
Alguns eram maiores do que uma pessoa em pé. Paralelamente, em torno do gelo e da neve, as rosas siberianas listadas no Livro Vermelho desabrochavam em uma profusão de cores.
Praias do Ártico
Embora Norilsk seja uma cidade industrial, está localizada perto de alguns dos locais selvagens mais belo do planeta – o Planalto Putorana e a Península de Taimir.
A tundra boreal (de floresta) começa nos arredores da cidade, sendo logo seguida pela tundra ártica, com montanhas de topo plano e sem cumes, rios azul-turquesa e cachoeiras em queda livre.
No inverno, os rios, lagos e cachoeiras congelam por completo.
No final de junho e início de julho, o verão chega abruptamente ao Ártico. Em uma questão de dias, a tundra gelada começa a ser atapetada de flores coloridas e exóticas — mas têm uma vida útil de apenas algumas semanas.
A água começa a escorrer pelos desfiladeiros das montanhas, e as cachoeiras formam cascatas com centenas de metros de altura.
É então que multidões de aventureiros e veranistas dirigem-se aos lagos e rios, seja para pescar, andar de caiaque ou organizar um piquenique em família. Mas praticamente não há banhistas nesses rios: o gelo do fundo não tem tempo de derreter nem a água de esquentar.
Pontos de gelo perpétuo se formam nas margens dos rios e, às vezes, até dentro deles. Os raios de sol jamais chegam a esses lugares isolados.
Em Norilsk, como em outras cidades do norte da Rússia, a neve do verão pode não ser apenas do ano passado, como também recém-caída.
Pode haver nevascas em junho ou julho. Via de regra, ela derrete de imediato. Mas a neve que cai em setembro chega para ficar — e sabe-se lá até quando.
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