Como é a vida nas partes remotas da Rússia? 

O viajante Andrei Enkin percorreu 33.000 quilômetros em sua caminhonete – e viu uma Rússia que nem mesmo a maioria dos russos conhecem.

Era um sonho antigo de Andrei Enkin cruzar a Rússia de carro. O viajante já experiente, que havia rodado quase 300.000 quilômetros antes desta viagem, conseguiu realizar seu sonho em 2020, quando o surto de covid restringiu as viagens internacionais. Em suas palavras, a viagem se tornou um divisor de águas em sua vida.

“Só depois de viajar tudo isso até Magadan pode-se dizer que entende alguma coisa sobre a Rússia”, diz Enkin.

Para quem visitou apenas a parte europeia do país – como Moscou e São Petersburgo –, descobrir o leste da Rússia pode ser uma revelação. Principalmente porque as pessoas e a forma como vivem diferem muito.

O estilo de vida local acaba sendo condicionado por longas distâncias. Segundo Enkin, isso afeta praticamente todos os aspectos da vida dos moradores.

“Lá, o tempo flui de forma diferente. Nas partes remotas do país, leva semanas, não dias, para comprar algo e receber. Todo mundo ajusta a vida cotidiana a essas enormes distâncias. É difícil medir algo lá em horas e dias. Tudo é medido em grandes unidades de tempo”, explica Enkin.

“Eles têm um estilo de vida mais sedentário. Por exemplo, marcamos o conserto do carro. Eles prometem consertar hoje. Mas não o fazem, porque algo acontece e eles prometem consertar no dia seguinte. Ao contrário de Moscou, ninguém tem a sensação de que alguém está sem tempo, alguém está retardando o processo.”

De acordo com Enkin, que percorreu 30.000 quilômetros de São Petersburgo até Magadan em quatro meses e meio, as pessoas que vivem em partes remotas da Rússia tendem a se considerar destacadas do resto do país.

“Quando falam de Moscou, dizem que é na Rússia. Quando falam de si, enfatizam o fato de estarem sozinhos, um pouco separados [do resto do país]”, diz o viajante.

As longas distâncias das grandes cidades impactam os preços e a qualidade dos serviços.

“Imagine que há um posto de gasolina ou café na estrada, o único pelos próximos 150 a 200 quilômetros, na melhor das hipóteses. Não há alternativa. Para as pessoas que trabalham lá, não é apenas um trabalho ocioso, estão fazendo algo importante. Acontece que tudo depende do indivíduo. Como resultado, o serviço não é sobre processos e padrões, tem mais a ver com hospitalidade mesmo”, acrescenta Enkin.

Devido às limitações, os preços dos serviços básicos podem ser duas ou três vezes mais altos do que em Moscou. O afastamento em relação a centros urbanos e logística cara, além da falta de concorrência, contribuem para intensificar essa  tendência.  

“O preço não significa nada lá. Não há concorrência de preços. Você pode estabelecer qualquer preço e as pessoas usarão seus serviços. Por outro lado, a logística é infernal. Por isso, tudo é caro em relação a Moscou. Quando você vê um preço alto, isso não significa que você obterá o mesmo nível de serviços pela mesma quantia que em Moscou”, diz Enkin.

Mas as longas distâncias também têm impactos positivos na sociedade dessas partes remotas da Rússia.

“As pessoas são muito mais hospitaleiras do que as pessoas na parte europeia da Rússia. Para eles, a chegada de cada pessoa, especialmente de longe, é um evento muito mais significativo do que para nós. Se uma nova pessoa chega, ou ela tem histórias interessantes ou traz algo importante consigo, você tem então que fazer uma conexão com essa pessoa. Além disso, quando as pessoas visitam um local remoto, elas também precisam de algum tipo de apoio para se estabelecerem. Essas pessoas estão acostumadas com a hospitalidade. Assim, quando é a vez de eles receberem alguém, todos retribuem”, diz Enkin.

Andrei Enkin escreveu recentemente um livro chamado “Como viajar pela Rússia de carro”, que é vendido on-line como um e-book.

“Eu escrevi para todos que viram as viagens de outras pessoas em blogs e também querem viajar pela Rússia. Neste livro, reuni recomendações sobre como preparar seu carro para uma viagem, que equipamento levar, como encontrar mirantes e muito sobre como tornar sua viagem segura e confortável, mas sem ficar chata”, diz, com tom de orgulho, Enkin.

Para um estrangeiro que esteve apenas em Moscou, mas que gostaria de visitar o Extremo Oriente Russo, Enkin recomenda estar preparado para um estilo de vida ascético, distâncias extremamente longas entre assentamentos e zonas climáticas que mudam bruscamente.

No entanto, sobretudo um novo visitante deve estar preparado para se surpreender com as belezas ocultas do país. 

“Se um estrangeiro tem uma imagem da Rússia, qualquer imagem, ele precisa estar preparado para o fato de que verá uma imagem diferente. Qualquer que seja a imagem que tenham diante de seus olhos, eles verão outra coisa”, conclui Enkin.

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