Imagine que você esteja olhando para o céu no inverno quando começa a ver montanhas glaciais e os contornos de árvores através de uma neblina. Essas ilusões de ótica ocorrem regularmente no Ártico.
Fata Morgana
Este fenômeno natural é geralmente associado a desertos áridos, mas o fenômeno Fata Morgana também ocorre periodicamente acima do Círculo Polar Ártico.
Durante um inverno típico na cidade de Apatiti, na região setentrional de Murmansk, os moradores locais observam diversas vezes esse tipo de paisagem imaginária.
“É causada pela formação de várias camadas de diferentes temperaturas na atmosfera”, explica Valéri Demin, pesquisador do Instituto Geofísico Polar. “Há um efeito de lente fazendo com que os raios de luz sejam desviados. As imagens podem variar – elas podem parecer de cabeça para baixo ou para cima”.
Em Apatiti, esse tipo de miragem do Ártico geralmente é observada nos arredores da cidade, sobre o lago Imandra. Este corpo aquático é cercado por colinas e, no inverno, o ar frio e denso se acumula acima dele atuando como uma lente. O efeito produz imagens fantásticas, mas também muito realistas.
Um fenômeno semelhante pode ser visto, às vezes, em São Petersburgo e no Extremo Oriente da Rússia.
Nova Zembla
As miragens mais impressionantes são formadas no Oceano Ártico, onde a temperatura da água permanece bem baixa durante o ano inteiro, mas as correntes de ar mais amenas vindas do continente podem se acumular sobre o ar frio. As camadas de temperatura não se misturam, e é isso que cria condições propícias a ilusões de ótica tão vívidas e duradouras. O raro fenômeno natural, batizado em homenagem ao arquipélago de Nova Zembla, foi documentado pela primeira vez no final do século 16.
Em janeiro de 1597, a tripulação do navio de William Barents viu o sol nascendo no horizonte. No entanto, a essa latitude nessa época do ano, as noites polares só devem terminar no final de fevereiro ou mais tarde.
Um sol ilusório foi visto posteriormente na mesma região e na Antártida por outros viajantes. Por muito tempo, esse falso amanhecer era visto como um tipo de alucinação, e só no século 20 a comunidade científica confirmou a existência dessa ilusão de ótica.
Hoje sabe-se que a miragem é causada por uma refração anormalmente forte da luz na atmosfera. Isso ocorre, por exemplo, quando o ar sobre a superfície do mar está estacionário, enquanto o ar quente em uma altitude elevada se combina com o ar gelado abaixo. O sol ilusório é como uma faixa de luz surgindo no horizonte e se parece muito com um amanhecer sobre o oceano. O efeito Nova Zembla é classificado como a chamada miragem superior, que reflete objetos localizados a uma grande distância do observador.
Ilhas fantasmas
As pessoas têm visões não apenas de elementos específicos, mas também de ilhas inteiras. Por exemplo, um mapa mundi britânico publicado em 1922 mostra a ilha de Terra de Sánnikov no Oceano Ártico.
No início do século 19, o explorador russo Iakov Sánnikov estava nas proximidades das Ilhas da Nova Sibéria quando avistou uma “extensa faixa de terra” ao norte com “montanhas rochosas” elevando-se acima do mar. Também viu pássaros voando em direção a ela e concluiu que se tratava de uma ilha com temperaturas amenas.
Mais tarde, cientistas organizaram diversas expedições na área, mas não encontraram nada além de gelo, embora muitas pessoas acreditassem na existência da Terra de Sánnikov. Em 1973, um filme de ficção científica soviético homônimo foi feito sobre uma dessas expedições.