Uniforme escolar, um pesadelo (também) soviético

Crianças vestindo o clássico uniforme soviético.

Crianças vestindo o clássico uniforme soviético.

Serguêi Boríssov/russiainphoto.ru
Como em muitos outros lugares do mundo, vestes eram abominadas por estudantes da URSS às vésperas da queda. Mas nem sempre foi assim.

Não foi a União Soviética quem inventou a ideia de uniforme escolar, já que o conceito já existia, com o mesmo design básico, desde a Rússia Imperial: um terno escuro para os meninos e um vestido, também escuro, para as meninas, com o avental branco e preto para ocasiões festivas e outras.

Da década de 1920 à de 1960, o traje obrigatório escolar era visto como natural e muito agradável. Os níveis de pobreza no país eram tão altos e a oportunidade de vestir sua própria roupa bacana ao invés de alguma doação passada para frente era considerada um privilégio, não uma obrigação.

Além disso, o uniforme era uma maneira de nivelar a desigualdade social e abrandar vestígios de um certo “atraso étnico” em locais como a Ásia Central, por exemplo. 

Os uniformes escolares estavam à venda em todos os rincões da URSS e custavam o mesmo preço por toda parte para ser acessível aos orçamentos de qualquer família.

Eles não eram considerados baratos pelos menos abastados, mas era uma prática comum comprar tamanhos maiores e ajustá-los, para ir descendo a costura e eles durarem alguns anos mais. 

Depois de uma reforma nos estilos nos anos 1960, o uniforme virou um terno azul-marinho feito em material de 50% de lã para os meninos, com paletó de corte quase militar, e um vestido marrom para as meninas, com aventais de duas cores.

Crianças do terceiro ano.

O modelo mais caro era um vestido 100% lã com saia plissê. Mas a lã era irritadiça, e o plissê desaparecia quando molhado.

Os modelos mais democráticos eram vestidos de tecidos compostos parcialmente de lã com saias em rodadas ou saias pregadas mais macias. 

Os colarinhos iam de eretos a diversas formas dobradas e representavam alguma forma de liberdade de expressão infanto-juvenil. Em teoria, era possível comprar colarinhos e punhos padrão brancos, e eles eram intercambiáveis e podiam ser retirados toda semana para lavar.

Como acessório menor, até as famílias menos abastadas podiam se dar ao luxo de um pouco de variedade. Os colarinhos e punhos eram costurados separadamente com renda guipir e fitas de cetim, e tinham acabamento com enfeites. Quem sabia, fazia crochê ou até bordados para enfeitá-los.

Vsevolod Tarasevich/MAMM/Russiainphoto.Ru

As habilidades adquiridas pelas garotas em bordado e corte e costura permitiam que muitas criassem seus próprios colarinhos e punhos sem precisar de ajuda das mães.

E, apesar da singularidade que os uniformes preveem pelo mundo afora, os colarinhos e punhos customizados eram permitidos. 

Outra maneira de se destacar na multidão era com um avental branco – havia também a opção preta. Um avental branco era mais barato, e muitas meninas preferiam costurar seus próprios com renda guipir ou até seda, com pregas, babados ou até plissê nos braços, além de colarinhos e bolsos. 

Demonstração de 'pioneiros', análogos dos escoteiros, em Stalingrado.

No começo dos anos 1960, as estudantes também passaram a encurtar – por vezes, até demais – as saias. 

O uniforme escolar foi abolido em 1994, após o fim da URSS, e virou relíquia do passado. Mas, em 2013, foi restabelecido como obrigatório. Os estilos, cores e formas, porém, variam muito de acordo com cada escola. 

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