Alimentar a família imperial e administrar sua cozinha no início do século 20 era toda uma produção. A cozinha do tsar servia não apenas refeições diárias para a família imperial, mas também para feriados e festas oficiais.
A cozinha tinha três partes – a cozinha, a confeitaria e a adega. A confeitaria contava com 20 funcionários, a cozinha, com cerca de 150, e 10 deles preparavam comida exclusivamente para a família imperial.
Primeiro, o café da manhã para os membros da família imperial era servido em seus aposentos. Tinha café, chá ou cacau, dependendo da escolha de cada um, além de pão com manteiga. Quem quisesse também podia pedir presunto e ovos. A mulher de Nicolau 2°, Alexandra Feodorovna, amava os pães “kalach” russos, que eram frequentemente servidos no café da manhã.
No governo de Nicolau 2°, o chef da padaria real era o "senhor Iermolaev". Há relatos de que ele era “um grande mestre do ofício” e preparava “biscoitos soberbos, pequenos – do tamanho de uma moedinha de copeque – ‘kalach’, pãezinhos rozantchik de leite, pãezinhos de massa folhada incríveis e baguetes”.
O segundo café da manhã, mais parecido com o almoço, de acordo com os padrões modernos, era servido às 13h para o imperador e geralmente incluía cinco pratos. Funcionários e convidados costumavam vir para esta refeição.
Os aperitivos eram colocados em uma mesa separada e qualquer um podia vir e pegar o que quisesse. Por muito tempo, o chef e garçom francês Pierre Cubat serviu na corte tsarista. Ele era um mestre dos aperitivos.
Eram servidos como aperitivos sanduichinhos, arenque, “balik” (filete de esturjão defumado) e caviar. Várias opções quentes também faziam parte do cardápio tsarista, como linguiças ou presunto assado. Depois dos aperitivos, que eram degustados de pé, todos se sentavam à mesa.
Existem até hoje registros de um cardápio de “café da manhã” tardio, servido em 9 de setembro de 1907: sopa de cevadinha com picles, cenouras e ervilhas, “pirojki” (tortinhas), maionese de salmão (molho de peixe batido grosso), filé de carne com batatas, croquetes de peito de frango, peras mergulhadas em xerez e torta recheada com mingau de arroz doce com mirtilos.
Às 17 horas, o chá era servido nos aposentos imperiais. A imperatriz Alexandra Feodorovna, que foi criada na Inglaterra na corte da Rainha Vitória, seguia fielmente a tradição do chá das cinco. Ela gostava de tomar chá com o marido. Com o chá, era servido um pão “kalach” quente e um prato com manteiga. Durante a Quaresma e outras épocas de jejum religioso, a manteiga era excluída. Em vez disso, a mesa tinha “baranki”, pãezinhos e nozes.
O almoço era servido às 20h. Começava com sopa e “pirojki”; em seguida, serviam-se peixes e assados, legumes, doces, frutas e café. Em ocasiões festivas, o número de pratos aumentava. Vinho também era servido no almoço e um licor era servido com café.
Crianças menores de 8 a 10 anos geralmente comiam separadamente dos adultos e, portanto, tinham uma programação diária mais tradicional.
A mesa de jantar do tsar também era provida de frutas e bagas das estufas Gatchina e Ropchinska. Muitas dessas estufas eram aquecidas o ano todo, o que permitia à família imperial desfrutar de morangos silvestres e cultivados, entre outras coisas, mesmo no início da primavera.
Nicolau 2° adorava batatas, “pelmêni” e vinho do porto.
De acordo com as lembranças de seus contemporâneos, Nicolau era moderado na alimentação, se pesava regularmente e praticava esportes.
Nicolau adorava batatas. Certa vez, ele viu na Crimeia como um dos funcionários carregava um saco de batatas novas do mercado e pediu para comprá-las. Quando menino, Nicolau assava batatas com seus irmãos e irmãs no parque do Palácio Anitchkov, onde moravam, no centro de São Petersburgo. Mais tarde, ele passou a fazer isso com o próprio filho, o tsarevich Aleksêi, mas no Parque Alexandre.
Outro de de seus pratos favoritos era o “mingau de Dragomirov”, em homenagem ao general do homônimo exército russo. Trata-se de um mingau de trigo sarraceno com cogumelos e creme. Ele diferia do mingau comum pelo fato de ser servido como uma torta.
Além disso, Nicolau gostava de “pelmêni” e “varêniki” (massas recheadas cozidas em água). A bordo do iate imperial “Chtandart”, ele costumava saborear “pelmêni” frito em uma frigideira.
Mas ele não suportava caviar. Os oficiais do “Chtandart” observaram que “o soberano gostava muito de aperitivos, exceto caviar, salmão do Atlântico e peixe salgado em geral.”
A explicação para isso era simples: certa vez, ao voltar do Oriente, Nicolau viajou pela rota da Sibéria. Nas estações de trem ao longo do caminho, ele foi recebido com pão e sal, peixe salgado e caviar. O tempo estava quente e Nicolau ficou com muita sede. Desde então, perdeu o interesse por peixe salgado e caviar.
Segundo a dama de companhia e a baronesa S. Buksguevden, “o soberano preferia pratos simples, assados simples e frango”. De fato, esses pratos costumam aparecer nos menus que restaram daquela época.
Sabe-se que o imperador apreciava o vinho do Porto. No início, ele era importado de Portugal, mas depois que Nicolau experimentou o vinho do porto Livadia e as importações foram interrompidas. Sua esposa gostava do vinho de sobremesa Lacryma Christi (“lágrimas de Cristo”), que também era produzido na “Massandra”, uma vinícola na Crimeia.
Havia mais de dez pessoas responsáveis pelo cardápio de bebidas = na cozinha imperial. Elas guardavam e selecionavam vinhos, vodcas, cerveja, hidromel e kvass para a corte.
Alexandra Feodorovna, quase vegetariana
A comida de Alexandra Feodorovna costumava ser preparada e servida separadamente. Ela quase nunca comia carne ou peixe, mas comia ovos, queijo e manteiga. Muito provavelmente, ela mantinha essa dieta não por razões éticas, mas sim porque desejava manter a forma e saúde. Além disso, ela aderia estritamente ao jejum quaresmal.
Há relatos de que, a bordo do “Chtandart”, ela pedia batatas assadas recheadas com espinafre. Ao descrever uma viagem da família imperial neste iate ao longo do rio Volga em 1913, o oficial N. Sablin escreveu: “a própria imperatriz comeu apenas dois ovos cozidos neste dia”.
Também existem relatos de que a imperatriz encomendava doces do exterior com seu próprio dinheiro.
Os filhos do tsar eram criados modestamente
Embora pequenos, os filhos do tsar não eram convidados para a mesa principal e, em vez disso, jantavam com seus tutores. Só às vezes as crianças eram convidadas para a mesa com os pais, para que se acostumassem a conversar com os adultos. Durante essas reuniões, os pratos eram servidos primeiro ao imperador e à imperatriz e só depois às crianças.
As crianças não eram mimadas. Nicolau e Alexandra as criavam como crianças normais.
Durante a Primeira Guerra Mundial, um dia, o tsarevich Aleksêi estava no quartel-general do exército com seu pai, mas se recusou a comer a comida suntuosa digna da realeza. Aleksêi disse que sua comida favorita era "schi [caldo verde], mingau e pão de centeio, o mesmo que todos os meus soldados comem".
Às vezes, porém, ele comprava seus próprios doces. As crianças da família real recebiam uma mesada para gastos pessoais. Por exemplo, o tsarevich às vezes gastava seu dinheiro comprando os famosos chocolates Georges Bormann e caramelos da fábrica Abrikosov.
LEIA TAMBÉM: Por que o pintor Iliá Répin comia feno?
O Russia Beyond está também no Telegram! Para conferir todas as novidades, siga-nos em https://t.me/russiabeyond_br