Embora ortodoxo, Lev Tolstói mantinha ideias religiosas que o distanciavam da Igreja. Para ele, os rituais e os sacramentos não eram importantes. O que importava, segundo o escritor, era que “o homem não respondesse ao mal com o mal, não julgasse os outros e não matasse o próximo”. Em 1901, o Santo Sínodo publicou uma resolução declarando que o escritor havia se “desassociado” da Igreja. Com isso, foi proibido de receber os sacramentos (isto é, confissão e comunhão) e não poderia ter um enterro religioso. A Resolução do Santo Sínodo terminou com palavras de comiseração: “Portanto, testemunhando que ele se separou da Igreja, rezamos ao mesmo tempo na esperança de que o Senhor lhe conceda o arrependimento, levando-o ao conhecimento da verdade”. (2 Timóteo 2:25)
Em resposta a esta decisão da mais alta autoridade da Igreja Ortodoxa Russa, Tolstói publicou uma carta sem poupar palavras: “E estou convencido de que o ensinamento da Igreja é, teoricamente, uma mentira astuta e prejudicial, praticamente um composto de superstições grosseiras e bruxaria, sob as quais o significado da doutrina cristã absolutamente desaparece.”
Os admiradores do romancista expressaram a sua indignação, e cada um dos defensores da Ortodoxia interpretou a resolução do Santo Sínodo à sua maneira. Alguns iconógrafos demonstraram a condenação eterna de Tolstói, retratando-o no inferno. Este foi o caso do iconógrafo que pintou os afrescos da igreja de Oriol. A primeira versão desta ilustração do Juízo Final, na qual o escritor aparecia entre os pecadores, não sobreviveu ao tempo. Aquela que podemos admirar hoje é a sua segunda versão. Em 1883, o autor dos afrescos da Igreja da Virgem do Sinal, na aldeia de Tazovo, região de Kursk, reservou um destino idêntico para Tolstói. A pintura acabou sofrendo danos no final da década de 1930. O fragmento em que o escritor aparece está hoje guardado no Museu de História da Religião em São Petersburgo.
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