Por que, após a morte de Púchkin, o imperador russo sustentou toda a família do poeta?

História
ALEKSANDRA GÚZEVA
O tsar Nicolau considerava Púchkin “o homem mais inteligente da Rússia”, mas a relação entre os dois era complicada. Após a morte do poeta, surgiram rumores de que Nicolau 1º adorava a esposa de Púchkin e estaria envolvido na tragédia.

O imperador russo Alexandre 1º (1777-1824) enviou o jovem poeta Aleksandr Púchkin para o exílio por causa de sua poesia de pensamento livre. Após a morte de Alexandre e a Revolta Dezembrista (quando jovens soldados organizaram protestos contra a coroação do novo tsar Nicolau 1º, após o seu irmão mais velho, Constantino, abdicar do direito ao trono), Púchkin escreveu uma carta ao novo imperador pedindo-lhe que fosse libertado e autorizado a regressar à capital. O poeta prometeu não expressar opiniões que poderiam perturbar a ordem pública, não criticar o governo e não aderir a quaisquer sociedades secretas.

Nicolau perdoou o poeta e o convidou para uma audiência pessoal. Os biógrafos acreditam que o tsar considerava a aproximação do escritor não apenas uma ação política, mas um gesto nobre e generoso. O monarca se comprometeu a ler pessoalmente as obras de Púchkin antes de serem impressas. Após a reunião, o poeta escreveu: “O tsar me libertou da censura. Ele será o meu censor. O benefício, obviamente, é insondável”. O tsar, por sua vez, chamou Púchkin de “o homem mais inteligente da Rússia”.

Muitos amigos de Púchkin condenaram o poeta por sua amizade com o tsar, já que a maioria considerava Nicolau um déspota. Púchkin respondeu em verso: “Não, não sou um bajulador quando elogio o tsar livremente. Expresso meus sentimentos com ousadia, o meu coração fala”.

No entanto, as boas relações entre o imperador e o mais famoso poeta russo não duraram muito. Púchkin considerava humilhante sua baixa posição na corte, era obrigado a comparecer a bailes cansativos e por muito tempo não foi autorizado a sair de São Petersburgo e ir a Moscou, onde havia um arquivo com o qual ele trabalhava. Além disso, seus poemas recebiam atenção especial da polícia secreta, cujo chefe Benckendorff escrevia calúnias contra o poeta ao tsar em toda e qualquer oportunidade.

Morte e funeral secreto

Em 1836, espalharam-se rumores por São Petersburgo de que a esposa de Púchkin, Natália Gontcharova, estava tendo um caso com o francês Georges d’Anthès. O impulsivo Púchkin não suportou o insulto e o desafiou para um duelo. Durante a luta, ficou gravemente ferido e morreu dois dias depois.

Sua morte foi uma tragédia e um choque para muitos moradores de São Petersburgo que estavam predispostos a culpar as autoridades e a corte — muitos começaram a demonizar o próprio imperador, acreditando que ele era quase pessoalmente culpado pela morte de Púchkin. Além disso, corria o boato de que o imperador Nicolau não era indiferente à esposa de Púchkin.

Para evitar protestos, o imperador ordenou um funeral secreto, não na capital, mas perto da mansão do poeta na região de Pskov.

Deveres e gesto nobre

Púchkin tinha dívidas enormes, inclusive de empréstimos contraídos do tesouro do Estado. A situação financeira da família era catastrófica. O amigo de Púchkin, professor dos filhos do imperador e poeta Vassíli Jukôvski apelou ao monarca para não deixar a família do escritor morto em apuros.

Nicolau pagou todas as dívidas de Púchkin e destinou uma quantia considerável para a viúva. Até casar-se novamente, Natália Gontcharova recebia uma pensão. O tsar também não esqueceu dos filhos de Púchkin, que entraram no corpo militar para estudar gratuitamente. Por ordem do monarca, os poemas de Púchkin foram publicados com verba do Estado.

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