Por que Feodor Chaliapin está usando um casaco de pele roubado no retrato de Boris Kustodiev?

Museu Russo
O cantor Feodor Chaliapin comprou seu retrato, pintado pelo artista Boris Kustodiev, logo após a exposição onde foi exibido na primavera de 1922. E nunca se desfez dele. Mas por que o artista o retratou não no palco, mas tendo como cenário uma feira e até mesmo com um casaco de pele?

Em 1920, a ópera “O Poder do Inimigo” foi encenada no Teatro Mariínski; Feodor Chaliapin era o diretor e intérprete do papel do ferreiro Ieremka. Ele convidou Boris Kustodiev para decorar a apresentação. Como o artista vivia há anos confinado a uma cadeira de rodas, o cantor foi pessoalmente à sua casa fazer a proposta. Kustodiev concordou e sugeriu, sem perder tempo, pintar um retrato de Chaliapin com as roupas que ele estava usando naquele exato momento. Ele gostou muito do casaco de pele.

O cantor deu risada: era provavelmente roubado. “E ele me contou que, há algumas semanas, havia recebido-o como honorário de alguma agência governamental. E relembrou o slogan bolchevique: ‘Tome o saque’. Então, talvez ele não tenha sido o primeiro dono deste casaco”, contou Kustodiev — que riu em resposta: “Aqui estamos, Feodor Ivanovitch, e colocaremos na tela. Afinal, que original: um ator, um cantor e um casaco de pele roubado!”

O cachorro preferido do cantor posou para o artista

Após a estreia da peça, o trabalho no retrato foi retomado. Mas Chaliapin tinha uma condição própria: deixaria o artista pintá-lo com este casaco de pele, porém com o seu buldogue francês favorito, ‘Roika’, aos seus pés. Para que o cachorro pudesse posar, havia também na sala um gato — para o qual ele ficou olhando atentamente enquanto Kustodiev fazia os esboços.

A pintura foi gradualmente preenchida com os personagens. O artista retratou as filhas de Chaliapin, Marfa e Marina, acompanhadas pelo secretário pessoal do cantor, Ivan Dvorischin. Kustodiev escolheu como pano de fundo as festividades da feira: ao longe avista-se o palco de um teatro de rua e um cartaz com o nome de Chaliapin. É como se o cantor tivesse acabado de chegar a uma nova cidade em turnê bem no auge do festival da Maslenitsa.

Chaliapin levou o retrato para a França, e a obra ficava pendurada sobre a lareira de seu apartamento parisiense. Foi somente em 1968 que as filhas do cantor doaram o quadro ao Museu do Teatro de Leningrado. Uma réplica, em tamanho menor, pode ser vista no Museu Russo em São Petersburgo.

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