Por que um descendente de Gengis Khan foi executado na URSS?

Russia Beyond (Foto: Domínio público; Evguêni Khaldei/ТАSS)
Sultan Klych-Girey era um Genghisid, ou seja, um descendente direto de Gengis Khan, o primeiro grão-cã e o fundador do Império Mongol que conquistou quase toda a Rússia medieval. Como o seu ancestral, Sultan Klych-Girey se tornou um dos inimigos mais odiados da Rússia Soviética.

Ao traçar a linhagem familiar de Sultan Klych-Girey, nascido no Cáucaso do Norte, chegava-se até Juchi, o filho mais velho do grande conquistador tártaro-mongol Gengis Khan, sendo pertencente à dinastia dos cãs Girey da Crimeia. Quando a Guerra Civil eclodiu nas ruínas do Império Russo, a resposta à questão de qual lado tomar era óbvia para ele.

Contra os soviéticos

No início do confronto sangrento entre os bolcheviques e seus oponentes, Sultan já era um cavaleiro experiente, pois havia servido na Primeira Guerra Mundial, nas fileiras da Divisão de Cavalaria Nativa do Cáucaso, composta por moradores das montanhas locais. O coronel Klych-Girey foi várias vezes premiado “por serviço exemplar e excelente treinamento de soldados”.

Sultan Klych-Girey

Sultan, que comandava uma divisão de cavalaria, lutou contra os vermelhos no sul da Rússia nas fileiras do Exército Branco. Após o triunfo final dos soviéticos, foi forçado a deixar o país.

Durante o exílio, Klych-Girei participou ativamente de vários “comitês nacionais” e organizações, cujo objetivo era a secessão do Cáucaso do “Estado socialista dos trabalhadores e camponeses”.

Quando a Wehrmacht invadiu a União Soviética em 1941, Sultan, já com 60 anos, percebeu que os seus sonhos poderiam se tornar realidade em breve.

Do lado de Hitler

Prisioneiros de guerra nazistas após Batalha de Stalingrado

Seguindo ordens de Berlim, Klych-Girey trabalhou na criação de formações colaboracionistas na Wehrmacht a partir de prisioneiros ou moradores do Cáucaso que desertaram voluntariamente para o lado do Terceiro Reich. Além disso, ele comandou as unidades caucasianas envolvidas na campanha contra os guerrilheiros na Iugoslávia.

Depois que as tropas alemãs invadiram o Cáucaso do Norte no verão de 1942, Sultan Klych-Girey também foi para lá e se tornou responsável pelos territórios da Adigueia. Com discursos propagandistas à população local, ele instava o levante para a “guerra de libertação” contra os bolcheviques.

Colaboradores dos nazistas em julgamento em Moscou, 1947

Logo após a vitória do Exército Vermelho em Stalingrado, as tropas alemãs iniciaram a sua retirada do Cáucaso. Não tinha mais sentido fazer propaganda e Sultan se tornou mais honesto em suas conversas privadas com os moradores locais.

“Meu caso está decidido e assinado. Vinculei minha vida a essas pessoas e morrerei com elas. Mas vocês não têm motivos para morrer com eles. Vocês podem gritar ‘viva’, mas tenham em mente que o poder deles não durará muito aqui. Os bolcheviques são mais fortes. Os bolcheviques irão expulsá-los daqui e se vocês os seguirem como tolos, vocês também serão mortos”, disse.

Sultan Klych-Girey no tribunal em 1947

No início de junho de 1945, na Áustria, os britânicos entregaram aos soviéticos dezenas de milhares de cossacos que tinham lutado ao lado de Hitler. Entre eles estava Sultan Klych-Girey. Em 16 de janeiro de 1947, o descendente de Gengis Khan foi acusado de traição à pátria e atividades contrarrevolucionárias, considerado culpado e enforcado em Moscou.

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