O último imperador russo Nicolau 2º, sua esposa, filhas e filho, bem como diversos funcionários próximos e criados foram executados na madrugada do dia 17 de julho de 1918 no porão da Casa Ipatiev, na cidade de Ekaterimburgo (também grafada Iekaterimburgo), onde estavam no exílio.
A decisão de executar o tsar de Toda a Rússia foi tomada pelo Presidium do Conselho Regional de Trabalhadores, Camponeses e Deputados do Exército Vermelho dos montes Urais, um órgão do poder soviético na região central do país, que, além dos bolcheviques, incluía anarquistas e socialistas-revolucionários de esquerda.
O motivo oficial foi a possível tomada da cidade pelos brancos e o perigo de o ex-tsar cair nas mãos das forças contrarrevolucionárias. Para não “deixar o presente” aos apoiadores da restauração da monarquia, todos os membros da família real foram executados com extrema crueldade.
Inicialmente, os bolcheviques não pretendiam executar os funcionários próximos e criados dos Romanov, mas no momento final decidiram que “se quisessem permanecer com a família real até o fim, compartilhariam do seu destino”.
Os comandantes da operação, Iakov Iuróvski e Mikhail Medvedev, e diversos outros tchekistas (membros da contraespionagem bolchevique) ficaram, por um longo tempo, indecisos sobre como matar a família.
“Nada que pudéssemos cogitar”, escreveu Medvedev. “Talvez jogando granadas nos quartos depois que eles adormecerem? Não, muito barulho... Iurôvski propôs que os apunhalassem enquanto dormem.”
Os tchekistas chegaram a outra opção. Eles acordaram os Romanov e seus criados na noite de 17 de julho e lhes disseram para descerem as escadas, fingindo que era para a sua própria segurança, já que as forças brancas chegavam a Ekaterimburgo.
Depois de todos se reunirem no porão, Iurôvski declarou que os partidários de Nicolau estavam tentando libertá-los e, portanto, era seu dever acabar com a dinastia de 300 anos dos Romanov.
Na sequência, os tchekistas começaram a atirar. O imperador morreu instantaneamente, mas suas filhas não tiveram tanta sorte - os tiros batiam nos diamantes costurados dentro de suas roupas. Assim, os tchekistas colocaram um ponto final em suas vidas com baionetas e facas, sem parar até que todos os membros da família estivessem mortos.
“Descarreguei meu revólver nos condenados. Não sabia o resultado dos meus tiros, porque tive que correr imediatamente para o sótão para pegar a metralhadora. [...] Quando entrei no sótão, vi que a luz estava acesa no Instituto de Mineração, localizado do outro lado da rua. Os tiros foram claramente ouvidos, bem como o uivo dos cães da família real. Quando desci, todos já estavam mortos”, escreveu o agente da polícia secreta dos bolcheviques, Aleksêi Kabanov, que participou da execução.
Quem exatamente participou do assassinato dos Romanov e quais foram os seus destinos subsequentes?
1. Iakov Iurôvski
Comandante da Casa Ipatiev (local de exílio da família real), o tchekista (agente de contraespionagem) Iakov Iurôvski, supervisionou a execução do imperador russo pessoalmente.
Após a missão “bem-sucedida”, Iurôvski deixou o seu cargo e começou uma carreira no Comissariado do Povo (Ministério) dos Negócios Estrangeiros. Ele também ocupou cargos mais altos na fábrica Krásni Bogatir, que produzia calçados de borracha, e no Museu Politécnico de Moscou.
Iurôvski morreu em 2 de agosto de 1938, aos 60 anos de idade, de úlcera duodenal perfurada.
2. Mikhail Medvedev (Kúdrin)
Oficial de segurança da Casa Ipatiev, o tchekista Mikhail Medvedev foi o primeiro a abrir fogo depois que Iurôvski anunciou a sentença de morte.
Mais tarde, Medvedev ascendeu ao posto de tenente-coronel do NKVD (Ministério do Interior da URSS) e morreu em Moscou em 1964. Ele escreveu memórias sobre sua participação na execução dos Romanov, que nunca foram publicadas e agora estão armazenadas no Arquivo Estatal Russo de História Sócio-Política.
3. Piotr Vóikov
O político mais famoso entre os assassinos da família real foi Piotr Vóikov, revolucionário e comunista convicto. De acordo com as memórias do diplomata desertor Besedóvski, foi Vóikov que matou as jovens filhas já feridas de Nicolau 2º com baioneta, embora esta informação não possa ser confirmada devido à falta de fontes textuais. Após o fuzilamento da família, Piotr Vóikov supostamente retirou de um dos cadáveres um anel com um grande rubi, do qual ele gostava de se gabar mais tarde. Após o assassinato, Vóikov foi um dos responsáveis por se desfazer dos cadáveres.
Mais tarde, Vóikov começou uma carreira no Comissariado do Povo (Ministério) dos Negócios Estrangeiros. Em agosto de 1922, foi nomeado representante diplomático no Canadá, mas não admitido devido ao seu envolvimento na execução da família real e por ser um revolucionário profissional. A Inglaterra reconheceu Voikov como persona non grata. Em 1924, recebeu o cargo de representante plenipotenciário na República Polaca.
Em 7 de junho de 1927, Vóikov foi mortalmente ferido por um agente da emigração branca russa, Boris Koverda, na estação ferroviária de Varsóvia e morreu uma hora depois. Quando questionado por que atirou, Koverda respondeu: “Eu me vinguei pela Rússia, por milhões de pessoas”.
“Em resposta” ao assassinato de Vóikov, o governo bolchevique executou extrajudicialmente 20 representantes da antiga nobreza branca em Moscou.
4. Aleksandr Beloborodov
Beloborodov foi o presidente do Comitê Executivo do Conselho Regional dos Urais que aprovou e assinou a sentença de morte da família real. Nos anos seguintes, ele ocupou altos cargos no governo soviético e, em 1919, até reivindicou o cargo de Presidente do Comitê Executivo Central de toda a Rússia, porém sem sucesso.
Na luta interna do Partido Comunista entre Leon Trótski e Ióssif Stálin, Beloborodov apoiou o primeiro, pelo que, em 1927, foi expulso do Partido e exilado na cidade de Arkhanguelsk, no norte da Rússia. Três anos depois, ele recebeu o perdão ao anunciar seu rompimento com as ideias de Trótski.
Isso, porém, não o ajudou a sobreviver às repressões em massa de Stálin. Durante o Grande Expurgo, em 1938, Beloborodov e a sua esposa foram executados por fuzilamento.
5. Filipp Goloschiôkin
Membro do Conselho Regional dos Urais, Goloschiôkin foi um dos autores da sentença de morte de Nicolau 2º. De 1925 a 1933, ocupou um dos mais altos cargos na República Socialista Soviética do Cazaquistão, onde realizou a política de coletivização (processo de expropriação das pequenas e médias propriedades privadas, especialmente agrícolas) usando os métodos mais severos. A fome que começou após essas reformas na república foi apelidada de “fome de Goloschiôkin”.
Em 1939, durante o Grande Expurgo de Stálin, Filipp Goloschiôkin foi preso, acusado de apoio às ideais trotskistas, de “exageros” na coletivização e da preparação de um atentado terrorista. Em 28 de outubro de 1941, Goloschiôkin foi executado por fuzilamento.
6. Gueôrgui Safarov
Outro membro do Presidium do Comitê Regional dos Urais, Gueôrgui Safarov também não sobreviveu às repressões de Stálin.
Durante a luta pelo poder dentro do partido bolchevique, Safarov havia apoiado os oponentes de Stálin: Grigógi Zinoviev e Leon Trótski.
Em 1937, Safarov foi preso e passou cinco anos em campos de trabalho forçado. Em 27 de julho de 1942, ele foi executado “por atividades terroristas trotskistas antissoviéticas”.
7. Grigóri Nikúlin
O assistente de Iurôvski, Grigóri Nikúlin, participou pessoalmente da execução da família real. Após o fim da Guerra Civil, Nikúlin se dedicou à luta contra o crime e chegou a chefiar o Departamento de Investigação Criminal da capital russa.
A partir de 1924, passou a atuar na economia nacional. Morreu em 1965, trabalhando no Departamento de Abastecimento de Água e Esgoto de Moscou.
8. Piotr Ermakov
Comandante do Exército Vermelho, Piotr Ermakov também matou os Romanov feridos sobreviventes com uma baioneta de rifle.
O guarda de segurança Strekótin descreveu o papel de Ermakov na execução da seguinte forma: “O camarada Ermakov, vendo que eu estava segurando um fuzil com uma baioneta nas mãos, sugeriu que eu acabasse com os sobreviventes. Eu recusei, então ele tirou o fuzil das minhas mãos e começou a matar. Este foi o momento mais terrível. Eles não morriam e por muito tempo gritaram, gemeram e se contorceram. Aquela pessoa, a senhora, morreu de maneira especialmente difícil. Ermakov a esfaqueou no peito inúmeras vezes. Ele bateu com tanta força que a cada vez a baioneta ficava cravada profundamente no chão”.
Nos anos seguintes, Ermakov ocupou altos cargos na polícia das cidades de Omsk e Sverdlovsk (atual Ekaterimburgo), e também trabalhou como inspetor de prisões nos Urais.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Ermakov comandou a milícia popular em Sverdlovsk. Morreu de câncer em 25 de maio de 1952.
9. Víktor Netrébin
Netrébin foi o participante mais jovem da execução — ele tinha apenas 17 anos. Mais tarde, trabalhou como correspondente do jornal “Urálski Rabôtchi” e até escreveu memórias sob o título “Memórias de Víktor Nikíforovitch Netrébin, participante da execução dos Romanov”. Seu destino após 1935 é desconhecido.
10. Isai Rodzínski
Após a execução da família real, o tchekista Isai Rodzínski lutou por algum tempo nas frentes da Guerra Civil e serviu em órgãos judiciais de emergência, chamados Tribunais Militares Revolucionários.
No final da década de 1930, mudou completamente de atividade e começou a trabalhar na administração pública. Durante o Grande Expurgo, passou três anos na prisão.
Rodzínski viveu até 1987. Em 1964, deu uma longa entrevista sobre o assassinato da família real, na qual descreveu como o herdeiro do trono, o tsarêvitch Aleksêi, de 13 anos, “engoliu 11 balas”.
11. Stepan Vaganov
Assistente de Ermakov na Casa Ipatiev, o marinheiro Stepan Vaganov matou as filhas de Nicolau 2º. “Vaganov tratou das princesas: elas deitaram-se no chão e gemeram, morrendo... Vaganov continuou a atirar em Olga e Tatiana [...] Não creio que algum de nós atirou na empregada. Ela estava no chão, escondida nos travesseiros. Mais tarde Vaganov a matou perfurando sua garganta com uma baioneta”, escreveu Ermakov sobre o papel do marinheiro Vaganov na execução.
Por alguma razão, Vaganov não teve tempo de sair de Ekaterimburgo antes da chegada dos brancos e se escondeu no porão de uma das casas. Os brancos o encontraram e mataram imediatamente.
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