Quais estrangeiros ajudaram os bolcheviques a vencer na Guerra Civil Russa?

Domínio público
Mais de 250 mil estrangeiros lutaram pelo poder soviético na Guerra Civil Russa, como polacos, alemães, austríacos, romenos, finlandeses, tchecos, croatas e sérvios. Mas os mais numerosos no Exército Vermelho foram os húngaros, letões e chineses.

Mais de 250 mil estrangeiros lutaram pela “revolução mundial” durante a Guerra Civil Russa. Unidades internacionais do Exército Vermelho enfrentaram os defensores do Império Russo por todo o país, mas foram especialmente ativos nos montes Urais e na Sibéria.

Húngaros, letões e chineses se destacaram não apenas por sua coragem no campo de batalha, mas por sua incrível crueldade durante ações punitivas.

Húngaros

No início da Guerra Civil, havia cerca de 500 mil soldados húngaros em cativeiro russo, todos feitos prisioneiros durante a Primeira Guerra Mundial. O governo soviético os convidou a se juntarem às Forças Armadas da jovem república, “para salvar a revolução russa, pegar em armas pela libertação dos húngaros, dos trabalhadores húngaros, dos camponeses húngaros”.

A maioria optou por permanecer nos campos e aguardar a oportunidade de retornar à sua terra natal. No entanto, cerca de 60 mil responderam ao apelo à luta contra os “opressores da classe trabalhadora”.

Os húngaros do Exército Vermelho eram considerados alguns dos soldados mais prontos para o combate. Eles tinham grande experiência militar e se caracterizavam pela integridade e firmeza. “Os magiares lutaram até a última gota de sangue”, escreveu o soldado do Exército Vermelho Guennâdi Milítsin.

Destacamentos de ex-hussardos húngaros lutavam principalmente contra a cavalaria cossaca branca. No entanto, os estrangeiros se recusaram usar uniformes do Exército Vermelho, preferindo lutar em suas tradicionais calças vermelhas, peliças azuis e bonés vermelhos.

Os húngaros desempenharam um papel importante no estabelecimento do poder soviético na Sibéria, nos Urais e na região do Volga. Em março de 1919, alguns voltaram para casa para defender a recém-proclamada República Soviética Húngara. Mas não conseguiram manter “o poder dos trabalhadores e camponeses” e, em agosto de 1919, a república deixou de existir.

Letões

Fuzileiros letões com máscaras de gás em posições de combate durante a operação de Mitau da Primeira Guerra Mundial.

Durante a Primeira Guerra Mundial, as unidades de fuzileiros da Letônia estavam entre as mais prontas para o combate de todo o Exército Imperial Russo. Durante os eventos de 1917, a maioria se juntou aos bolcheviques.

“Opor-nos-emos imediatamente com toda a força das nossas armas a todas as manifestações de contrarrevolução, não importa de onde venha a ameaça”, lê-se na resolução do 6.º Regimento de Fuzileiros da Letônia. Essas “brigadas de emergência” foram enviadas às frentes mais difíceis da Guerra Civil.

Em 1919, os fuzileiros vermelhos da Letônia defenderam Petrogrado (atual São Petersburgo) do Exército do Noroeste de Nikolai Iudénitch e Moscou das tropas do general Anton Deníkin. Em 1920, acabaram com as forças brancas de Piotr Wrangel remanescentes na Crimeia.

Os fuzileiros lutaram pelo poder soviético em sua terra natal também, mas sem sucesso. Quase seis meses após a sua derrota em janeiro de 1920, o governo de Vladímir Lênin foi obrigado a reconhecer a independência da República da Letônia.

Fuzileiros do 4º Regimento de Rifles da Letônia após batalha perto de Kazan.

Os letões na URSS gozavam da confiança quase ilimitada dos bolcheviques e desempenharam o papel dos “Guardas do Kremlin”. Eles ficaram encarregados da proteção das principais instalações estratégicas em Moscou e dos altos funcionários do Estado.

Além disso, os disciplinados Fuzileiros Vermelhos letões participavam ativamente de ações punitivas e na repressão de revoltas antibolcheviques. Devido à sua crueldade, surgiu até um ditado popular: “Não procure o carrasco, mas procure o letão!”

Após o fim da Guerra Civil, muitos ex-fuzileiros ocuparam cargos-chave nas Forças Armadas e nos órgãos de segurança da URSS. A maioria deles foram executados durante o Grande Expurgo de Stálin no final da década de 1930.

Chineses

Primeiro destacamento comunista chinês a lutar nas fileiras do Exército Vermelho, antes de ser enviado para a frente, 1918.

Em 1917, cerca de 200 mil chineses viviam na Rússia. Eles trabalhavam principalmente na indústria, na agricultura e na construção.

Nem todos chegaram ao novo país socialista apenas para ganhar dinheiro, muitos aproveitavam a turbulência para saquear a população local. Além disso, havia chineses que apreciavam a ideologia da revolução socialista e se juntaram ao Exército Vermelho.

Os soldados chineses rapidamente ganharam a reputação dos mais disciplinados e prontos para o combate do Exército Vermelho. “O chinês é persistente, não tem medo de nada. Seu próprio irmão morrerá em batalha, mas ele nem piscará… Se ele entender que há um inimigo em frente dele, esse inimigo não vai sobreviver. Os chineses lutam até o fim”, escreveu o líder militar soviético Iona Yakir no seu livro “Memórias de um Velho Soldado do Exército Vermelho”.

Os 40 mil soldados chineses do Exército Vermelho nunca atuaram como uma força única. Em vez disso, foram divididos em destacamentos com não mais de 2.000 a 3.000 soldados cada e então incorporados a unidades maiores espalhadas por todo o país. Desse modo, havia soldados chineses na 25ª Divisão de Fuzis do lendário comandante vermelho Vassíli Tchapáiev e até mesmo na guarda pessoal de Lênin.

Soldados do 225º Regimento Chinês de Ren Fuchen.

Uma das unidades mais fortes e confiáveis do Exército Vermelho nos Urais e na Sibéria foi o 225º Regimento Internacional Chinês sob o comando de Ren Fuchen. Após sua morte, em 29 de novembro de 1918, Fuchen foi postumamente condecorado com a Ordem da Bandeira Vermelha e Lênin encontrou-se com sua viúva e filhos.

Cerca de 500 cavaleiros chineses serviram na melhor unidade militar dos bolcheviques, o 1º Exército de Cavalaria de Semiôn Budiônni. Durante a Guerra Polaco-Soviética, um contra-ataque inimigo no rio Vístula os dividiu e parte do exército se separou das forças principais, forçando-os a recuar para o território alemão, onde foram detidos. Os alemães mantiveram os chineses separadamente, tentando persuadi-los a permanecer em seu serviço, mas eles recusaram e logo retornaram à Rússia junto com os outros prisioneiros.

A disciplina de ferro dos soldados chineses se manifestava não somente na batalha. Sua diligência e inquestionável obediência às ordens foram particularmente úteis no cumprimento de ações punitivas e execuções. Nas áreas em que os russos poderiam titubear, os soldados chineses agiam com precisão e sem emoção.

Mas nem todos eram comunistas ou odiavam seus inimigos de classe. Muitos tratavam os confrontos com o inimigo e as execuções de camponeses e operários rebeldes com a mesma indiferença, como um trabalho rotineiro pelo qual recebiam um salário.

Após o fim da Guerra Civil, a maioria dos que compunham o contingente chinês do Exército Vermelho acabou retornando para sua terra natal. Com vasta experiência em combate e treinamento especializado, eles voltaram para ajudar Mao Tsé-Tung a estabelecer o domínio comunista e logo se tornaram o núcleo do Partido Comunista Chinês.

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