Como as tropas soviéticas acabaram com o cerco de Leningrado; veja fotos

Soldados soviéticos hasteiam bandeira vermelha sobre a cidade de Gatchina, libertada dos invasores nazistas, em 26 de janeiro de 1944.

Soldados soviéticos hasteiam bandeira vermelha sobre a cidade de Gatchina, libertada dos invasores nazistas, em 26 de janeiro de 1944.

Vsevolod Tarassévitch
Neste sábado (27) completam-se exatos 80 anos do fim de um dos bloqueios mais longos e destrutivos da história das guerras. Este episódio liderado pelos nazistas durou cerca de 900 dias e levou à morte quase 1,5 milhão de pessoas. Durante dois anos, o Exército Vermelho fez de tudo para romper o bloqueio, o que se tornou possível apenas após o triunfo na batalha de Kursk.

Em 8 de setembro de 1941, logo após a invasão do território soviético, as tropas alemãs fecharam o cerco em torno da segunda maior cidade da URSS, Leningrado (hoje, São Petersburgo) por via terrestre. A “capital do norte” russa ficou sitiada e só se ligava ao resto do país pelas águas do Lago Ládoga — trajeto que ficou conhecido como a “Estrada da Vida”. Essa rota, porém, não servia para fornecer alimento a todos os moradores da enorme metrópole.

Entrega de cargas para a Leningrado sitiada pelo Lago Ládoga congelado durante a Segunda Guerra.

Logo, no início de inverno, uma fome terrível atingiu Leningrado.

“Tudo virou alimento: cintos, solas de couro... Não sobrou um único gato ou cachorro na cidade, sem falar de pombos ou corvos”, escreveu o morador local Evguêni Alióchin. “Não havia eletricidade, as pessoas, famintas e exaustas, iam ao rio Neva buscar água, caindo e morrendo no caminho. [Os serviços municipais] pararam de retirar os cadáveres, eles simplesmente ficavam onde caíam e eram cobertos de neve. As pessoas morriam em casa, famílias inteiras morriam, casas inteiras.”

Desde os primeiros dias de cerco, o Exército Vermelho fez tentativas para quebrá-lo. No entanto, as operações ofensivas de 1941 e 1942 foram um fracasso: não havia pessoas, recursos ou experiência de combate suficientes.

Os mortos do cerco de Leningrado. Cemitério Volkovo.

“Avançamos entre 3 e 4 de setembro do rio Tchiórnaia até [a aldeia de] Kelkolovo”, escreveu o vice-comandante do 939º regimento, de sobrenome Tchipichev, que participou da operação de Siniávino, em 1942. "Atacamos sem apoio de artilharia. Os projéteis que recebemos não serviam para nossos canhões de 76 mm. Não havia granadas. Os metralhadores alemães permaneceram intocados, enquanto nossa infantaria sofreu enormes perdas."

Após o grande sucesso do Exército Vermelho na Batalha de Stalingrado, os generais decidiram realizar mais uma tentativa de quebrar o cerco. Desta vez, as tropas soviéticas obtiveram um sucesso parcial. Durante a Operação Iskra, em janeiro de 1943, eles conseguiram romper um corredor estreito que ligava Leningrado ao resto do país.

No entanto, não foi possível ir adiante com a ofensiva e repelir o inimigo, já que os nazistas ainda mantinham posições perto da cidade e submetiam a região a bombardeios regulares de artilharia.

Após o triunfo soviético na região de Kursk, o comando do Exército Vermelho decidiu que havia chegado a hora de acabar com o cerco completamente. No outono de 1943, começaram os preparativos para uma ofensiva em grande escala no noroeste do país. O exército começou a transferir enormes quantidades de equipamentos militares para a região de Leningrado e para a costa do Golfo da Finlândia, a oeste da cidade.

Segunda operação de Siniávino. Soldados levam canhões camuflados da divisão F-22. Frente de Leningrado.

Era impossível esconder uma concentração de tropas assim. O artilheiro antiaéreo Ivan Chalov escreveu que na região de Púlkovo, perto da cidade, pouco antes da ofensiva, os alemães disseram às tropas soviéticas por meio de alto-falantes: “Ei, russo, por que tantas armas? Iremos embora de qualquer maneira!”

Em 12 de janeiro de 1943, as tropas das Frentes de Leningrado e Volkhov lançavam a Operação Iskra, o início da ofensiva na Frente de Leningrado. Na foto, brigada de tanques se prepara para a batalha perto de Siniávino.

Na verdade, o comandante do Grupo de Exércitos Norte, marechal de campo Georg von Küchler, sequer pensou em recuar. Seu grupo, com 740 mil soldados, preparou uma defesa escalonada de 260 quilômetros com fortificações, bunkers, arame farpado e campos minados.

“As formações deste Grupo de Exércitos tinham vasta experiência em operações de combate”, escreveu o marechal soviético Kirill Meretskov. “Eles tinham experiência em ofensivas e defensivas em áreas arborizadas e pantanosas. Mas já não éramos inferiores ao inimigo na qualidade das tropas e tínhamos superioridade numérica em pessoal: 50% mais pessoas, 100% mais canhões, 300% mais aeronaves e 250% mais tanques."

A operação ofensiva estratégica Leningrado-Nôvgorod das tropas soviéticas iniciou-se em 14 de janeiro de 1944 com a ofensiva do 2º Exército de Ataque na direção das aldeias de Ropcha e Krasnoe Selo.

Ofensiva do 59º Exército da Frente Volkhov perto de Leningrado, simultaneamente com as tropas da Frente de Leningrado.

Ao mesmo tempo, as tropas da Frente Volkhov avançaram na região de Nôvgorod. Eles deveriam conter as forças alemãs ali, não permitindo que o comando da Wehrmacht transferisse reservas para o norte.

Os primeiros dias de combate foram extremamente difíceis para o Exército Vermelho. O militar Iúri Nikulin, que mais tarde se tornou um dos mais famosos atores da URSS, escreveu: “Às vezes tínhamos que parar porque era impossível seguir em frente. Primeiro era uma ponte que explodia, depois um veículo ou um tanque com as minas que cobriam tudo ao redor. Veículos destruídos e cavalos mortos estavam por toda parte, os mortos e feridos eram carregados silenciosamente em veículos vazios e, novamente, essa massa de ferro, aço, combustível e seres humanos se movia para frente. Cada coração dizia só uma coisa: em frente, em frente, em frente.”

Iúri Nikulin (2º à esq., 1ª fila) como artilheiro antiaéreo durante a Segunda Guerra.

Com a ajuda das reservas, a ofensiva foi bem-sucedida. Em 20 de janeiro, a 2° e a 42° divisão do Exército Soviético se uniram na área de Ropcha, isolando uma parte das tropas alemãs das forças principais e liberando a cidade de Nôvgorod.

Tropas soviéticas buscam romper o cerco.

Em 21 de janeiro, o Exército Vermelho ocupou a estação ferroviária Mga, que os alemães chamavam de “castelo oriental do cerco de Leningrado”.

Em 22 de janeiro de 1944, a artilharia alemã bombardeou Leningrado pela última vez a partir da cidade de Púchkin. Dois dias depois, a Wehrmacht também teve de retirar-se de lá.

No final daquele mês, as tropas soviéticas empurraram os alemães a algo entre 70 e 100 quilômetros de Leningrado e libertaram os principais pontos de comunicação da cidade com o resto do país. Em 27 de janeiro, o Conselho Militar da Frente de Leningrado anunciou sua libertação total do cerco inimigo.

Bombardeiros do 14º Exército Aéreo apoiando as tropas da Frente Volkhov para romper o cerco de Leningrado.

O evento foi celebrado em Leningrado com uma salva de tiros cerimonial de 324 armas. “Todos os que estavam ali naquele momento se alegraram, se abraçaram, se beijaram, gritaram “viva!” e choraram de felicidade e ao mesmo tempo de tristeza... Tantas pessoas tinham morrido!", escreveu Elizaveta Dobrova, uma sobrevivente do cerco.

O Exército Vermelho continuou a empurrar o inimigo a oeste, afastando-o de Leningrado por mais algo entre 120 e 160 quilômetros. No entanto, as tropas soviéticas não conseguiram cercar e derrotar o Grupo de Exércitos Norte até o fim.

Com rompimento do cerco, combatentes das frentes de Leningrado e Volkhov celebram. 18 de janeiro de 1943.

Os alemães recuaram para a Estônia para a linha “Pantera”, ou seja, um enorme sistema de fortificações defensivas. Isso lhes permitiu frear a ofensiva soviética.

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