Quem foi marechal Budiônni, melhor cavaleiro da era soviética e amigo de Stálin (FOTOS)

História
BORIS EGOROV
Lendário líder militar lutou na Guerra Civil Russa e nas duas guerras mundiais. Respeitado e amado pelos soviéticos, foi objeto de livros, filmes e canções. No entanto, para sobreviver às repressões em massa, usou razões falsas para condenar diversos “inimigos do povo” à morte.

“Ele tem um instinto estratégico maravilhoso. Ele é corajoso ao ponto da loucura, da audácia insana. Ele compartilha com seus cavaleiros todas as dificuldades e perigos mais horrorosos. Assim, os soldados estão dispostos a dedicar suas vidas para defendê-lo”, escreveu o líder da revolução russa, Vladímir Lênin, sobre um dos mais famosos comandantes do Exército Vermelho, o futuro marechal da União Soviética, Semiôn Budiônni.

Nascido e criado no sul do Império Russo entre os cossacos do rio Don, Budiônni andava a cavalo desde a infância. Após entrar no serviço militar, nas fileiras da cavalaria, ele passou pela guerra Russo-Japonesa e pela Primeira Guerra Mundial, recebendo diversos prêmios por sua bravura nas batalhas.

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, Budiônni sonhava em construir seu próprio haras, mas a Guerra Civil que eclodiu ao final do Império Russo impediu seu sonho. Ex-sargento do exército tsarista, Budiônni nunca tinha sido um revolucionário, mas acabou no campo bolchevique e se juntou à luta pelo poder dos trabalhadores e camponeses.

No exército dos revolucionários, Budiônni rapidamente ascendeu às patentes mais altas. De comandante de um pequeno destacamento de cavalaria, no verão de 1919, ele se tornou comandante do Primeiro Corpo de Cavalaria. Foi Budiônni que, nas batalhas perto da cidade de Voronej, em 1919, derrotou as principais forças da cavalaria branca. Leia aqui sobre quem eram brancos, vermelhos e verdes na Guerra Civil russa.

Após uma série de vitórias, em 19 de novembro de 1919, com base no Primeiro Corpo de Cavalaria, foi criado o Primeiro Exército de Cavalaria, que se tornou a formação militar mais poderosa e renomada das Forças Armadas da jovem república soviética. Reforçada por unidades de fuzileiros, artilharia, trens blindados e aviação, a cavalaria de Budiônni conquistou diversas vitórias importantes no Cáucaso e na Crimeia. 

Semiôn Budiônni se tornou um dos comandantes mais amados e populares do Exército Vermelho. O cocar de inverno dos militares, que tinha o formato do capacete dos antigos guerreiros russos, foi apelidado não oficialmente de “budiônovka”.

Após o fim da Guerra Civil, Budiônni se dedicou inteiramente aos cavalos: assumiu o cargo de inspetor da cavalaria do Exército Vermelho, trabalhou como editor da revista “Criação de Cavalos", contribuiu para a criação de haras e se opôs à redução do número de tropas de cavalaria na URSS.

Em 20 de novembro de 1935, Budiônni recebeu o título de marechal da União Soviética. Durante as repressões em massa de Stálin que se seguiram na URSS, conhecidas como o “Grande Expurgo”, três dos cinco marechais foram executados. Budiônni conseguiu sobreviver.

O principal cavaleiro do país foi salvo por sua total falta de ambições políticas e antipatia pelas intrigas do poder. Budiônni apoiou Stálin desde o início da sua trajetória política e ficou ao seu lado até o fim. O ditador sabia da devoção do militar e ignorou todas as denúncias de que seu “amigo e camarada” Budiônni estaria envolvido em quaisquer conspirações.

Budiônni, por sua vez, foi forçado a agir de acordo com as políticas de Stálin e a apoiar todas as suas iniciativas, até mesmo as mais horríveis. Em 11 de junho de 1937, ele, como membro do Comitê Especial da Suprema Corte da URSS, condenou à morte o marechal Mikhail Tukhatchêvski e vários altos líderes militares soviéticos por participação em uma “conspiração militar-fascista”. Posteriormente, a investigação mostrou que o caso foi completamente falsificado.

No início da guerra contra a Alemanha nazista, em 10 de julho de 1941, Budiônni foi nomeado comandante-chefe das tropas da direção sudoeste e recebeu a tarefa de defender Kiev. Com o perigo de um possível cerco das tropas, ele pediu ao Quartel-General do Alto Comando Supremo uma permissão para começar a recuar, que foi recusada. Em 12 de setembro, ele foi afastado do comando como “alarmista”; mas, três dias depois, como Budiônni tinha previsto, os alemães cercaram os quatro exércitos soviéticos que defendiam a capital da Ucrânia soviética.

Mais tarde, Budiônni comandou a Frente de Reserva e as tropas da direção Norte do Cáucaso, mas não conseguiu garantir seu controle efetivo. Desde 1943, o marechal não estava mais envolvido no comando direto das tropas. Assim, ele foi responsável pela formação de novas unidades de cavalaria, mas não participou mais dos combates.

No período pós-guerra, Budiônni ocupou o cargo de vice-ministro da Agricultura da URSS para criação de cavalos, e escreveu mais de 70 trabalhos sobre este tema. Sob sua direção, foi publicado o livro de cinco volumes “A História do Cavalo”. Em 1948, uma nova raça de cavalos desenvolvida na União Soviética recebeu o nome "budiônnovskaia", em homenagem ao marechal.

O marechal seguiu tendo pouco interesse por política, embora, em 1954, durante uma festa, tenha feito comentários críticos ao novo líder do país, Nikita Khruschov. Já Stálin, mesmo após sua morte, nunca foi criticado por Budiônni. 

Nos últimos anos de vida, Budiônni escreveu memórias sobre seu serviço no Primeiro Exército de Cavalaria e participou de inúmeras reuniões com a juventude soviética, para quem ele era um participante lendário da Guerra Civil.

Budiônni morreu em 1973, aos 90 anos. Mesmo na velhice, ele continuou a montar Sofista, seu garanhão da raça "budiônnovski".

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