Muitas vezes, eles eram feitos pelas agulhas de alguém da família, como a avó ou a mãe. Essas rendas branquíssimas eram dispostas sobre almofadas, cômodas, mesas de café, televisores e outras superfícies para fins decorativos.
A difusão desse tipo de decoração tem a ver com a popularidade desse hobby: na URSS ele encontrou aplicação prática. Por exemplo, acreditava-se que o crochê colocado sobre o aparelho de televisão protegia o valioso objeto do pó e até a tela da luz direta do sol.
A porcelana era muito popular na URSS e não tinha necessariamente uma função utilitária: bailarinas, pastores com ovelhas, animaizinhos, bustos de figuras políticas ou os sete elefantes que se tornaram um clássico soviético e, dizia-se, traziam riqueza e prosperidade. Os bibelôs de porcelana estavam nas casas de todas as famílias.
A porcelana russa era reconhecida internacionalmente desde meados do século 18 e valorizada tanto quanto a chinesa e europeia. Quando os comunistas chegaram ao poder, as fábricas tsaristas foram nacionalizadas e logo passaram a fabricar seus bibelôs temáticos para o mundo.
Havia mais de 300 fábricas de porcelana na URSS, quase todas com seu próprio estilo e história.
A paixão do povo soviético por tapetes ornamentais de boa qualidade no chão e nas paredes já é meme há muito tempo. Mas para os soviéticos, o objeto era uma verdadeira necessidade: sem tapetes uma casa não podia ser considerada adequada para viver.
Além de acrescentaram cor ao espaço monótono dos blocos de apartamentos soviéticos, os tapetes também desempenhavam funções práticas importantes: serviam como isolamento acústico e térmico não só para o chão, mas também para as paredes de concreto (que, além de frias, deixavam ouvir tudo o que os vizinhos faziam e vice-versa).
Famílias de renda média compravam tapetes feitos à máquina, enquanto outras às vezes viajam ao Turcomenistão, Azerbaijão ou Armênia para comprar tapetes feitos à mão. Eles eram considerados um bom investimento e repassados como herança.
O povo soviético acreditava que um conjunto de talheres de prestígio refletia o status de seu proprietário. Embora as pessoas não pudessem pagar por talheres de prata, a opção brilhante e elegante de cuproníquel, uma liga de cobre e níquel, era uma escolha popular. Os artigos feitos com este material eram bastante vistosos e, muitas vezes, uma cópia dos modelos de tempos tsaristas.
O único problema do cuproníquel era que ele escurecia rapidamente, e assim as peças tinham que passar por uma limpeza especial frequentemente.
O lustre de cristal era considerado um objeto perfeito para todos os espaços (mesmo para um apartamento de um só cômodo). As pessoas pagavam uma fortuna por essas enormes belezuras tchecas com pingentes de cristal. Muitas vezes, os soviéticos os traziam de viagens de negócios - às vezes, com a intenção de revendê-los.
Mas a peça era muito cara e não podia ser desfrutada por todos. Assim, a indústria soviética começou a fazer lustres em cascata de plástico transparente para o cidadão comum: eles eram um símbolo de que o povo soviético não vivia pior que qualquer rei.
Sempre havia um pesado vaso de cristal com grossas paredes esculpidas atrás do vidro do aparador de um soviético. O vaso de cristal era um dos itens mais populares de decoração de interiores na URSS.
Estes grandes vasos eram presenteados em ocasiões especiais, como casamentos, aniversários e aposentadorias. Vasos menores, mas certamente com detalhadas imagens em relevo, eram um ótimo presente para professores dado por agradecidos pais ou mães, ou para chefes por seus subordinados no aniversário.
As tapeçarias viraram objeto obrigatório dos apartamentos soviéticos após a Segunda Guerra Mundial, quando exemplares foram levados como troféus de guerra da Alemanha para a URSS. Logo a produção soviética passou a se inspirar nelas.
Os mais populares eram os que retratavam renas ou ursos na floresta (baseados em uma pintura de Ivan Chíchkin). O quadro "Ataque dos Lobos" de Nikolai Svertchkov, um pintor de batalha do século 19, e uma reprodução de "Três Bogatires", de Víktor Vasnetsov, também eram muito populares.
O povo soviético conhecia bem a arte russa: isso porque ter a reprodução de uma pintura da Galeria Tretiakov em casa era considerado de bom tom. Essas pinturas eram até mesmo publicadas em revistas.
Entre as pinturas mais difundidas estavam "Manhã em uma floresta de cones" de Chíchkin, "Garota com pêssegos", de Valentin Serov e "Desconhecida", de Ivan Kramskoi.
O jogo de porcelana alemão “Madonna” era o sonho de toda mulher soviética. Ao contrário da porcelana soviética, ele era decorado no estilo barroco com douramento nas bordas. Porém, o nome é um enigma: não tem nenhuma Madonna nos itens do conjunto, que na maioria das vezes representava cenas mitológicas.
Havia diversos conjuntos: jogos de mesa, de café e de chá. Mas, via de regra, não foram usados para o propósito pretendido e sim mantidos na cristaleira. Eles eram especialmente populares na década de 1970, quando foram fabricados em grandes quantidades na República Democrática Alemã.
A URSS tinha seus próprios relógios de cuco, produzidos pela fábrica “Maiak”. O relógio mecânico de parede em forma de cabana com um cuco de pássaro que saía de hora em hora era parte do déficit – assim como qualquer outro item de decoração.
É por isso que havia uma enorme demanda por eles, tanto no país como no exterior. Todo ano, mais de um milhão de relógios eram exportados para 44 países ao redor do mundo.
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