Você sabia que a URSS pagou manuscritos de Lênin com pinturas de Kandinsky?

Kira Lissítskaia (Foto: Domínio público; Tristan Fewings/Getty Images for Sotheby's)
Os bolcheviques não apenas venderam obras de arte de valor inestimável para o Ocidente nas décadas de 1920 e 1930.

Hoje em dia, as obras-primas de Wassily Kandinsky, o fundador da arte abstrata, são vendidas em leilões por preços recordes. Mas, para as autoridades soviéticas, elas não tinham tanto valor assim. Em 2017, a sua tela Pintura com Linhas Brancas (1913) foi vendida na casa de leilões Sotheby's por US$ 42 milhões. Nem todos sabem, porém, que a proveniência dessa pintura é como uma história de detetive: em 1974, a URSS a trocou por uma carta pouco conhecida escrita por Lênin.

A liderança soviética estava à caça de todos os documentos ligados ao nome do líder da revolução, sobretudo os originais de seus manuscritos – até mesmo notas curtas e cartas. Se tais itens caíssem nas mãos de cidadãos da URSS, eles eram obrigados a devolvê-los. Mas, quando foi revelado que alguns dos documentos estavam guardados no exterior, as autoridades tiveram de recorrer à astúcia - comprando ou trocando-os por outra coisa.

Em 1974, o governo soviético soube que havia um original da carta de Lênin ao bolchevique Grigóri Aleksinski, datada de 7 de fevereiro de 1908. De acordo com publicação da revista alemã Spiegel na época, o colecionador Wilhelm Hack contatou Moscou, sabendo que seus amigos possuíam uma carta de Lênin – e ele mesmo sugeriu trocá-la por uma pintura de Kandinsky.

A carta já havia sido publicada na imprensa soviética, mas descobriu-se (e, conforme as condições do acordo, o lado alemão teve de manter silêncio sobre isso) que a carta continha um adendo desconhecido anteriormente. A questão judaica era abordada nesse trecho, e as autoridades temiam que a carta pudesse ser usada pelo Ocidente em propaganda antissoviética.

A troca foi debatida no mais alto nível do governo. O partido instruiu o Ministério da Cultura a entregar uma das pinturas dos cofres da Galeria Tretiakov à KGB e então trocá-la pelo original da carta.

O dono da carta preferiu manter o anonimato. Mais tarde, o site da Sotheby's publicou a proveniência da pintura, que continha a lista dos proprietários desde a Tretiakov até a coleção de Hack, quando a pintura foi posta à venda.

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