Kliment Vorochilov, o primeiro marechal soviético

Kliment Vorochilov, Comissário do Povo para Defesa, em desfile na Praça Vermelha, em Moscou.

Kliment Vorochilov, Comissário do Povo para Defesa, em desfile na Praça Vermelha, em Moscou.

Ivan Cháguin/Sputnik
Não bastasse o pioneirismo, ele foi, provavelmente, o marechal soviético mais extraordinário. Mesmo sem habilidades organizacionais ou bons conhecimentos da teoria militar, ele ocupou o cargo do Comissário do Povo (ministro) da Defesa da URSS por 15 anos, graças a seu fanatismo por Ióssif Stálin.

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"O primeiro marechal nos levará à batalha!", assim acaba a famosa canção soviética sobre Kliment Efremovitch Vorochilov, conhecido popularmente como Klim Vorochilov (também grafado como Voroshilov em português). Formalmente, ele não foi o primeiro marechal da União Soviética, porque, simultaneamente com ele, em 20 de novembro de 1935, os mais altos postos militares soviéticos foram concedidos a cinco líderes militares. Porém, no imaginário popular, Vorochilov é quem foi considerado o primeiro marechal e líder militar mais importante do país.

Vorochilov.

Nascido em 1889, na Ucrânia, Kliment Vorochilov foi um revolucionário famoso. Assim, quando se tornou marechal, tinha realmente muito mais influência do que outros líderes militares. A partir de 1925, ele passou a chefiar o departamento militar do país, inicialmente na posição de Comissário do Povo (ministro) para os Assuntos Militares e Navais da URSS. A partir de 1934, passou ao cargo de Comissário do Povo (ministro) da Defesa. Vorochilov também foi sempre amigo próximo e aliado de Ióssif Stálin, que ele conheceu durante a Guerra Civil russa. O líder soviético sempre elogiou o desempenho e a lealdade pessoal de Vorochilov.

Vorochilov encontra membras do Komsomol para lhes conferir premiação como atiradoras.

O apoio de Stálin ajudou Vorochilov a sobreviver ao Grande Expurgo — as repressões políticas em massa que levaram à morte de aliados e opositores de Stálin na segunda metade da década de 1930. Vorochilov teve um conflito com seu vice, o marechal Mikhail Tukhachevsky, que era extremamente ambicioso e sugeriu um programa de aumento da capacidade de defesa do país. Assim, uma divisão surgiu na liderança político-militar da URSS.

No final das contas, Stálin apoiou seu velho amigo Vorochilov. Em 1937, Tukhachevsky, apelidado de "Napoleão Vermelho", e vários outros líderes militares que compartilhavam suas opiniões foram presos, acusados de planejar um golpe de Estado e executados por fuzilamento.

Stálin (esq.) e seu amigo Vorochilov.

Em agradecimento a Stálin, Vorochilov participou ativamente das repressões em massa contra o comando do Exército Vermelho. Ele enviou inúmeras listas de comandantes para serem presos com a resolução de "deter imediatamente todos os canalhas". Quando Iona Yakir, amigo pessoal dele e comandante do 1º escalão, foi preso, Vorochilov recebeu uma carta em que ele assegurava sua inocência. O Comissário do Povo respondeu aos órgãos da polícia secreta “Duvido da honestidade de uma pessoa desonesta”.

Vorochilov assinou pessoalmente 185 listas com sobrenomes de militares para serem executados. Na primavera de 1939, apenas dois dos cinco marechais iniciais da União Soviética estavam vivos - um deles era Kliment Vorochilov.

Vorochilov realizou uma das mais importantes reformas do Exército Vermelho, que passou do princípio de recrutamento de milícia territorial para um exército regular e bem equipado com armas modernas. Foi ele quem lançou os programas de treinamento em massa do pessoal de comando, de treinamento militar pré-recrutamento para jovens e de reforma da Marinha e das tropas aerotransportadas.

No entanto, durante a difícil e sangrenta Guerra de Inverno contra a pequena Finlândia, entre 1939 e 1940, as Forças Armadas Soviéticas mostraram que não eram tão formidáveis assim. Problemas enormes surgiram com o comando e o controle das tropas, seu abastecimento, treinamento de combate e coordenação entre unidades e subunidades. O nível de treinamento dos comandantes era insatisfatório.

Vorochilov (segundo à esq.) participa de um desfile militar na Praça Vermelha para comemorar o aniversário da Revolução de Outubro.

A capacidade de Kliment Vorochilov de gerenciar com eficácia o pasta militar era frequentemente questionada por outros líderes militares. Além de Tukhachevsky, o marechal Gueôrgui Jukov também criticava ativamente o trabalho de Vorochilov.

“É preciso dizer que o Comissário do Povo Vorochilov era um homem de pouca competência. Ele permaneceu um amador em assuntos militares até o fim e não era bem versado em teoria militar", escreveu Jukov, que foi comandante do exército soviético na Segunda Guerra Mundial.

Após o fracasso na guerra contra a Finlândia, Stálin reconsiderou sua atitude em relação ao marechal. Em maio de 1940, Kliment Vorochilov foi demitido de seu cargo, que ocupou por quase 15 anos.

Mesmo assim, Stálin não queria tirar seu aliado do poder. Vorochilov assumiu o cargo de presidente do Comitê de Defesa do Conselho de Comissários do Povo da URSS, que supervisionava as questões mais importantes da defesa do Estado.

Após o início da guerra contra a Alemanha nazista, Stálin deu a Vorochilov uma chance de se provar como comandante, mas seu comando das tropas da direção noroeste e da Frente de Leningrado terminou em desastre: as tropas inimigas quase entraram na antiga capital russa. Após o fracasso, Vorochilov visitou repetidamente as frentes como representante do Quartel-General do Alto Comando Supremo, mas nunca mais esteve mais envolvido no comando direto das tropas.

Vorochilov atuou com mais eficácia no outono de 1942, como comandante-em-chefe do movimento guerrilheiro. Ele introduziu um esquema eficaz de gerenciamento de forças guerrilheiras e resolveu problemas com o treinamento de pessoal.

Após a morte de Stálin, Vorochilov conseguiu manter sua influência política. Quatro anos depois, ele se juntou ao Grupo Antipartidário na tentativa de privar Nikita Khruschov do poder.

Khruschov e Vorochilov de férias na Crimeia.

A tentativa fracassou, mas Kliment Vorochilov teve sorte de novo: o velho marechal não representava perigo para Khruschov e não foi punido e nem expulso do Partido Comunista, como acontecera a outros membros do Grupo Antipartidário. Logo Vorochilov se aposentaria e dedicaria os últimos anos de sua vida a escrever suas memórias.

Vorochilov.

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