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Apenas um pequeno número de soviéticos, dentre os quais, diplomatas, marinheiros e pilotos, eram autorizados a viajar para o exterior – e a trabalho. Ninguém mais podia ir além da Cortina de Ferro. Os cidadãos costumavam passar férias em spas soviéticos e fazendo turístico doméstico. Tudo que se sabia sobre a vida no exterior era aprendido nos raros filmes estrangeiros e em conversas – que, muitas vezes, se tratavam puramente de boatos.
Aeroporto russo, 1958.
Vsevolod Tarassévitch/МАММ/МDFSe alguém tivesse um motivo válido para ir para o exterior, precisava reunir uma pilha enorme de documentos e certificados, receber autorizações de inúmeras comissões e passar por uma entrevista no comitê do partido comunista.
Os documentos precisavam ser apresentados de três a seis meses antes da viagem. No entanto, nenhum motivo era garantia de que a pessoa receber a autorização de saída.
Uma das instruções dos órgãos oficiais era que essa autorização fosse concedida apenas àqueles que “tivessem experiência de vida suficiente, fossem politicamente maduros, tivessem comportamento pessoal impecável, fossem capazes de manter elevada a honra e a dignidade do cidadão soviético no exterior”.
Distribuição de empregos em faculdade de geologia. 1963-1964.
Vsevolod Tarassévitch/МАММ/МDFNa União Soviética todos os graduandos das instituições de ensino superior recebiam um emprego automaticamente. No entanto, apenas os graduandos que tinham amigos ou relações no governo ou nas comissões do Partido podiam escolher seu emprego.
Todos os outros recebiam empregos de acordo com o sistema de distribuição: uma comissão especial decidia onde o graduando trabalharia nos primeiros três anos após a formatura.
Esse primeiro posto de trabalho podia ser um empreendimento dentro da cidade, mas a pessoa também podia ser enviada para o outro lado da União Soviética, a milhares de quilômetros de sua cidade natal. Os graduandos não tinham o direito de recusar o posto ofertado.
Polícia soviética verificando propiskas.
Valéri Khristoforov/TASSNão havia liberdade de movimento na União Soviética - o Estado controlava rigidamente o movimento da população por meio do sistema de “propiska”, uma autorização de residência permanente carimbada no passaporte de cada soviético.
A partir de 1960, viver sem autorização de residência por mais de 3 dias era considerado crime e punido com 1 ano na prisão ou com uma multa equivalente a um salário mensal daquela pessoa.
Para viajar de um lugar a outro era preciso apresentar uma nota ao conselho local. A permissão era de apenas 30 dias. Se a pessoa partisse para outra cidade e nunca mais voltasse, ao ser pega, enfrentava multa e era deportada de volta. Infratores reincidentes podiam ficar dois anos atrás das grades.
Para receber a permissão para morar em um lugar diferente de onde havia nascido, o soviético tinha que provar ter uma motivação válida a um comitê especial. Eram considerados motivos adequados um novo emprego, a necessidade de estudar ou o serviço no exército. Se o cidadão perdia o emprego, perdia também a autorização de residência.
Os desempregados não se encaixavam na ideologia soviética. Todos deviam estar ocupados com o trabalho, construindo o Estado soviético e comunismo. Na década de 1960, foi emitido o “Decreto para“intensificar a luta contra as pessoas que evadem o trabalho socialmente útil e levam um estilo de vida parasitário antissocial”.
Todos os spviéticos que não tivessem emprego durante quatro meses ou mais (à exceção de mulheres com filhos pequenos) eram considerados parasitas e enviados à força para realizar trabalhos corretivos em regiões remotas por um período de até cinco anos.
Além disso, as vítimas dessa lei não eram apenas pessoas sem trabalho e renda, mas também aquelas que tinham renda, mas não tinham trabalho oficial. Assim, a lei ameaçava taxistas particulares, construtores, músicos etc.
O decreto foi usado em várias ocasiões com o simples intuito de perseguir dissidentes e pessoas que não apoiavam o partido comunista. Muitos escritores, artistas e poetas, como por exemplo Joseph Brodski, foram julgados e expulsos do país sob a acusação de “parasitismo social” – como chamavam o crime daqueles que não tinham trabalhos oficiais, mesmo que trabalhassem na área criativa.
Uma das famosas discussões nas cozinhas de apartamentos comunais soviéticos. 1970.
Arquivo de Mikhail DachévskiAs pessoas que não compartilhavam de todas as ações e decisões do governo soviético e criticavam o partido eram chamados de "antissoviéticas". Poucas pessoas ousavam criticar o governo da URSS publicamente, mas até as conversas privadas em casa podiam se tornar um pretexto para acusações de “propaganda antissoviética” e levar a até 7 anos na prisão ou nos campos de trabalho forçado.
Dentro de uma loja "Beriozka", 1974.
SazikovApenas o Estado tinha o direito de comprar e vender moedas estrangeiras na URSS. Os cidadãos foram proibidos de ter moedas estrangeiras a partir 1937. Todo o dinheiro estrangeiro que os cidadãos traziam de viagens para o exterior devia ser trocado por certificados especiais que podiam ser usados para pagar compras na rede de lojas especiais “Beriózka”, destinada a atender estrangeiros na URSS.
O caratê se popularizou na década de 1960, quando um grande número de filmes com artes marciais surgiu nos cinemas soviéticos. Na URSS o caratê se tornou especialmente popular entre criminosos e ladrões, e os policiais comuns não sabiam como combater essa arte marcial.
O caratê também se tornou perigoso no sentido político. Durante protestos na Polônia, os caratecas conseguiram romper o cordão policial. O Kremlin não queria ter praticantes desta arte na URSS e, em 1981, a proibiu oficialmente.
O mesmo destino recaiu sobre os fisiculturistas, mas por razões ideológicas. O desenvolvimento da musculatura para fins estéticos era considerado uma ocupação antissoviética e burguesa. Os fisiculturistas tinham que praticar os exercícios em clubes fechados e evitar incursões policiais. A proibição foi levantada em 1987.
Familias se mudam para a cidade de Naberejni Tchelni.
E. Logvinov/TASSGarantir moradia aos trabalhadores era um dos postulados da política soviética. Havia várias maneiras de conseguir um apartamento: trabalhando em uma empresa que construísse moradias para seus funcionários ou tendo um filho e entrando na lista de espera habitacional. No final das contas, quase todos os cidadãos soviéticos tinham apartamentos para morar – mas não eram proprietários deles porque recebiam os imóveis sob um contrato de aluguel social.
Com o apartamento o cidadão podia receber autorização de residência permanente, e ele podia trocar de imóvel com outro cidadão soviético, mas nunca vendê-lo, comprá-lo, doá-lo ou legá-lo. Quase todos os imóveis na URSS pertenciam ao Estado.
Alojamento da Universidade de Tartu, na URSS. Na Estônia soviética era possível "roubar ondas" da BBC da Finlândia e, com a proximidade das duas línguas, os estonianos o faziam com frequência.
Vsevolod Tarassêvitch/MAMM/MDFAs estações de rádio estrangeiras transmitiam para o território da União Soviética, algumas não apenas em russo, mas também em outras línguas dos povos da URSS.
No entanto, o Estado não queria "vozes inimigas" em seu território e fazia de tudo para silenciar as rádios estrangeiras. Para isso, foram construídas cerca de 1.400 estações especiais que bloqueavam de 40% a 60% das transmissões estrangeiras. Os rádios produzidos na URSS tinham a escala de ondas reduzida para impedir a recepção e era criada, propositalmente, quando a transmissão tangia determinados assuntos, a “gluchilka” (uma interferência premeditada que impedia o ouvinte de entender o que estava sendo transmitido).
Às vezes, durante períodos de distensão política, o bloqueio era relaxado ou interrompido por um tempo. Assim, por exemplo, em 1959, quando o secretário-geral Nikita Khruschov visitou os Estados Unidos, a rádio Voz da América deixou de ser bloqueada temporariamente.
Chiclete de laranja soviético.
@old_bubble_gumA goma de mascar entrou nas “sanções” soviéticas como símbolo do “Ocidente corruptor” e, por essa razão, os chicletes se tornaram um produto raro e muito desejado na URSS.
Em 1975, os membros da equipe canadense de hóquei decidiram distribuir chicletes para crianças no parque Sokólniki, em Moscou, e isso levou a um enorme tumulto e à morte de 21 pessoas. Após essa tragédia, em 1976, chicletes começaram a ser fabricados na URSS.
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