Como os EUA trocaram Pepsi por espumante soviético Nazdorovya e vodca Stolichnaya

Russia Beyond (N. Arkhánguelski/Sputnik; Abrau-Durso)
Apesar do mito, os russos não brincam com “Nazdorovya!” (À saúde!, em português) – frequentemente retratado nos filmes de Hollywood. Mas isso não impediu a exportação para o Ocidente de um espumante com o mesmo nome.

No luxuoso hotel St. Regis em Midtown Manhattan, norte-americanos ricos e proeminentes se reuniram para a apresentação de um novo vinho espumante russo de Abrau-Dyurso, chamado Nazdorovya. Eles haviam sido convidados pelo presidente da PepsiCo, Donald Kendall, para o evento inesperado em 1975, em plena Guerra Fria. Mas a degustação de vinhos espumantes soviéticos deveria promover “melhor entendimento mútuo” e “reduzir tensões” nas relações entre os EUA e a URSS, sugeria o convite. Naturalmente, interesses comerciais e o lucro também estavam por trás desses planos.

Esta foto do líder soviético Nikita Khruschov experimentando Pepsi na Exposição Nacional Norte-Americana em Moscou, em 1959, foi publicada por centenas de meios de comunicação estrangeiros

Em sua visita à URSS em 1971, Kendall fez um acordo com os soviéticos para fornecer ao país produtos da PepsiCo. Assim, a Pepsi se tornou a primeira marca norte-americana lançada oficialmente para venda na URSS. Em troca, a PepsiCo concordou em importar para os Estados Unidos e distribuir a vodca Stolichnaya e o vinho espumante Nazdorovya.

Aleksêi Kosiguin, vice-presidente do Conselho de Ministros da URSS, organizou a troca de refrigerante e bebidas baseando-se na fórmula “litro por litro”. Porém, ele decidiu tudo de forma que a vodca fosse considerada um produto acabado e o refrigerante, um concentrado. No fim das contas, a fórmula era de 1 para 17; não a favor dos americanos.

Donald Kendall assina um acordo para a abertura de uma instalação da PepsiCo em Novorossisk. URSS, 1973

De 1973 a 1981, foram enviados para os Estados Unidos 1,9 milhão de decalitros de vodca Stolichnaya, o que somava cerca de US$ 25 milhões. No mesmo período, 32,3 milhões de decalitros de Pepsi Cola foram produzidos na URSS, e a venda refrigerante gerou uma receita total de 303 milhões de rublos (considerando a taxa de câmbio da época, isso significa que os soviéticos ganharam 139 milhões de rublos a mais que os norte-americanos). A PepsiCo não recebeu dinheiro pelo refrigerante produzido em solo soviético; a única receita era a proveniente da venda de bebidas alcoólicas soviéticas nos Estados Unidos.

Revista Texas Monthly, 1977

O volume de vinho da URSS fornecido era mais modesto do que o de vodca. Mas, a partir de 1974, o espumante Nazdorovya passou a ser vendido em vários mercados nos EUA.

O nome da marca – Nazdorovya – para o vinho espumante soviético foi intencional. Surgiu do brinde modificado, “Na zdorovie”, que aparece em todos os filmes norte-americanos para qualquer coisa russa ou para brindes que contenham vodca.

Para os EUA, a importação de espumantes naquela época não era algo particularmente incomum. A bebida popular também era importada da Iugoslávia, África do Sul e Austrália.

O jornalista Frank J. Prial, em seu artigo no New York Times em 1975, descreveu “Nazdorovya, Extra Brut” como “seco e bem equilibrado”; e “Nazdorovya Brut” como “mais dourado na cor e com toque final um pouco mais adocicado”.

Esses vinhos espumantes eram produzidos a partir de uvas locais em um lugar chamado Abrau-Diurso, no território de Krasnodar, no sul da Rússia. Os produtores usavam as variedades de uva Pinot noir e Pinot chardonnay. Assim como a técnica clássica de produção de champanhe exigia, o vinho era envelhecido três anos. A URSS também chegou a fornecer seu espumante para o Brasil, Bélgica, Itália, Canadá, México e países da Europa Oriental.

Nos EUA, uma garrafa de Extra Brut era vendida por US$ 13, enquanto o Brut saía por US$ 9,95. Pelo preço, estava na faixa de custo de uma garrafa de champanhe francês não vintage Moet & Chandon (US$ 10), mas mais caro do que o espumante premium da Califórnia.

Cervejaria de Novorossisk. Linha de produção da Pepsi-Cola, 1974

Em 1979, as relações soviético-americanas foram atingidas por uma nova crise após o envio de tropas soviéticas ao Afeganistão. A demanda por bebidas soviéticas começou a diminuir. No final da década de 1980, pouco antes da queda da URSS, os norte-americanos reorientaram seus acordos de troca para a compra de equipamentos militares soviéticos.

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