Quando os EUA lançaram balões de espionagem contra os soviéticos na Guerra Fria

Domínio público
Os balões de reconhecimento precederam o uso de aviões U-2 de alta altitude que os EUA usavam para espionar na URSS no final da década de 1950.

A Força Aérea dos EUA lançou o programa de balões de espião de alta altitude logo após a Segunda Guerra Mundial. Apesar das complicações, os balões de espionagem provaram ser uma maneira econômica e eficaz de reunir inteligência na URSS, abrindo caminho para uso dos aviões espiões de alta altitude que causaram um escândalo diplomático em 1960.

Balões espiões

Skyhook balloon, algo como balão do gancho celeste

Na década de 1950, quando as tensões da Guerra Fria com a URSS cristalizaram, os EUA precisavam de um recurso de reconhecimento para observar o inimigo sem serem detectados.

Ao descobrir que os fluxos de ar de alta altitude geralmente faziam o trajeto de oeste a leste, a Força Aérea dos EUA concluiu que balões de alta altitude liberados da Europa Ocidental voariam para o leste – o que significa que, provavelmente, voariam sobre a URSS e depois alcançariam as bases militares dos EUA no Japão, onde seria possível coletar os dados.

Skyhook balloon, algo como balão do gancho celeste

Desse modo, os balões de espionagem dos EUA poderiam reunir inteligência valiosa sobre as forças armadas da URSS, especialmente sobre as capacidades nucleares do país, e o mais importante – ficar fora do alcance da defesa aérea soviética, ao se posicionar a 15.000 metros (50.000 pés) acima do nível do mar.

Em 10 de janeiro de 1956, os militares dos EUA lançaram oito balões de espionagem do território da Turquia e um do território da Alemanha Ocidental. Nas semanas seguintes, o número de lançamentos bem-sucedidos cresceu para 448 balões em direção ao leste.

Skyhook balloon, algo como balão do gancho celeste

Mas o aparecimento de centenas de balões de espionagem no espaço aéreo soviético não passou despercebido pela liderança do país. Em 4 de fevereiro de 1956, a URSS emitiu uma nota formal de protesto aos Estados Unidos por meio de canais diplomáticos acusando os norte-americanos de violar o espaço aéreo soviético e a sua soberania. Paralelamente, os militares soviéticos ponderaram maneiras de neutralizar a ameaça.

Em pouco tempo, os pilotos soviéticos de caças MIG descobriram que os balões de espionagem baixavam sua altitude à noite, descendo para sua zona de ataque. A descoberta se mostrou eficaz: estima-se que 90 % dos balões dos EUA foram abatidos pelos soviéticos ou colidiram em locais não identificados antes de deixarem o vasto território da URSS.

Balão de espionagem sendo lançado a partir do deck de navio dos EUA, 1949

No entanto, a fração dos balões de espionagem restantes que sobreviveram a todos os perigos e atingiram as bases militares dos EUA carregavam informações inestimáveis sobre aproximadamente um milhão de quilômetros quadrados de território sino-soviético.

À medida que as tensões da Guerra Fria se intensificavam, também evoluíam as tecnologias usadas pelos EUA para fornecer um vislumbre por trás da Cortina de Ferro.

O incidente do U-2

U-2, 1960

No final da década de 1950, os EUA mudaram de balões de espionagem para uma ferramenta de espionagem mais avançada e confiável: aeronave de reconhecimento e vigilância de alta altitude U-2.

Em 1956, os Estados Unidos começaram a enviar secretamente os modelos U-2 sobre o território soviético para missões de reconhecimento. Assumiu-se que os soviéticos não tinham capacidade de disparar contra esses aviões na altitude de 21.000 metros (70.000 pés). No entanto, o presidente norte-americano Eisenhower insistiu em autorizar pessoalmente cada voo, pois era impossível antecipar uma resposta soviética.

Sistema de defesa antimíssil S-75

Os militares soviéticos detectaram os aviões, mas não os alcançaram com mísseis existentes. Curiosamente, o líder soviético Nikita Khruschov não acusou os EUA publicamente, porque esse protesto revelaria a incapacidade dos militares soviéticos de derrubar aviões de alta altitude.

Em 1º de maio de 1960 –  duas semanas antes de Eisenhower encontrar o líder soviético Khruschov em Paris – a Casa Branca autorizou mais um voo de U-2 sobre a União Soviética. Para os norte-americanos, esse voo foi um verdadeiro desastre.

Destroços de avião de espionagem U-2 abatido sobre Sverdlovsk, 1960

Um míssil lançado por um sistema de defesa aérea soviética recém-implantado atingiu o U-2. O avião caiu, e o piloto americano, Francis Gary Powers, foi capturado pelos soviéticos.

O incidente do U-2 resultou no cancelamento da próxima cúpula de Paris acabou com a emergente, ainda que prematura, esperança de uma resolução pacífica para a Guerra Fria.

Piloto Francis Gary Powers em julgamento por espionagem, 1960

Curiosamente, o programa de balões de espionagem dos EUA beneficiou os soviéticos de maneira incomum. Ao examinar os balões tombados, os cientistas descobriram que o filme fabricado nos EUA e usado nas câmeras era capaz de suportar o impacto de altas temperaturas, além de exposição à radiação. Isso o tornou uma ferramenta ideal usada pelos soviéticos para registrar o lado oculto da Lua em 1959.

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