Por que Stálin mandou executar Tukhachevsky, o mais jovem marechal soviético?

Russia Beyond (Foto: Domínio público)
Mikhail Tukhachevsky foi um dos mais talentosos líderes e teóricos militares soviéticos. No entanto, o bigodudo ditador não gostava de suas excessivas ambições e de sua independência.

“Vamos sacudir a Rússia como um tapete sujo e depois sacudiremos o mundo inteiro! [...] Entraremos no caos e sairemos dele apenas depois de destruir completamente a civilização”, disse Mikhail Nikolaevitch Tukhachevsky (também grafado como Tukhatchévski em português), o mais ambicioso comandante e teórico militar soviético, que se tornou marechal quando tinha apenas 42 anos.

Tukhachevsky era conhecido como "o Napoleão vermelho" e "o Bonaparte soviético". Ele sonhava em transformar completamente o Exército Vermelho e levá-lo à vitória sobre o imperialismo em uma nova guerra mundial. No final das contas, porém, o marechal foi declarado “inimigo do povo” e fuzilado.

Tukhachevsky passa bandeira à divisão de cavalaria de Leningrado.

O militar Mikhail Tukhachevsky se distinguiu pela primeira vez durante a Primeira Guerra Mundial. Em apenas seis meses, ele recebeu cinco medalhas por sua coragem nas batalhas. No entanto, em fevereiro de 1915, o tenente Tukhachevsky foi feito prisioneiro na Alemanha. Ele fez cinco tentativas de escapar do cativeiro, mas só a última foi bem-sucedida.

Na Guerra Civil que logo estourou no que restava do Império Russo, Tukhachevsky escolheu o lado dos bolcheviques, mesmo sendo de origem nobre. Ele acreditava que no recém-criado Exército Vermelho teria mais perspectivas de carreira do que no Exército Branco, e não se enganou.

Membros do Conselho Militar Revolucionário da Frente Cáucaso. Terceira à esq.: Tukhachevsky.

Tukhachevsky provou ser um líder militar capaz e rapidamente ascendeu ao posto de comandante do exército. Ele derrotou os inimigos no leste e no sul do país e, na guerra contra a Polônia, em 29 de abril de 1920, foi encarregado do comando de toda a Frente Ocidental.

“Em nossas baionetas, traremos felicidade e paz para a humanidade trabalhadora. Para o oeste!", disse o comandante às suas tropas antes do início da ofensiva de julho de 1920. Em menos de um mês, o Exército Vermelho derrotou os poloneses e, atravessando rapidamente o território da Bielorrússia, alcançou as proximidades de Varsóvia. No entanto, Tukhachevsky não conseguiu acender o fogo da revolução mundial na Europa e suas tropas foram derrotadas, inesperadamente, perto das muralhas da capital polonesa.

Soldados poloneses exibem bandeiras do Exército Vermelho capturadas durante a Batalha de Varsóvia.

Após o fiasco polonês, Tukhachevsky teve que impor punições. Em março de 1921, ele reprimiu uma revolta de marinheiros contra a ditadura dos bolcheviques no Kronstadt (a principal base da Frota do Báltico). O comandante ordenou não ter misericórdia com os marinheiros, que tinham sido a principal base do poder soviético: "Sejam impiedosos com os rebeldes, executem sem nenhum arrependimento! Não façam muitos prisoneiros!".

No mesmo ano, o "Napoleão vermelho" recebeu a ordem de esmagar uma grande revolta camponesa na província de Tambov. Os destacamentos de Tukhachevsky usaram projéteis químicos para eliminar guerrilheiros nas florestas.

Exército Vermelho ataca o Kronstat em março de 1921.

Após o fim das hostilidades, Mikhail Tukhachevsky ocupou vários cargos importantes nas Forças Armadas do país: foi chefe da Academia Militar do Exército Vermelho, chefe do Estado-Maior do Exército Vermelho e primeiro vice-comissário do povo (ministro) de Defesa. Em novembro de 1935, aos 42 anos, ele se tornou o marechal mais jovem da União Soviética.

Em todas as suas posições, o líder militar considerava sua principal tarefa a preparação do Exército Vermelho para uma futura guerra mundial em grande escala. Mikhail Tukhachevsky escreveu 120 obras sobre estratégia, arte operacional, tática, educação e treinamento de tropas. Ele enviou inúmeras cartas sobre uma reforma militar ao governo da União Soviética.

Tukhachevsky na guarda de honra perto do caixão de Lenin, em Moscou, em 1924.

Tukhachevsky desenvolveu escrupulosamente uma "teoria da operação profunda", ou seja, uma série de operações militares para quebrar as defesas do inimigo em vários lugares e enviar unidades mecanizadas altamente móveis no centro do território inimigo. O papel principal em tais avanços seria desempenhado por armadas de tanques, que não eram somente um meio de apoio à infantaria para o “Bonaparte soviético”.

“Deve-se ter em mente que, nas condições modernas de guerra, muitas vezes não é possível destruir o inimigo com uma operação”, escreveu Tukhachevsky em seu livro “Questões de estratégia moderna”. "Portanto, é necessário realizar diversas operações, uma após a outra, para acabar com o inimigo pelo menos em sua última linha de resistência, localizada onde ficam os territórios que alimentam a guerra.”

Tukhachevsky.

"No cargo de primeiro vice-comissário da Defesa, Tukhachevsky fez muito trabalho organizacional, criativo e científico”, escreveu Gueôrgui Jukov, o marechal da URSS quando da vitória na Segunda Guerra. “Quando o conheci, fiquei cativado por seu versátil conhecimento da ciência militar. Um militar profissional, inteligente e amplamente educado, ele tinha uma excelente compreensão de táticas e questões estratégicas. Ele entendia bem o papel dos diversos tipos das tropas nas guerras modernas e sabia como abordar criativamente qualquer problema."

Tukhachevsky fez muito para o desenvolvimento das então inovadoras tropas aerotransportadas, forças de defesa aérea, armas a jato, tecnologia de mísseis e aeronaves com torpedos.

Mas nem todas as propostas do marechal tiveram uma recepção positiva na liderança militar e política do país. Para muitos líderes militares, a ideia de desenvolver dezenas de tipos diferentes de tanques (tanques destruidores de artilharia, tanques de desembarque de infantaria, tanques destruidores de metralhadoras, tanques de escolta de infantaria etc.) parecia absurda.

Tukhachevsky também foi criticado por não levar em consideração as realidades sociais e econômicas do país, que naquele momento estava passando pelo processo de industrialização. Por exemplo, em 1930, Tukhachevsky defendeu a ideia de lançar a produção de 100 mil tanques por ano, algo inacreditável e irrealizável.

Comandantes soviéticos em 1935.

O principal oponente de Tukhachevsky era o comissário do povo para a Defesa, Kliment Vorochilov, que impediu a realização de dezenas de projetos dele. Tukhachevsky, por sua vez, não hesitou em acusar abertamente o chefe de ser incompetente. Os dois militares encontraram apoiadores no governo e a cisão atingiu seu auge em 1937. Stálin a resolveu da maneira mais radical.

Em 10 de maio de 1937, Mikhail Tukhachevsky foi transferido do cargo de primeiro vice-comissário de Defesa para o posto de comandante do Distrito Militar do Volga e, em 22 de maio, foi preso. Ele era acusado de preparar uma conspiração militar "fascista" no Exército Vermelho, cujo objetivo era a derrubada violenta do poder na URSS e o estabelecimento de uma ditadura militar. Após um julgamento muito rápido, em 12 de junho, o "Napoleão vermelho" foi executado por fuzilamento.

Muitos colegas e subordinados dele também foram presos e executados, entre eles, os comandantes do exército Iona Yakir e Ieronim Uborevich, o chefe da Academia Militar August Kork e muitos outros. Todos foram reabilitados na década de 1950 por falta de corpo de delito.

Kliment Vorochilov sempre foi totalmente dedicado a Stálin. Assim, no conflito com o Tukhachevsky, que era excessivamente independente, o bigodudo ditador não hesitou em apoiar o comissário da Defesa.

Tukhachevsky na estação de Varsóvia rumo a Londres em 1936.

Após a execução de Mikhail Tukhachevsky e seus apoiadores, iniciou-se no Exército Vermelho uma onda de repressões em massa que afetou dezenas de milhares de comandantes e soldados. Apenas dois dos cinco marechais da União Soviética conseguiram sobreviver ao verão de 1939.

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