Como a URSS comunista quase se tornou uma economia de livre mercado

Russia Beyond (Photo: Alexander Rodchenko; Archive photo; Public domain)
Na década de 1920, os bolcheviques introduziram brevemente a propriedade privada e o mercado de volta ao país. A nova política econômica entrou na história do país como um período vívido e ambíguo.

Após a Revolução de 1917 e a Guerra Civil na Rússia, a economia ficou praticamente destruída e o país, ameaçado de fome. As medidas brutais do comunismo de guerra geraram  descontentamento popular e manifestações antibolcheviques.

Loja privada na década de 1920

Em 1912, para enfrentar essa situação e manter sua posição no poder, os bolcheviques deram o passo inesperado de reintroduzir a iniciativa privada no âmbito de pequenas e médias empresas – no que ficou conhecido na história como Nova Política Econômica (NEP).

Em primeiro lugar, a nova política afetou o setor de alimentos. O enorme imposto sobre alimentos, que era um fardo pesado para os camponeses durante o comunismo de guerra, foi bem reduzido, e indivíduos foram autorizados a comercializar alimentos excedentes.

Em vez de receber “rações” de alimentos, as pessoas passaram a ser pagas em dinheiro com o qual podiam comprar sua própria comida. 

Também foi permitido contratar mão de obra e até criar pequenos negócios privados. No país do vitorioso comunismo, as relações de mercado passaram a ser efetivamente permitidas.

Intervalo para vinho no estúdio de um artista de vanguarda

Ao lado de lojas particulares, surgiram bares, cabarés e restaurantes. As pessoas sentiam, na época, um senso de liberdade e renascimento após a guerra sangrenta.

Restaurante comercial na era NEP

Especialmente evidente foi o impacto da era NEP na moda – não era mais vergonhoso se envolver em tal “burguesisse”, como cuidar da aparência.

Mulheres da era NEP (Lilia Brik, namorada do poeta Vladimir Maiakóvski e símbolo sexual da época, na foto à direita)

Os uniformes de trabalho foram substituídos por peças da moda: as mulheres se enfeitavam com chapéus, meias e vestidos extravagantes e, pela primeira vez, começaram a cortar o cabelo curto e fazer penteados à la Zelda Fitzgerald. Os homens também passaram a vestir ternos mais elaborados de três peças, com suspensórios.

Funcionários da Câmara de Comércio em férias nos entornos de Petrogrado (atual São Petersburgo)

Alheio ao comunismo, o espírito da era NEP também penetrou na cultura, dando continuidade às tradições da vanguarda. Artistas, designers, músicos e cineastas realizaram experimentos ousados.

Membros do grupo de propaganda de vanguarda, que se apresentavam para contar notícias aos analfabetos

A atmosfera da época da NEP em Moscou e Petrogrado (atual São Petersburgo) pode ser comparada a uma versão modesta dos loucos anos 1920 norte-americanos e de ‘O Grande Gatsby’. No início da década de 1920, as duas capitais tinham um quê de Berlim ou Paris.

No entanto, a era NEP não durou muito. A política não foi capaz de resolver os desafios econômicos que o país estava enfrentando. Em 1927, não havia comida suficiente para abastecer os trabalhadores das cidades, e os pequenos produtores e lojistas não seriam capazes de sustentar o país após a devastação da guerra civil.

Além disso, a Rússia precisava de uma rápida industrialização para resistir à ameaça de intervenção estrangeira. Sem falar da razão ideológica: muitos bolcheviques na direção do Partido estavam preocupados que o “desprezível” capitalismo voltasse a penetrar no país.

Pessoas da NEP

A preocupação com comida, diversão e acúmulo de capital passou a ser percebida como o retorno do modo de vida burguês, que contrariava a ideologia da Revolução.

Os “homens da NEP” que ficaram ricos começaram a ser percebidos como uma reencarnação de exploradores e inimigos da classe trabalhadora. “Homem da NEP” se tornou um termo tão negativo na propaganda soviética quanto “burguês”.

Caricatura de um “Homem da NEP” (esq.); cartão postal dos tempos da NEP (dir.)

O início da reversão da NEP foi a tomada à força de grãos dos camponeses em 1928. Em abril de 1929, a 16ª Conferência do Partido aprovou o plano de industrialização forçada da URSS, que implicava o fim da economia de mercado e sua total centralização. Como resultado, o Estado concentrou o controle de todos os “negócios” em suas próprias mãos.

Ilustração de um restaurante da era NEP

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