Antes da Revolução, no Império Russo, a educação das crianças era realizada principalmente dentro da família, por meio de preceptores, sem qualquer intervenção externa contrária à vontade dos pais. Mas o governo soviético mudou esse mecanismo e assumiu a responsabilidade sobre a toda a educação infantil.
Isso foi especialmente benéfico naquela sociedade, que à época estava muito dividida. Por exemplo, dentro de uma mesma família havia pessoas com visões revolucionárias e contrarrevolucionárias. E o governo soviético considerava importante dar às crianças uma visão de mundo independente da de seus pais. Além disso, como a taxa de alfabetização era muito baixa, era importante tirar as crianças daquelas condições precárias e formar novos profissionais.
Escolas na Rússia tsarista
Antes da Revolução de 1917, os pais tinham o direito de decidir se deixariam a criança estudar em casa ou a mandariam para a escola. Nas aldeias, onde havia muitas crianças, os filhos mais velhos criavam os mais novos e cuidavam deles. Além disso, desde a infância, todos eram obrigados a trabalhar no campo e cuidar do gado.
As famílias mais pobres mandavam seus filhos para trabalhar fora — como aprendiz de artesão, por exemplo —, e as condições desses pequenos aprendizes eram algo muito parecido com escravidão. Muitos desses casos são descritos nos livros de Maksim Gorki, ou no livro “Vanka” de Anton Tchekhov.
No Império Russo não havia educação escolar obrigatória. Havia muitas escolas e outras, novas, surgiam constantemente. No entanto, foram as províncias as responsáveis pela organização da educação e seus custos de manutenção.
Cada região resolvia esse problema à sua maneira, e não havia um sistema de controle unificado. Cada professor, dependendo de sua experiência e formação, decidia o que e como ensinar, sem um currículo unificado.
Da creche à escola, a rede pública de ensino
Na União Soviética, pela primeira vez na história dos russos, o governo soviético se responsabilizou e passou a cuidar do problema da educação universal das crianças. Como e em que condições a criança era criada deixou de ser assunto de família, mas de Estado. O governo queria garantir que as novas gerações tivessem valores, fossem saudáveis, educadas e capazes de trabalhar na construção do comunismo.
O governo soviético regulava a vida das crianças desde seus primeiros dias. Ou até antes, já que a URSS foi o primeiro país do mundo a conceder a licença maternidade. Por meio dela, o empregador tinha que pagar benefícios à mulher antes e depois do parto, não permitindo que ela trabalhasse, para não prejudicar a saúde da mãe ou da criança.
Depois que a criança completava 1 ou 2 meses (o período mudou em anos diversos, e no final da década de 1960 chegou a um ano), a mulher voltava ao trabalho, onde tinha uma pausa a cada três horas para alimentação. Quase todas as fábricas tinham seus próprios berçários.
A propaganda soviética começou a divulgar ativamente informações sobre como criar os bebês para serem saudáveis, quais procedimentos de higiene deviam ser realizados etc.
Depois do berçário, a partir dos três anos, as crianças iam para jardins de infância gratuitos e, a partir dos seis anos, para as escolas.
Em 1918, foi aprovada uma lei sobre educação escolar obrigatória para crianças. Os pais que não levavam os filhos à escola enfrentavam punições administrativas e até poderiam ser privados de seus direitos como genitores pelos serviços sociais.
A luta contra os sem-tetos
Após a Primeira Guerra Mundial e, principalmente, após a Guerra Civil na Rússia, muitas crianças ficaram órfãs na URSS. Oficialmente havia cerca de 7 milhões de crianças sem-teto, a maioria delas envolvidas em roubos e atividades ilegais.
O governo soviético decidiu, então, realizar uma “auditoria” de crianças sem-teto e fornecer-lhes abrigo, comida e roupas. Foi criada uma comissão especial para crianças e muitos abrigos e escolas foram abertos. Grupos operacionais pegavam as crianças nas ruas para distribuí-las entre os abrigos.
Educação comunista
Um sistema educacional soviético único foi formado no final da década de 1920. Seu principal ideólogo era Nadejda Krúpskaia, esposa de Vladimir Lênin e vice-comissária do povo (ministra) para a educação.
“A escola não deve apenas ensinar, ela tem que ser o centro da educação comunista”, escreveu Krúpskaia. "A educação deve influenciar a geração que está crescendo a fim de obter um certo tipo de pessoa."
Em 1922, Nadejda Krupskaia iniciou na URSS a criação de uma organização infantil de “pioneiros”, que surgiu a partir do movimento de escotismo russo, criado pelo último imperador russo, Nicolau 2º, em 1908.
Na verdade, a organização era política. Os jovens pioneiros eram ensinados no espírito da “lealdade à pátria soviética e internacionalismo proletário e socialista uma atitude consciente quanto ao trabalho, à propriedade pública, ao desenvolvimento da cultura espiritual e à intolerância a tudo o que é estranho ao modo de vida socialista”.
Todos os estudantes escolares a partir dos 10 anos aderiam à organização dos pioneiros. A organização também assumiu a tarefa que antes era da alçada da Igreja de ajudar a determinar padrões morais e éticos, estudar, ser honesto e respeitar os mais velhos.
O “santo padroeiro” e principal símbolo de todos os pioneiros (para além da gravata vermelha do uniforme do movimento) era Vladimir Lênin: os pioneiros marchavam com seus retratos e colocavam flores em seus monumentos. O lema dos pioneiros era "Sempre pronto!" — e isso dizia respeito a lutar pelo Partido Comunista da URSS.
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