Líderes e celebridades soviéticas que mudaram seus nomes para os padrões russos

História
EKATERINA SINELSCHIKOVA
Alterações eram possíveis apenas na URSS, mas as pessoas não as faziam apenas porque não gostavam de seus nomes ou buscavam posições sociais melhores, como também pela própria sobrevivência.

Hoje é difícil imaginar que o presidente de qualquer país use um pseudônimo, como se fosse uma estrela do show business, e faça de tudo para que seu nome verdadeiro seja esquecido para sempre. No entanto, há menos de um século, isso era rotineiro na URSS. Nomes e sobrenomes eram alterados por políticos, cientistas, atores, diretores, escritores e muitos outros. O critério para o novo “pseudônimo” ideal era ter origem russa.

Livrando-se de um sobrenome obsceno

Antes da URSS, no Império Russo, era quase impossível mudar um sobrenome hereditário. Exceções eram feitas apenas para nobres em condições especiais ou para estrangeiros que tivessem se convertido à ortodoxia: nesses casos, eles podiam mudar seus nomes e sobrenomes para outros, mais russos.

Os sobrenomes russos eram, na maioria dos casos, formados a partir de quatro princípios: a partir dos nomes de batismo (por exemplo, o sobrenome Deníssov provém do nome Denís), de apelidos (por exemplo, o sobrenome Tutchkov provém da palavra "tutchni", ou seja, "gordo"), de profissões (por exemplo, o sobrenome Kliútchnikov provém da palavra "kliútchnik", ou seja, "chaveiro") ou de nomes geográficos e topográficos.

A era soviética começou com a destruição da ordemanterior, e um dos primeiros decretos do novo governo permitia mudar os sobrenomes e, em 1924, os nomes.

O procedimento não era difícil. Para quem trabalhava na área pública e era famoso, isso era até necessário algumas vezes. Assim, por exemplo, em 1979, o primeiro cosmonauta búlgaro, Georgy Kakalov, não pôde lançado em órbita até que mudasse seu sobrenome (em russo, Kakalov causa associações grosseiras, já que "kakat" significa "cagar" em russo). Como resultado, ele voou em órbita como Georgy Ivanov.

No entanto, não apenas os portadores de sobrenomes ofensivos e indecentes queriam realizar mudanças.

Integração e ascensão ao poder

A pessoa mais famosa a mudar de sobrenome foi Ióssif Stálin. O georgiano Iossif Vissariónovitch Djugashvili (também grafado Djugachvíli, em português) tinha mais de 30 pseudônimos, sob os quais ficou conhecido nos círculos revolucionários até 1911.

Naquela época, na maioria das vezes, ele era chamado de Koba, um nome muito simbólico para a Geórgia. Koba é o equivalente georgiano do nome do rei persa Kobades, que conquistou a Geórgia Oriental no final do século 5 e fez de Tbilisi a capital por 1.500 anos. Djugashvili, obviamente, gostava desses paralelos históricos.

No entanto, o pseudônimo Koba era conveniente e compreensível apenas no Cáucaso, enquanto as ambições do revolucionário georgiano começaram a ir muito além da região.

Quando sua influência atingiu o nível federal, ele percebeu que precisava de um sobrenome diferente, mais russo. Djugashvili usou o pseudônimo Stálin pela primeira vez em janeiro de 1913, em sua obra “Marxismo e a Questão Nacional”, e, no final das contas, decidiu manter o apelido. Para os russos, a primeira associação com o nome Stálin é "stal", ou seja, "aço", em português.

Outro secretário-geral da URSS, Iúri Andropov, teve um motivo diferente para mudar seu sobrenome para um mais russo...

Escondendo as origens

Pesquisadores e biógrafos da elite soviética afirmam que o sobrenome original de Andropov, que governou a URSS entre 1982 e 1984, é Lieberman, e durante sua vida ele mudou de sobrenome pelo menos cinco vezes.

No entanto, informações oficiais sobre a origem de Andropov são secretas até hoje. Acredita-se que seu pai, Velva Lieberman, fosse um judeu polonês e Andropov fosse o sobrenome de seu segundo padrasto.

A ocultação da identidade nacional na URSS (“judeu” ou “hebreu” é considerada uma nacionalidade até hoje na Rússia) foi justificada pela política estatal. Na URSS viviam 128 nacionalidades (ou “etnias”), mas os russos eram a nação titular, o que após o fim da Segunda Guerra Mundial sempre foi enfatizado pelo governo.

Isso começou após o brinde de Stálin em uma recepção, no Kremlin, em 24 de maio de 1945, quando ele observou o papel do povo russo como uma força orientadora e o chamou de "nação mais destacada de todas as que compõem a União Soviética".

A etnia na URSS era indicada no passaporte e tinha implícita influência sobre a carreira, o acesso a recursos sociais, educacionais e científicos. Em outras palavras, se você quisesse ocupar altos cargos, um sobrenome que não fosse russo poderia ser um obstáculo.

Isso afetava especialmente os judeus soviéticos. Após a formação do Estado de Israel em 1948, os judeus passaram a ser tratados com mais desconfiança ainda (lembrando, ainda, que naquele espaço territorial eles foram vítimas de perseguição desde os tempos de Catarina, a Grande, passando ainda pelos “pogroms” do último tsar Nicolau 2°).

Na URSS, os judeus eram considerados pró-ocidentais e, de acordo com o governo soviético, isso era uma evidência de sua deslealdade à pátria soviética.

A luta contra as tendências ocidentais penetrou em todas as esferas da vida da URSS, e a perseguição foi coroada pela chamada “campanha anticosmopolita” de Stálin. Por isso, muitos intelectuais buscavam se esconder mudando de nome e sobrenome.

Entre eles, estava o líder militar soviético e almirante da frota Ivan Isakov (armênio que originalmente se chamava Hovhannes Ter-Isahakyan), a atriz Faina Ranévskaia (judia que originalmente se chamava Fanny Feldman), o ator ganhador do Prêmio Lênin Innokenti Smoktunovsky (judeu polonês, originalmente chamado Innokenti Smoktunovitch) e muitos outros.

VEJA TAMBÉM: As imagens PROIBIDAS de Stálin

Para ficar por dentro das últimas publicações, inscreva-se em nosso canal no Telegram