Relojoeiros criaram objetos com mecanismos únicos para os tsares, variando de pequenos relógios de dedo até modelos colossais e impressionantes.
O escocês Christopher Galloway, que chegou à corte de Miguel 1º em 1624 por ordem do rei Jaime, construiu um novo relógio para a Torre Spasskaia do Kremlin de Moscou. O mostrador do relógio, feito de tábuas de carvalho cobertas com tinta azul, se movia, mostrando o dia e a noite e marcando cada hora com o toque de seus sinos.
Por seu trabalho, o relojoeiro da corte recebeu vários metros de tecidos, peles de zibelina e marta, além de uma taça de prata. Considerando tudo, seu pagamento era de uma quantia bastante alta para a época, 100 rublos. Em 1851, os relojoeiros de Moscou, irmãos Ivan e Nikolai Butenop, renovaram os carrilhões da Torre Spasskaia, substituindo todas as suas engrenagens e instalando um novo mostrador de relógio com números dourados e ponteiros. Os sinos do Kremlin passaram a tocar a música dos carrilhões.
O inventor de Níjni Novgorod, Ivan Kulíbin, devia seu conhecimento de relógios à Catarina, a Grande. Em 1767, ele criou um mecanismo incomum em forma de ovo para ela. Seu trabalho era tão meticuloso que exigia novos tipos de ferramentas; para isso, Kulíbin construiu sozinho um microscópio.
O cronômetro resultante dessa empreitada, feito de prata com pontos dourados era do tamanho de um ovo de ganso. A cada hora, pequenas portas se abriam, as figuras de um anjo e dos portadores de mirra que vinham ao túmulo de Cristo começavam a se mover e era tocada uma melodia, escrita pelo próprio Kulíbin para a chegada da Imperatriz a Níjni Novgorod. Catarina, a Grande, ficou tão encantada com o presente que nomeou o talentoso inventor como chefe das oficinas mecânicas da Academia de Ciências.
O Relógio Pavão na sala do pavilhão do Museu Hermitage.
Antonio Zugaldia (CC BY 2.0)Ivan Kulíbin criou relógios incrivelmente complexos para a sua mecenas, consertou o relógio da torre do Palácio de Inverno e montou o famoso Relógio Pavão, que chegou à corte russa vindo da Inglaterra.
O relojoeiro de Iaroslavl, Lev Netchaev, nunca deixou de viver em sua cidade natal. Mas, em 1853, ele viajou para São Petersburgo para apresentar sua invenção na corte – um relógio astronômico com calendário perpétuo. O relógio não marcava apenas horas e minutos, mas também a data e o mês do ano, a hora do nascer e do pôr do sol, e a duração do dia e da noite.
Relógio astronômico.
Igor Útkin/SputnikEsse relógio também indica se o ano é bissexto. Durante o nascer e o pôr do sol, este relógio (chamado "O Regulador") tocava melodias folclóricas russas. O mecânico trabalhou neste relógio durante 14 anos. Nicolau 1° recompensou o inventor e seu relógio, envolto em uma caixa de jacarandá, foi exibido no Palácio de Inverno. Após a Revolução, foi exposto no Museu Naval Central, onde permanece até hoje.
Família Brônnikov
Domínio públicoEm 1837, Viatka estava se preparando para a visita do futuro imperador Alexandre 2°. Os melhores artesãos locais foram convidados a mostrar suas invenções em uma exposição. Um deles era Turner Semion Brônnikov, que criou para essa visita um relógio de bolso feito de diferentes tipos de madeira. O mecanismo e o mostrador do relógio eram feitos de madeira de palmeira, a mola de bambu e os ponteiros de madressilva.
A caixa externa do relógio e a embalagem feita para armazená-lo foram feitas com um tronco de bétula. O tsesarevitch (herdeiro do imperador) viu o relógio e quis comprar aquele cronômetro incomum, pagando sete rublos em prata. Depois disso, os pedidos começaram a chegar aos montes ao torneiro de Viatka, incluindo alguns do próprio tsar, para quem várias outras cópias do cronômetro foram feitas depois.
Os filhos de Brônnikov, Nikolai e Mikhail, seguiram os passos do pai – eles faziam relógios não apenas de madeira, mas também de ossos. Em 1886, a família de torneiros de Viatka apresentou um relógio ao futuro imperador Alexandre 3º.
Teatro Petrovski.
Domínio públicoO inglês Michael Maddox viveu tão intensamente na Rússia que sua vida continha acontecimentos suficientes para a vida de umas três pessoas. Ele foi convidado ao país como professor de física e matemática para o grão-príncipe Pavel Petrovitch. Mas o coração de Maddox não estava apenas nas ciências exatas: ele também era um mágico e um equilibrista e até fundou o primeiro teatro musical público em Moscou – o Teatro Petrovski. Ele também se destacou na fabricação de relógios, criando modelos de bolso e de chão.
‘Templo de Glória’.
Víktor Velikzhánin/TASSEle inventou o "Templo de Glória" especialmente para Catarina, a Grande. Literalmente tudo nesse complexo mecanismo estava ligado à imperatriz: das figuras à música. Quatro esculturas na base de mármore do relógio, simbolizando as partes do mundo, seguram uma caixa de música. Acima dela estão três colunas com águias empoleiradas no topo. No meio está um disco solar, no centro do qual está instalado um mostrador de relógio. Quatro vezes por dia, o relógio tocava um hino solene, os caixilhos da caixa de música se abriam, revelando uma cachoeira feita com tubos de vidro e chumbo que, ao girar, criavam um efeito de corrente de água. Maddox passou 13 longos anos (1793 a 1806) trabalhando nesse mecanismo incrível. Ele esperava apresentá-lo pessoalmente à Imperatriz, mas, infelizmente, ela faleceu em 1796.
Em 1815, o relojoeiro Carl Bure chegou a São Petersburgo vindo da Reval (atual Tallinn). Seu filho também trabalhava em sua empresa. Seu negócio foi tão bem-sucedido que o filho de Bure comprou uma fábrica na região Suíça de Le Locle e, vários anos depois, tornou-se avaliador do imperador no departamento de Cammer e técnico do Hermitage. No final do século XIX, os Bures eram possivelmente os relojoeiros mais populares da Rússia. Todos os anos eles forneciam repetidores e cronógrafos à corte de Alexandre III pelo preço de nada menos que 60 mil rublos. No total, a empresa forneceu aos Romanov nada menos que 12 mil relógios; muitos deles eram presenteados como prêmios por bravura, por vitórias em competições ou outras conquistas.
Alguns relógios dos Bure foram testemunhas involuntárias dos últimos dias de Nicolau II – ele levou as peças de ouro e prata desta empresa para o seu exílio em Iekaterinburg.
Um dos joalheiros russos mais famosos a trabalhar para a família do tsar também está ligado à fabricação de relógios. Quase todos os seus relógios estão relacionados aos lendários ovos de Páscoa – a empresa de Fabergé criou cerca de cinquenta dessas obras-primas, algumas com relógios dentro. Um exemplo é o pequeno relógio escondido em uma carruagem dourada puxada por um querubim; assim como no ovo encomendado por Alexandre III para a imperatriz Maria Feodorovna (essa peça está até hoje desaparecida).
Presente do Imperador Nicolau II para a Imperatriz Alexandra Feodorovna pela Páscoa de 1906. Moscou, 1904-1906.
Maxim Sinelshchikov (CC BY-SA 4.0)Na Páscoa de 1906, Nicolau II presenteou Alexandra Feodorovna com um ovo em forma da Catedral da Dormição, cercado pelas torres do Kremlin de Moscou. Em seu interior estavam escondidos um relógio de corda e uma caixa de música. A empresa também produziu relógios para lareiras. Entre os mais famosos estão uma composição monumental de prata para o aniversário de casamento de Alexandre III e da imperatriz Maria Feodorovna.
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